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Competitividade é o que mantém brasileiras no exterior

Salários pagos por clubes nacionais estão próximos dos da Europa

Anderson Fatorri
11/03/2012 | 07:00
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Foi-se o tempo em que propostas milionárias da Europa seduziam as brasileiras do handebol. Com o real valorizado e os países do Velho Continente enfrentando rigorosa crise financeira, os salários pagos por clubes nacionais estão cada vez mais próximos aos pagos por espanhóis, por exemplo. A diferença está no nível técnico dos torneios, ainda enfraquecidos no Brasil pelas frequentes exportações nos últimos anos.

Assim como aconteceu no vôlei, as brasileiras seguiram para a Europa atrás de euros. O problema é que a fonte está secando. Na Espanha - bronze no mundial de 2011, disputado no Brasil - clubes ameaçam fechar as portas. "A crise tem afetado bastante, pela falta de patrocínios e irresponsabilidade de alguns que prometeram o que não podem cumprir. Não notei isso no meu clube, mas tenho amigas que estão sobrevivendo a essa situação", contou a pivô da Seleção, Dara, que atua no espanhol Bera-Bera, provavelmente referindo-se a Deonise, que joga no Itxako.

O crescimento da modalidade no Brasil - o País conseguiu a inédita quinta posição no último mundial - também contribuiu para que se especule a volta das grandes jogadoras. Chana, melhor goleira do mundo, que atua no Randers, da Dinamarca, acertou com São Bernardo para 2013. "Acredito na repatriação, mas falta muito para o Brasil conseguir o profissionalismo necessário. Fato importante de estar na Europa são as competições e o nível dos jogos, coisas que não conseguimos no nosso continente", constatou Dara.

De fato, o handebol na Europa tem tratamento diferenciado. Os jogos recebem 7.000 torcedores em média, que pagam ingressos na casa dos R$ 15. Enquanto isso, no Brasil, a última Liga Nacional não contava nem mesmo com um site oficial para que os torcedores pudessem acompanhar tabela e classificação.

A própria confederação incentiva a ida de jogadoras para a Europa, assumindo a falta de competitividade no Brasil. Em 2011, a entidade firmou parceria com o Hypo, da Áustria, que contou com oito das 16 atletas que estiveram no mundial. Do grupo, só três atuam em clubes brasileiros.

A intenção era proporcionar às atletas duelos contra as melhores do mundo. O técnico do Brasil, o dinamarquês Morten Soubak, passou o ano acompanhando os trabalhos. "Está claro que para enfrentar mundiais e olimpíadas apenas treinar não é suficiente. São necessárias partidas com nível alto de exigência", ressaltou Dara.

A consolidação do handebol feminino no Brasil pode acontecer na Olimpíada de Londres, em julho. "Vejo próximo o sonho de uma medalha. Não prometo para não aumentar a pressão, mas posso dizer que o Brasil jamais esteve tão perto do pódio", projetou a pivô.

 

 

Assediada, joia da Metodista decide ficar

 

A instabilidade do handebol europeu tem influenciado na decisão de algumas brasileiras em aceitar as propostas vindas do Exterior. A armadora Moniky Bancilon, 21 anos, considerada uma das maiores revelações do handebol brasileiro, descarta deixar a Metodista/São Bernardo, clube que defende há cinco temporadas.

Mesmo assediada, garante que permanecerá no Brasil, ao menos até o fim do ano. "Não penso em sair agora. Prefiro esperar. Além do que, passei as duas últimas temporadas contundida (rompeu duas vezes o ligamento do joelho esquerdo) e voltei a jogar no fim do ano passado. Ainda preciso readquirir ritmo. É nisso que estou pensando nesse momento. Quero muito contribuir com a Metodista", comentou a jogadora.

Moniky foi a principal surpresa na lista do técnico dinamarquês Morten Soubak na Seleção Brasileira que disputou o Campeonato Mundial de 2011, realizado no Brasil. Na ocasião, o comandante justificou a inclusão da jogadora no grupo como oportunidade para ela aprender com as mais experientes, vislumbrando que ela seja protagonista da Seleção nos próximos anos. É grande a chance de a armadora estar no grupo que disputa os Jogos Olímpicos de Londres, em julho.

Consciente, Moniky acredita que a crise no handebol europeu, de certa forma, contribui para a evolução da modalidade no Brasil. "Acho que isso é muito bom para nós. Não vou dizer que estou feliz com essa situação, mas não posso deixar de comemorar a evolução dos clubes brasileiros, principalmente da Metodista São Bernardo", ressaltou a jogadora.

Nem mesmo a hegemonia do São Bernardo - conquistou os últimos seis títulos da Liga Nacional - desanima a jogadora. "Tenho acompanhado movimento em várias regiões para fortalecer o handebol brasileiro. Muitos atletas que passaram por dificuldades hoje estão trabalhando para revelar talentos em diversos Estados, inclusive em alguns que não possui tanta tradição, como o Maranhão. Isso é bom para todo mundo", garantiu.

Apesar de comemorar o aquecimento do mercado interno, a jogadora acredita que a repatriação das principais atletas brasileiras ainda vai demorar. "Tenho conversado com algumas amigas de Seleção Brasileira. A maioria ainda não enfrentou os problemas da crise e está feliz jogando no Exterior. Acho complicado conseguir trazê-las de volta, mas pode acontecer", enfatizou.

Apesar da aparente descrença, a jogadora já comemora a possibilidade de jogar ao lado da goleira Chana, eleita a melhor jogadora da posição no último mundial e que está deixando o Randers, da Dinamarca, para acertar com São Bernardo - a jogadora se apresenta em janeiro, assim que terminar seu contrato.

"Será excepcional se isso acontecer, mas ainda é preciso esperar ela resolver a situação contratual na Dinamarca. Vamos esperar, mas estou torcendo bastante para que a negociação dê certo e ela possa jogar pela Metodista", finaliza Moniky.

 

Modalidade terá centro de excelência em São Bernardo

A evolução do handebol brasileiro passa por São Bernardo. Aproveitando a tradição do município na modalidade, a Confederação Brasileira resolveu construir moderno centro de excelência no antigo clube da Volks. O espaço servirá de refúgio para as Seleções Brasileiras adultas e de base.

As obras estão no início, mas a previsão é que o local seja entregue no fim do ano. Serão investidos R$ 12 milhões em parceria da Confederação Brasileira com o Ministério dos Esportes. A participação de São Bernardo é apenas na cessão do terreno.

O objetivo é proporcionar aos atletas brasileiros estrutura equiparada à disponibilizada nos principais centros esportivos do mundo.

"É um passo gigantesco para nosso handebol. Os centros de treinamento facilitam muito a vida do atleta, poder treinar, comer, descansar voltar a treinar com uma estrutura adequada é fundamental para bom desempenho e melhores resultados", avaliou a capitã da Seleção Brasileira, Dara, que atualmente defende o Bera-Bera, da Espanha.

Assim que ficar pronto, o centro de excelência vai receber também a sede da Confederação Brasileira, atualmente em Aracajú (SE).

 

Dirigente cobra mais organização na Liga

Alberto Rigolo, ex-técnico da Seleção Brasileira masculina e atual coordenador técnico da Metodista/São Bernardo, acredita que a repatriação das estrelas brasileiras está mais perto do que nunca. Polêmico, o dirigente culpa os clubes pela falta de organização na Liga Nacional.

"O que nos falta é seriedade, já que muitas jogadoras decidem ir para a Europa para ganhar menos do que se estivessem em clube brasileiro. Lá, algumas atletas passam dificuldades, mas suportam pelo sonho de jogar em campeonatos valorizados", ressalta Rigolo.

O dirigente acredita que apenas atitudes mais enérgicas serão capazes de mudar o cenário do handebol brasileiro. "É inadmissível que uma equipe que pretenda disputar a Liga Nacional não consiga se organizar de forma que mande para a Confederação Brasileira a relação completa da equipe com todas as informações e fotos dos atletas. Isso é o mínimo. Para mim, quem não consegue cumprir essa exigência teria de ser eliminado da disputa", sugere.

Alberto Rigolo se defende das acusações de que só pensa na Metodista. "Queria que todos os times tivessem força e fossem organizados como nós. Isso aumentaria o nível técnico das competições e consequentemente atrairia mais patrocinadores. Nosso trabalho dá resultado porque somos sérios, priorizamos as categorias de base e não fazemos loucura. Não tem segredo nenhum ", justifica o ex-técnico da Seleção.




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