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‘Grande ABC tem de mudar cultura e valorizar Turismo’

Alex Manente acredita que o Grande ABC ainda não enxerga o Turismo como fonte de impulso econômico

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
10/07/2016 | 07:00
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Ricardo Trida


Deputado federal do PPS de São Bernardo, Alex Manente acredita que o Grande ABC ainda não enxerga o Turismo como fonte de impulso econômico e geração de renda, ainda mais em tempo de crise financeira pela qual o País atravessa.

Após trabalho como presidente da Comissão de Turismo na Câmara Federal, o popular-socialista indica cidades que conseguiram se desenvolver turisticamente, driblar os problemas de falta de receita com êxodo de empresas e hoje passam longe de dificuldades.

“Como culturalmente a sociedade não acredita no Turismo como vetor econômico, quando a gente vive crise pela qual passamos, todos os chefes de poderes procuram alternativa daquilo que a economia bate à porta. É difícil acreditar que vamos potencializar o Turismo neste momento. Porém, deixamos legado de propostas que fizemos na Comissão de Turismo”, avalia o deputado.

O parlamentar também prospecta a criação do Museu do Automóvel, desde que haja integração em várias áreas. “A indústria precisa abrir sua porta para que pessoas conheçam seu modo de produção e provoque esses visitantes a irem ao museu. Mas não pode ser só isso. Temos de ter os parques temáticos e alternativas de lazer e Turismo.

Confira abaixo entrevista na íntegra

Como o sr. avalia seu trabalho à frente da Comissão de Turismo na Câmara Federal?

Foi oportunidade muito interessante de conhecer segmento econômico que nosso País explora muito mal. O Grande ABC tem beleza natural, recursos próprios que podem ser melhor utilizados para gerar emprego e renda num momento de desaceleração da nossa economia produtiva. Se nós perdemos geração de emprego e renda por um lado, podemos recuperar pelo outro. Batalhei muito para que pudéssemos inserir o Grande ABC na rota do Turismo, inclusive como polo de eventos, para Turismo corporativo. O Turismo industrial, modelo da Alemanha na matriz da Volkswagen, é pouco explorado. Pudemos debater no Consórcio Intermunicipal esse tema, inclusive com o ministro à época, Vinicius Lages (PMDB), que esteve conosco para poder ampliar a participação do Grande ABC nesse aspecto. Na região tivemos batalha de prosseguir com os investimentos da rede hoteleira Accor em são Bernardo. Havia insegurança de investimento, mas falamos com a diretoria internacional da Accor para poder de fato dar prosseguimento ao investimento. Vistoriamos as obras e mostramos o potencial de São Bernardo para abrigar importante ramo hoteleiro, que ainda é muito inferior aos que poderíamos aproveitar. O que conseguimos de fato na Comissão de Turismo foi criar a Semana Nacional do Turismo, onde teremos, na última semana de setembro, de votar matérias específicas durante uma semana para poder potencializar o Turismo.

Quais projetos o sr. destaca na área?

Estamos num período de vigência de uma lei de minha autoria: liberamos visto de estrangeiros para nosso País para trazer divisas. O Brasil, com potencial enorme, movimenta apenas 6 milhões de turistas por ano, enquanto países como Panamá recebem 8 milhões de pessoas ao ano. Uruguai, com 3 milhões de habitantes, recebe o mesmo número de turistas ao ano. Nossas belezas naturais são enormes, mas são mal aproveitadas. Conseguimos aprovar a Lei de Incentivo ao Turismo. Fui relator, modifiquei e virou de minha autoria. Baseamos na Lei Rouanet. A Lei Rouanet pode ser melhor aproveitada com engajamento da Cultura no Turismo. A Bahia, que tem capacidade cultural quase inigualável no mundo, poderia usar esse receptivo turístico com a capilaridade cultural para atrair investidores, fomentar emprego e renda. Conseguimos também aprovar o turismo rural, que pode ser aproveitado na Serra do Mar. É o reconhecimento oficial do turismo rural.

Seu trabalho à frente da Comissão de Turismo pegou os governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB). O sr. acha que conseguiu avançar esse tema com alguma das gestões?

Culturalmente o Brasil menospreza o Turismo. A sociedade não reconhece o Turismo como importante vetor econômico. Precisamos criar essa cultura. A Lei de Incentivo ao Turismo pode gerar condições de mostrar que o Turismo pode sim gerar emprego e renda. Temos grande exemplo de sucesso que é a cidade de Gramado (no Rio Grande do Sul). A cidade tem 25 mil habitantes e 75% das pessoas ali vivem do Turismo. Tem PIB (Produto Interno Bruto) mais alto do que a maioria das cidades do Rio Grande do Sul. Se vocacionou para isso. Conseguiu desde o Ensino Fundamental e Ensino Médio o preparo da sua população porque aquilo era o vetor econômico da cidade. Gramado era grande polo da indústria calçadista, que se perdeu, se pulverizou. É como o Grande ABC na indústria automobilística, que se capilarizou pelo País. Gramado recebe 6 milhões de turistas por ano; é o que o Brasil recebe de turista por ano. Nosso Nordeste não tem infraestrutura qualificada. Isso prejudica muito. Investimento tem de ser integrado com Turismo, infraestrutura e capacitação de mão de obra.

O sr. acha que o Grande ABC tem áreas capazes de se tornar minipolos turísticos?

Claro que tem. Tive oportunidade de conhecer o Parque Caracol, em Canela, vizinha a Gramado. Não há nada superior do Parque Caracol em relação ao Parque Estoril em São Bernardo. A gente só não traz condições de fazer do Parque Estoril alternativa de renda e emprego. Esse Turismo começa pelo próprio Grande ABC, fazer os moradores daqui frequentarem esse local. Nossa Cidade das Crianças poderia ser referência. Tive oportunidade de conversar com diretores do Beto Carreiro World, em Penha (em Santa Catarina) e não tem nada maior ou melhor do que São Bernardo com a Cidade das Crianças. Precisamos recuperar (o potencial turístico), fazer PPPs (Parcerias Público-Privadas), trazer investimentos e atrair investidores para gerar distribuição de renda.
O calcanhar de Aquiles do Grande ABC é a rede hoteleira?
É a rede hoteleira e a modernização dos recursos naturais que temos. Acredito que precisamos de grande centro de convenções também. As pessoas fazem suas atividades no São Paulo Expo (na Capital). Precisamos buscar parcerias. O complexo da Cidade das Crianças com o Vera Cruz é grande possibilidade de ter integração de hotéis, um centro de convenções e grande parque de diversões conhecido nacionalmente.

O sr. acredita que os prefeitos da região entenderam o Turismo como alternativa para impulsionar a economia local?

Acho que sim. O problema é que tivemos a crise. Como culturalmente a sociedade não acredita no Turismo como vetor econômico, quando a gente vive crise pela qual passamos, todos os chefes de poderes procuram alternativa daquilo que a economia bate à porta. É difícil acreditar que vamos potencializar o Turismo neste momento. Porém, deixamos legado de propostas que fizemos na Comissão de Turismo, da Semana Nacional do Turismo e de práticas que precisam ocorrer com as PPPs. Não é possível fazer investimento para atrair turista com 100% de recursos públicos.

Mas essa ação precisa, antes da PPP, partir do poder público, de mostrar interesse...

Claro. Tenho expectativa que São Bernardo possa seguir modelo de Wolfsburg (na Alemanha). Temos dois exemplos de indústria automobilística no mundo: Detroit (nos Estados Unidos), que se transformou em cidade fantasma e que agora só recupera sua capacidade de geração de renda por outras metodologias de renda, e Wolfsburg, que teve inteligência de utilizar a própria indústria automobilística como polo principal vetor para ser, na Alemanha, o segundo maior destino de turistas. Carro sempre chama atenção. Wolfsburg se tornou grande polo. Temos de seguir esse exemplo. Caso contrário vamos perder perspectiva num futuro próximo.

Em São Bernardo sempre se falou em criar o Museu do Automóvel. O sr. acha viável?

Museu do Automóvel tem de ser integrado à possibilidade de conhecer as indústrias automobilísticas. Precisaria haver grande pacto. Algo sozinho não é suficiente. Museu sem política integrada não resolve o problema. A indústria precisa abrir sua porta para que pessoas conheçam seu modo de produção e provoque esses visitantes a irem ao museu. Mas não pode ser só isso. Temos de ter os parques temáticos e alternativas de lazer e Turismo.

O sr. assumiu mandato de deputado federal numa legislatura em que um pouco de tudo aconteceu. Atrapalhou ou impulsionou seu trabalho?

Tive privilégio de vivenciar esse momento. Mandato intenso e com ativa participação popular. Não acredito que deputado tenha tamanha repercussão das suas ações por conta da interação popular que ocorreu neste período. Fiz parte da Comissão Especial do Impeachment, propus medidas importantes dentro da comissão, cumpri meu papel de representar o sentimento das pessoas neste momento histórico. Além da experiência, você aprende todo dia. Vivencie um ano e meio como se fossem dez anos. Conseguimos defender bem o Grande ABC. Esse período do meu mandato foi da crise econômica. Estancou envio de recursos para nossa região. Tivemos oportunidade de brigar, de fiscalizar os investimentos e cumprimos bem nossa missão. Descobrimos a disputa entre Estado e governo federal sobre a execução da Linha 18 (Bronze) do Metrô. Jamais o Grande ABC teve alguém que falou tanto em nome da região como tive oportunidade de fazer. Citei o Grande ABC uma vez por semana, no mínimo.

O sr. já assumiu cargo de vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico. Como será o trabalho?

A expectativa é muito boa. Eu me tornei vice-presidente e acumulei a subcomissão de Mobilidade Urbana. Teremos na próxima semana reunião com ministros. Vamos falar sobre o Metrô, para verificar como o governo federal pode entrar neste tema, com possibilidade de alternativas para que o metrô saia mais rapidamente. 




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