Cultura & Lazer Titulo Pinacoteca
Passado, presente e futuro da arte

Thomaz Pacheco é novo curador da Pinacoteca
de São Bernardo e já faz planos para o espaço

Por Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
14/06/2016 | 06:41
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André Henriques/DGABC


 “Os espelhos são usados para ver o rosto. A arte, para ver a alma”. A frase é do dramaturgo irlandês George Bernard Shaw (1856-1950), mas poderia tranquilamente ser cravada em uma placa na porta da Pinacoteca de São Bernardo, fundada há 35 anos. Para comprovar que ela corresponde à atmosfera do local, basta conversar apenas dez minutos com seu fundador, João Delijaicov Filho.

Em cada quadro que enriquece as paredes do prédio localizado no Centro do município, vê-se não só a alma do artista-autor, como a de Seu João também. Ele não só deu vida ao local como ajudou a construir, ao longo de mais de três décadas, um acervo que já está em 1.380 obras de artes popular e moderna. E o curador, em um ato nobre, achou que é hora de parar. De passar o bastão e a gerência da entidade – que é quase uma ‘filha’ para ele – para uma pessoa mais jovem e bem preparada para o posto. “Vou fazer 79 anos em setembro e está na hora de parar. Não sou insubstituível. A minha preocupação sempre foi achar uma pessoa para continuar isso, um sangue novo. Estamos com 1.000 doações, conheço todos os artistas, isso tem muito a minha cara e esse acervo tem de ser renovado. Agora estou bem porque tenho uma pessoa para confiar.”


A pessoa escolhida atende pelo nome de Thomaz Pacheco, 31 anos, que assumiu em maio o cargo. O novo curador esteve por três anos à frente do primeiro espaço privado de arte contemporânea do Grande ABC, a OMA Galeria, e, por conta de sua atuação lá, foi a escolha de João para substituí-lo.


HISTÓRIA
Filho de um metalúrgico e uma arquiteta, Thomaz foi sempre incentivado pela mãe a gostar de arte. Fazia trabalhos à mão, se apaixonou pelo ofício, mas quando adulto cursou Administração. Trabalhou durante 11 anos na Volkswagen – coincidentemente igual a João antes de ser curador –, morou, neste período, na Alemanha, nos Estados Unidos e, quando voltou, começou a se incomodar com a carga de trabalho e com o ambiente corporativo. “Caiu a ficha. Estava com uma carreira ascendente, mas não era isso que eu queria. A fábrica é extremamente corrosiva, uma selva só de leões. O meu lado ‘humanas’ não batia com isso e pouco a pouco foi me sufocando.”
Para desopilar, decidiu montar um ateliê corporativo e assim nasceu a OMA. A galeria conquistou espaço, inclusive na vida de Thomaz, que deixou o cargo administrativo para se dedicar à arte.

Até que surgiu o convite para gerenciar a Pinacoteca. “Eu já estava trabalhando, como sociedade civil, no Plano Municipal de Cultura. Quando veio o convite só mudei o lado da mesa: de sociedade civil para servidor público. É uma satisfação enorme e uma super-responsabilidade também”, avalia.

PLANOS
Entre os projetos que ele pretende colocar em prática está o de expandir o alcance da Pinacoteca, com a criação de um núcleo educativo, em parceria com a Secretaria de Educação, para, entre outras coisas, formar arte-educadores e atrair público. “A absorção pela rede pública da Pinacoteca ainda é pequena. Temos 30 escolas que vêm regularmente aqui. Mas temos cerca de 200 escolas municipais. E onde estão as outras? Precisamos trazê-las para cá.”

O curador também pretende criar a Associação de Amigos da Pinacoteca, a fim de conseguir incentivos privados para fomentar o orçamento da instituição. A ajuda financeira seria essencial para fazer, por exemplo, a galeria multissensorial para receber deficientes. “A Pinacoteca é 100% acessível, mas se um deficiente visual vem aqui ele não tem experiência nenhuma, não consegue tocar nas obras.”

Ele também quer pensar o museu para além do seu tempo. Uma de suas ideias é em levar ao pé da letra a palavra contemporâneo e retomar o Salão de Arte com temas que retratem o tempo presente. “Temos de retratar o que está acontecendo. Daqui 35 anos, quando eu estiver fazendo essa reportagem, quero lembrar que em 2016 produzimos ‘isso e aquilo’ por conta do momento político. Temos de pensar neste legado. O que fazemos aqui não é para nós, é para a história.” João, pelo visto, fez a escolha certa.

Três exposições seguem até agosto

Novidade é o que não falta na Pinacoteca de São Bernardo. No sábado, foram inauguradas três exposições no espaço, que devem seguir até 6 de agosto.

Entre elas está a mostra Paisagens de São Bernardo, que conta com 35 obras de acervo que revelam o olhar de 21 artistas da cidade – Adolfo Dusi, Durval Pereira, Elvin Alves, Ênido Michelini, Iracy Nitsche, José Carvalho, Kimoto, Kuroiwa, Luis Sarasá, Armando Sérgio Marotti, Mikio, Mitsunaga, Montserrat, Moro, Navarro, Nestor Peres, Orlando Mattos, Pierino Massenzi, Rios Pinto, Santesteban e Tamura. Entre os locais retratados estão as fábricas, o Paço Municipal, a Represa Billings, o bairro do Montanhão, entre outros.

No espaço ao lado estão as obras do italiano Eugênio Prati (1889-1979), que veio para o Brasil em 1926. Ele, com quem João Delijaicov Filho esteve pessoalmente, produziu desenhos, esculturas e pinturas que retratam momentos importantes da história da arte, como modernismo e futurismo. O artista tem obras em diversos museus do País e</CW> no Exterior.

E, por fim, a exposição de Alcindo Moreira Filho, Ruídos Escritemas.

Nascido em Caconde, em São Paulo, em 1950, formou-se em Artes Plásticas em 1975 e é estudioso de arte contemporânea. Ele faz objetos mostrando o ferro e sua corrosidade, que forma artes singulares.

Pinacoteca de São Bernardo – Rua Kara, 105, Aberta de terça a sábado, das 10 às 18h e, de quinta, das 10 às 21h. Entrada gratuita.




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