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Cartão de Natal de verdade é feito de papel
Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
04/12/2005 | 08:13
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Da pena para escrita com tinta nanquim à era virtual, muita coisa mudou na comunicação entre as pessoas. Mas é curioso notar que, hoje, nem todos optam por recorrer às facilidades do computador. Preferem ainda o romantismo da escrita manual combinada com o papel, pelo menos quando a idéia é felicitar ou parabenizar as pessoas em datas especiais. Mesmo quem não se propõe a escrever à mão e postar correspondências, admite que adora recebê-las nesse formato, visto que nele sentem a dedicação e o tempo gasto por quem as enviou. A prova é que chega mais um final de ano do século 21 e, entre tantas opções eletrônicas, os adeptos da tradição não têm dúvida: para desejar feliz Natal e feliz Ano-Novo, nada substitui um cartão de papel.

Entre modalidades como e-mails, mensagens em CD-Rom e outras idéias eletrônicas, muitos adultos, adolescentes e crianças ainda preferem o bom e tradicional cartão natalino feito à base de celulose. Alguns chegam ao requinte de preparar itens artesanais exclusivíssimos, para mostrar ao amigo ou familiar o quanto a pessoa é importante e especial. Também escrevem mensagens diferentes para cada pessoa, contrariando o senso comum de que, no período corrido das festas, ser prático é o que interessa. “Gosto de preparar o cartão, usando papel manteiga, cartolina, lápis de cera. E uso técnicas como plissados no papel para deixá-lo bem bonito. Só não faço assim quando vem um ano em que tenho problemas sérios de falta de tempo. Nesse caso, vou à papelaria e compro”, conta Marlene dos Anjos Augusto Gallo, 61 anos, dona-de-casa moradora do Jardim Remanso, em Diadema, que nem cita a opção de mensagem virtual.

Engana-se quem acha que o exemplo de dona Marlene está ligado ao fato de ela pertencer à terceira idade, como ela mesma gosta de ressaltar, mencionando os netos como a causa da eventual falta de tempo no final do ano. A estudante Caroline Araújo Rodas, 12 anos, moradora do bairro Jordanópolis, em São Bernardo, não tem computador com acesso à internet em casa atualmente, mas, se tivesse, continuaria optando pelos cartõezinhos de papel. “Eu mesma gosto de fazer, com papel cartão. Recorto desenhos de revistas e colo. Escrevo do meu jeito e as minhas amigas acham legal. Só não gosto de brilhos, como purpurina”, descreve Caroline. Ela diz ainda que dá os cartões pessoalmente para “as amigas mais chegadas” e nas festinhas de amigo secreto da escola ou da família. “Mas tenho colegas que só usam a internet e nunca mandaram um cartão no papel”, observa.

Banalização – Irineu Pereira Gonzaga, 39 anos, morador de Mauá, é exemplo dos que lamentam a opção das amiguinhas de Caroline adeptas da máquina. “A internet banalizou ao extremo as relações. Eu escrevia cartas de 10 páginas à mão antes da era do computador, e fazia isso com prazer. Hoje, com todas as facilidades do teclado, jamais escrevo tanto assim. Parece impessoal. Por isso, eu havia parado de mandar cartões tempos atrás e, há três anos, voltei a enviá-los. Faço questão de escolher cada um, e meu critério é a beleza. No ano passado, só mandei cartões musicais”, opina o funcionário público do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) de Santo André que também trabalha como professor de inglês.

O critério de Irineu para escolher as pessoas que receberão os cartões é o tempo de ausência. “Mando para aqueles que não tenho tempo ou oportunidade de encontrar freqüentemente. E todos retribuem”, afirma. A curiosidade é que Irineu se descreve como um “viciado em internet”, apesar das críticas que faz quando o assunto é cartão de Natal via computador. “Mesmo que você crie uma mensagem exclusiva, só 20% das pessoas vão ler. Batem o olho e já pensam que é corrente”, acredita.

Árvore – “Adoro colocar os cartões recebidos na árvore”, diz Maria Messias, 63 anos, moradora da região central de Diadema. Apreciadora do ritual “à moda antiga”, ela conta que manda cerca de 30 cartões de papel para amigos e familiares, moradores de cidades do interior do Estado e do Grande ABC, todos os anos. Prefere os modelos vendidos por entidades beneficentes e não se importa em dizer que “nem sabe mexer na internet”.

“Também adoro enfeitar a árvore com cartões. Coloco todos – dos mais simples, como aqueles deixados pelos lixeiros, aos mais sofisticados”, afirma a católica Marlene Gallo. “Os cartões de Natal criam vínculos afetivos.”




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