D+ Titulo
Faz parte da nossa história
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
06/02/2011 | 07:16
Compartilhar notícia


Sexualidade não significa apenas sexo. "Implica em dimensões variadas, sendo mais do que o genital ou para reprodução", explica o psicólogo Oswaldo Rodrigues Júnior, do Instituto Paulista de Sexualidade. Refere-se a um conjunto de características psicológicas e comportamentais que define o sexo de uma pessoa, mas também envolve diferenças anatômicas, gênero (masculino e feminino), afetividade que cria laços com o outro, relação com o ambiente, produzindo identidades únicas. 

Falar sobre sexualidade não é simples, mas faz parte da condição humana e deve ser abordada. É essencial e sempre foi. O que mudou foi a forma como a sociedade encara a questão. O tema é tão complexo que não dá para fazer comparações com outras épocas. "Termos utilizados hoje, como a palavra gay (surgida em 1969), por exemplo, não podem ser transportados para as antigas civilizações. A sociedade e o contexto eram outros", explica Larissa Pelúcio, professora de Antropologia da Unesp. Os povos antigos usavam outros termos e formas de identificar socialmente o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Simplesmente alguns conceitos (como homossexualidade) não existiam.

Símbolos egípcios, gregos, romanos e de outras civilizações mostram a pluralidade sexual. Além disso, há indícios de que os homens das cavernas eram bissexuais. Na Grécia Antiga, carinho era comum entre homens. Já o prazer feminino não era aceito; só ao homem era permitido. A pederastia - relacionamento entre homens adultos com jovens - era incentivada. Pais acreditavam que os garotos precisavam obter experiências com os tutores. 

Há relatos de que Alexandre, o Grande (rei da Macedônia e um dos responsáveis pela difusão da cultura grega no Oriente) gostava de meninos e meninas. O filme Alexandre (2004) mostra isso e foi alvo de tentativa de censura por grupo de advogados gregos na época da estreia.

Relação com o poder - Aos poucos, a sociedade se organizou e criou códigos de conduta para tudo. "Há muito tempo e de forma recorrente, os poderes (governo e religião) empreendem tentativas de regulação sexual", descreve o historiador norte-americano Peter Stearns no livro História da Sexualidade (2009). Segundo ele, uma das primeiras ações foi o Código de Hamurabi, conjunto de leis criadas na Mesopotâmia, por volta de 1.700 a.C, pelo rei Hamurabi. Entre essas leis, uma determinava que o casamento do homem seria com uma única mulher e que só poderia tomar uma segunda esposa se a primeira fosse estéril.

A sexualidade foi construída socialmente e é uma questão de política e poder. É o Estado que legisla o assunto, como a mudança de nome dos transexuais", explica a antropóloga Larissa Pelúcio, que cita Michel Foucault. O filósofo francês tentou mostrar que a sexualidade não é natural, mas um dispositivo de controle social. "A sociedade - inclusive a medicina - transformou a homossexualidade em doença", observa a antropóloga. Só em 1973 a Associação Americana de Psiquiatria a retirou da lista de transtornos, e a decisão foi seguida pelas demais. "Mas criou-se centenas de novas nomenclaturas."

É cultural

A sexualidade também está ligada às diferenças culturais. A forma como os transexuais são tratados mostra isso. No século 14 a.C., os eunucos eram homens que tinham os testículos cortados para evitar a prática sexual. No Oriente Médio e na China, trabalhavam como guardas e serviçais dos haréns onde ficavam as esposas e concubinas reais.

Na Índia, os hijras não são considerados homens nem mulheres, são terceiro sexo. Viram hijras ainda jovens por opção, por ter intersexo (antes chamado de hermafroditismo), ou obrigados a isso. O pênis e os testículos são cortados, e os ferimentos cauterizados com ferro em brasa. Acredita-se que eles podem abençoar ou amaldiçoar nascimentos e casamentos. Fazem parte de uma casta pobre e sofrem preconceito.

E mais ...

- Foi na civilização dos hebreus que a religião passou a condenar as práticas sexuais que divergiam da heterossexualidade.

- Na década de 1920, homossexuais foram tratados com choque elétrico para curar o que era considerado doença




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;