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Cadeirantes lutam pelo direito de ir e vir
Thaís Pacheco
Olga Defavari
Daniele Torres*
07/03/2010 | 07:00
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As dificuldades com transportes, más condições das vias e falta de estrutura em espaços públicos ou privados são problemas para toda população. No entanto, para os portadores de necessidades especiais, os obstáculos tornam-se ainda maiores.

Nas escolas, a falta de re cursos encontrados pelos cadeirantes, muitas vezes, os fazem desistir ou desanimar dos estudos. Porém, há casos de pessoas que lutam por melhorias e com base nos seus direitos. O jornalista Willian Truppel, 24 anos, adquiriu uma lesão cerebral logo após seu nascimento, o que o fez perder alguns movimentos do corpo.

Cadeirante, quando estava na época escolar, ele teve dificuldades para frequentar o colégio, pois o estabelecimento não tinha todas as instalações necessárias para acolher portadores de necessidades especiais. Com todos os empecilhos, a família de Truppel resolveu recorrer à Justiça. "Decidimos entrar com ação contra a escola, que foi obrigada a se adaptar. Uma pena que, quando foi dado o veredicto, eu estava a caminho da universidade. Apesar disso, sei que a instituição se encontra em melhores condições no que diz respeito à acessibilidade para pessoas como eu", comemora o jornalista.

JUSTIÇA - Os contratempos com a falta de adaptação não ficam sujeitos somente às escolas. Nas universidades é comum se deparar com a falta de estrutura. Não é raro o caso em que somente após representações judiciais é que são implementadas as mudanças para garantir a acessibilidade.

O maior problema dos estudantes é a falta de rampas e elevadores, que, muitas vezes, dão acesso somente para alguns locais da faculdade restringindo o cadeirante do direito de ir e vir. A aluna de Nutrição, Renata Luz, 20 anos, foi pega de surpresa, quando aos 12 começou perder a sensibilidade dos membros inferiores.

Vítima de um vírus que lesionou sua medula, ela começou a utilizar a cadeira de rodas e enfrentar todos os obstáculos do portador de necessidades especiais. "Na época em que parei de andar tive muitas dificuldades, principalmente na escola. O colégio não tinha acesso nenhum."

No início, a estudante mudou para uma sala no térreo, mas ainda assim, encontrou dificuldade de locomoção. Na vida universitária, Renata não encontrou a quantidade de problemas que teve na escola. Porém, também teve de ir em busca de seus direitos para conseguir melhorias e adaptações no ambiente que frequentava.

UNIVERSITÁRIOS - Atualmente, muitas universidades estão integradas com os alunos para discutir e melhorar a vida do jovem portador de necessidade especial. É o caso da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), que em 2007 criou o Núcleo de Acessibilidade, possibilitando aos alunos maior independência no ambiente universitário, além de preparação pedagógica aos estudantes.

"A inclusão desses alunos no Ensino Superior ainda carece de atenção direcionada, que contemple as dificuldades e necessidades dos graduandos e, então, possibilite o acesso efetivo por parte desses alunos nas atividades acadêmicas", conta a coordenadora do Núcleo de Acessibilidade, Erica Garrutti.

Com a iniciativa, a USCS visa também um trabalho com a comunidade. "Mais do que possibilitar a acessibilidade física, estrutural da universidade, caminha-se no sentido do acolhimento da diversidade, trabalho pedagógico diferenciado e formação continuada da comunidade universitária", diz Erica.

O núcleo desenvolve ações como orientação aos alunos portadores de necessidades especiais, promovendo planejamento das instalações da universidade, reuniões pedagógicas e aplicações de avaliações para os alunos utilizando recursos de acessibilidade, como impressões em braille e escaneamento e digitação de matérias.

CONQUISTA - Jefferson Miguel, 33 anos, se formou em Administração em 2009 e foi um dos alunos que se beneficiaram com as atividades do núcleo. Cadeirante desde os 24 anos, ele sentiu grande diferença quando o setor começou a atuar na USCS. "Na época, com a ajuda do núcleo de acessibilidade, dos professores e dos funcionários da USCS, foi tranquilo. Eles ajudaram nas aplicações das provas e os funcionários ajudavam na locomoção dentro da faculdade."

Acidente de carro há 11 anos fez jovem mudar de profissão

O analista de comunicação Ronaldo Denardo, 35 anos, não esperava que a vida fosse mudar tanto em uma viagem comum. Em Itapira, interior de São Paulo, Ronaldo sofreu acidente de carro e fraturou a quinta e a sexta vértebras da coluna cervical. Hoje, ele vive ‘sobre rodas'.

A deficiência abriu portas para nova profissão. O técnico em eletrônica começou a estudar locução em rádio e TV, e ingressou na área da comunicação. Em plena juventude, ele reverteu a situação e percebeu que ser cadeirante não o impediria de exercer a profissão. Pelo contrário, com o trabalho, ele poderia ajudar outras pessoas da mesma condição.

Ronaldo esteve à frente, como apresentador e repórter do programa Sentidos, atração produzida pelo núcleo de TV da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), em parceria com o Canal Net Cidade.

AÇÕES SOCIAIS - Além de mostrar o dia a dia de cidadãos com deficiência, o programa traz ações sociais realizadas por pessoas comuns que não esperam somente por iniciativas do poder público.

O jovem foi ainda mais longe. Publicou um livro auto bibliográfico, Andando Sem Poder Andar, e também desenvolveu palestras para ajudar a melhorar a realidade do deficiente. Sensibilização e motivação, integração e inclusão no mercado de trabalho e prevenção de acidentes são alguns assuntos abordados por ele. "Comecei as palestras para aproximar as pessoas, pois ainda há receio dos demais ao lidar com alguém que usa a cadeira de rodas", comenta Ronaldo.

O dia a dia dele não é bem o que se pode chamar de normal, já que leva vida mais agitada e prazerosa do a maioria da população. Ronaldo sai com os amigos, namora há dois anos, gosta de se aventurar em esportes radicais e é apaixonado pelo trabalho. "Tudo o que eu fiz foi por força da profissão; me arrisquei para ser um espelho para os demais cadeirantes e superei meus próprios limites", comemora.

No ambiente de trabalho, Ronaldo tem rotina normal, como qualquer outro colega de trabalho, sendo que a empresa é adaptada e atualmente está se reestruturando para atender melhor a todas as necessidades. "As baias de trabalho estão numa altura adequada, existe rampas de acesso, banheiros apropriados e espaço para manobras e circulação de cadeiras."

*O conteúdo editorial desta página é de inteira responsabilidade da Universidade de São Caetano do Sul, com supervisão editorial dos jornalistas Eduardo Borga e Nelson Tucci, da Comunicação da USCS.




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