Economia Titulo Política monetária
Inflação acima do teto
da meta é sinal de aperto

Especialistas estendem sistema como
adequado ao País, mas sem eficiência total

Por Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
07/09/2014 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Na sexta-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a inflação oficial do País. Em agosto os preços subiram, em média, 0,25%. No acumulado de 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) chegou a 6,51%. Desta maneira, os preços estouraram a meta de inflação do governo federal, que é de 4,5% no fim de cada ano, com margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
 
Caso essa situação se mantenha até o fim de dezembro, a consequência mais provável será uma postura mais agressiva de aperto monetário do governo. E, como consequência, menos estímulo para o crescimento econômico. A única certeza é que o presidente do BC (Banco Central), Alexandre Tombini, seria obrigado a enviar carta aberta (pública) para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicando os motivos do descontrole da inflação.
 
Situações catastróficas na economia do País são descartadas pelos especialistas. A verdade é que desde 1999 o sistema econômico brasileiro conta com um termômetro, ou seja, a meta de inflação –, talvez um dos mais adequados modelos para as características do Brasil, avalia o professor de Macroeconomia e Cenários Econômicos da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contáveis, Atuariais e Financeiras) Silvio Paixão. “Qualquer sistema funciona para determinadas condicionantes. Do mesmo jeito que isso é verdade para uma peça específica de uma máquina, também é determinado para o modelo de controle de inflação do Brasil.”
 

Coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, Sandro Maskio diz que o governo, em caso de estouro da meta no fim do ano, provavelmente alteraria seus mecanismos para que os juros subissem, o crédito ficasse mais restrito e, talvez, diminuíssem os gastos públicos. “Naturalmente, também geraria um impacto (negativo) no PIB (Produto Interno Bruto).” Isso porque menos dinheiro circulando na economia, teoricamente, resfriaria a atividade econômica.

TERMÔMETRO
 
A meta de inflação foi instituída em 21 de julho de 1999 por meio de decreto. Esse sistema prevê que o governo federal controlará a corrosão da moeda por meio da política monetária de demanda. Em resumo, tirando dinheiro de circulação do País e elevando o seu custo para diminuir o consumo. Mas, desde a sua criação, o BC já enviou três cartas abertas para o Ministério da Fazenda, em 2002 (12,53%), 2003 (9,30%) e 2004 (7,60%). O cenário, no entanto, era outro. Alguns eventos tiveram grande influência na economia. Entre eles, o atentado às Torres Gêmeas nos Estados Unidos (setembro de 2001), o apagão no Brasil no mesmo ano e a mudança de governo do PSDB para o PT, em 2003, que gerou insegurança no mercado.
 
Em 2011, por exemplo, a inflação bateu no sino. O IBGE divulgou que o IPCA encerrou o ano em 6,50%. Não foi necessária a carta aberta. Mas houve o alerta de que o cenário econômico do País, no que diz respeito ao controle inflacionário, não estava bem.
 
Para Paixão, tanto naquele ano (2011) como hoje, o Brasil sofre com as consequências da crise financeira mundial. “Esse problema de 2008 afetou tanto a Europa que até agora ela não consegue andar. E os Estados Unidos aplicaram uma política muito expansionista (que interfere no caminho da economia brasileira). Mas uma coisa é fato. O controle da inflação doméstica depende em grande parte da gente (e não do mercado externo).”
 
O professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Bruno De Conti questiona a total eficiência do sistema de meta de inflação. “As regras dessa ferramenta têm o pressuposto de que a política monetária é que deve controlar a inflação e especificamente pela demanda. Fazer isso seria o mesmo que segurar os preços, que atualmente não sobem especificamente pela procura. A inflação não está vindo da demanda.”
 

Conti exemplifica seu questionamento com os preços administrados como os principais elementos da inflação de agosto. É o caso da energia elétrica e dos combustíveis, que não têm seus custos movimentados por causa da expansão do consumo, mas quando o governo decide elevá-los.

Outro ponto apresentado pelo especialista da Unicamp são os alimentos, que no começo do ano pressionaram a inflação das famílias. E neste caso, mais uma vez, a força veio da oferta, por causa dos problemas climáticos enfrentados pelos agricultores. 




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