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Quem planta amor colhe muito respeito

Projeto da Emeief Prof.Nicolau Moraes Barros ensina a dar valor ao desenvolvimento do ser humano

Por Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
05/12/2011 | 07:00
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Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas, escreveu certa vez o educador e psicanalista Rubem Alves. O mesmo pode ser dito sobre alguns professores.

É certo que, da frase, o personagem que vamos retratar deva gostar mesmo é da possibilidade de voar em bando e com vários tipos de pássaros. Todo o seu raciocínio é permeado pelo coletivo e pela diversidade. E não fica só no papo; ou na teoria, para os mais rigorosos.

No fim do ano passado, os trabalhos estavam quase terminando em toda rede municipal de Ensino de Santo André. Mas o professor Silvio Dall'Olio já tinha festejado o Natal e Ano-Novo e planejava as atividades de 2011. Escolheu trazer a Pedagogia da Terra para a sala de aula, teoria de outro educador, Moacir Gadotti. Em linhas gerais, o conceito sugere que quem sabe cuidar da terra consegue cuidar também do ser humano.

Para iniciar, Silvio plantou em copinhos plásticos sementes de girassol e as preservou embaixo de uma árvore, na quadra esportiva da Emeief Professor Nicolau Moraes Barros, na Vila Pires, em Santo André.

Silvio é formado há mais de 20 anos em Pedagogia Especial. Na Emeief é professor da sala de Atendimento Educacional Especializado e tem sob sua responsabilidade seis alunos com dificuldade intelectual e idade entre 20 e 50 anos.

PLANTANDO MILHO
Ao confrontar as duas experiências vividas na escola, decidiu mexer na terra. Em 2011, criou o projeto Plantando Milho e Colhendo Respeito na Diversidade e não teve dúvidas: colocou todos os alunos especiais como protagonistas dos trabalhos. Usou o método Paulo Freire - que não adota cartilha, mas textos dialógicos -, para ensinar a eles que o primeiro passo para fazer uma plantação de milho é trabalhar a terra com respeito.

"Depois nós fizemos buraco, colocamos três sementes, fertilizantes, tampamos e esperamos crescer", ensina um dos pupilos, Edilson Jacinto Cavalcante, 31 anos.

Os mesmos alunos viraram mestres e foram reproduzindo o que aprenderam para outros colegas. E, de dois em dois, essas pessoas com dificuldade intelectual ensinaram indiretamente aos quase 700 companheiros da escola a plantar milho e a respeitar a diversidade de comportamento em um mesmo ambiente.

"Cada professor mandava dois alunos com problema de disciplina para aprenderem a plantar com os meus especiais. Quando voltavam para suas salas, tinham de passar o que aprendiam para os colegas. Valorizei o ser humano enquanto o ‘eu posso', melhorando a convivência", conta Silvio.

"Aprendi tudo o que eles me ensinaram. Aprendi também que não posso maltratar o milho assim como não posso maltratar o meu colega", relata Naomy Matsuda Cardozo, 9 anos.


Trabalho ajuda na integração de alunos especiais

Na opinião da diretora da escola, Ana Maria Diniz Rosalini, o diferencial no trabalho de Silvio é que ele trabalha o deficiente atribuindo a ele responsabilidade de adulto. "Porque são adultos", afirma. Baseada na experiência anterior, a diretora da escola até sugeriu cercar a plantação. Mas Silvio decidiu que a área seria cercada de respeito, conhecimento e envolvimento de todos. E foi o que ocorreu.

Para provar como uma planta tem vida e pode "sentir dor", Silvio pegou fita métrica e mediu o tamanho dos pés de milho e das crianças da sala do Infantil, com idade entre 4 e 5 anos. Dias depois, todos puderam ver pelos números que a planta havia crescido. "Eles viram que a planta é um ser vivo e que o milho não vem da latinha de supermercado", brinca Silvio. Resgatar o respeito na relação entre seres humanos com os demais seres vivos foi a meta principal do trabalho.




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