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Billings respira com a pandemia

Represa sente reflexos da desaceleração da produção industrial e da diminuição no fluxo de automóveis durante a crise sanitária causada pelo novo coronavírus e apresenta água mais limpa e clara

Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
04/06/2020 | 23:55
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Celso Luiz/DGABC


Assim como Raul Seixas cantou em 1977, “a terra parou”, ou ao menos desacelerou desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus. Ao mesmo tempo em que causou prejuízos inimagináveis para a economia, deixando milhares de desempregados e a comunidade médica em alerta, a crise sanitária trouxe respiro aos rios e a diminuição dos carros nas ruas limpou a atmosfera, como há tempos não se via. Hoje, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, especialistas apontam benefícios na pureza da água que bebemos e no ar que respiramos.

Durante a pandemia, grande parte das atividades que geram impacto ambiental foi interrompida – ou reduzida –, como o volume de veículos em circulação e as máquinas das indústrias desligadas, diminuindo gases tóxicos presentes no ar. Ao mesmo tempo, o padrão de consumo também mudou. Sem dinheiro, a população passou a consumir apenas o que é necessário. O reflexo no meio ambiente foi instantâneo.

A coordenadora do curso de engenharia ambiental da Anhanguera de Santo André, Janifer Bruno de Carvalho, aponta as mudanças que aconteceram no meio ambiente com a quarentena. “Houve expressiva redução na emissão de gases e materiais particulados, poluentes associados às atividades antrópicas (em ambiente terrestre).”

A especialista cita a qualidade ambiental, que está diretamente relacionada à saúde humana, visto que a redução da emissão de poluentes se torna favorável, principalmente, para quem sofre de problemas respiratórios. Janifer também lembra o impacto na água. “Os rios ainda sofrem mais, devido ao baixo poder de diluição, comparado aos oceanos, com grande volume de água. É fundamental manter a qualidade dos nossos mananciais, visto que a água é essencial para a vida humana”, detalha.

No Grande ABC, a atenção neste momento está voltada para o braço Rio Grande da Represa Billings, reservatório que abastece 1,6 milhão de pessoas de Santo André, São Bernardo e Diadema.

A bióloga, especialista em recursos hídricos e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Ângela Marcondes, avalia que o momento é mais do que nunca de conscientização. “Em torno da represa são menos pessoas circulando, logo, menos veículos passando próximo à água e com isso vem a diminuição da poluição sonora, o que dá certo fôlego para o nosso reservatório respirar”, destaca.

Marcondes também observa que sobre a represa passam as alças do Rodoanel Mário Covas e da Via Anchieta, importantes ligações ao Interior ou ao Porto de Santos que teve flagrante diminuição de fluxo com a desaceleração das indústrias.“A diminuição da produção das empresas evita que poluentes atmosféricos que ficam no ar caiam na água e, assim, conseguimos perceber a melhora considerável da água, estão mais claras e transparente”, observa.

Janifer destaca que a análise da qualidade do reservatório é de extrema importância para a região. “Infelizmente, a área da represa está sob pressão de fatores externos, como a ocupação de seus mananciais, despejo de esgoto e poluição provenientes da ocupação urbana, além do bombeamento, em eventos de chuva, das águas poluídas do Rio Pinheiros.” A professora aponta que a recuperação ambiental é processo lento. “Devemos continuar atentos e sem afrouxar fiscalizações ambientais durante este período”, complementa.

‘O planeta está nos avisando’, avalia docente

Apesar dos estragos econômicos e para a saúde, afinal, milhares de pessoas já perderam a vida no Brasil por causa da Covid-19, a bióloga, especialista em recursos hídricos e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Marcondes, ressalta que o fato do isolamento físico manter pessoas em casa – para conter a proliferação do vírus – contribui de maneira positiva para diversas questões, porém, o aviso da flexibilização da quarentena já prevê insegurança de como será quando a pandemia acabar.

“Acredito que isso seja para todos nós aproveitarmos para mudarmos nossas atitudes e repensar no futuro, como se o planeta nos dissesse ‘estou dando uma chance’. É um olhar de esperança para os próximos dias, pois sabemos que esta quarentena um dia vai acabar”, destaca Marta.

A especialista espera que a crise traga novos hábitos aos brasileiros. “Se analisarmos as águas claras, a limpeza em praias, podemos continuar mantendo isso, levando uma sacola plástica para recolher resíduos e todas as ações que já conhecemos para colocar em prática”, comenta.

A coordenadora do curso de engenharia ambiental da Anhanguera de Santo André, Janifer Bruno de Carvalho acredita que existe redução nos impactos ambientais decorrentes das ações do ser humano sobre o meio ambiente, no entanto, ressalta que “após o período de quarentena, com a normalização das atividades essenciais para a saúde econômica do País, a emissão dos gases também retornará aos índices abusivos”, lamentando que não exista equilíbrio entre o desenvolvimento e a conservação ambiental.

“Os órgãos ambientais consultivos, deliberativos e executivos, estaduais e federais, que atuam para controlar estes índices (de poluentes) terão papel fundamental nesta transição (da quarentena para o novo normal). As legislações que abrangem nossas matrizes ambientais, da água, do ar, do solo e das florestas, devem ser aplicadas e fiscalizadas”, aconselha Janifer.

As especialistas reforçam a importância de se fiscalizar e revisar os limites de poluentes e padrões ambientais, principalmente, em empresas e indústrias que mais agridem o meio ambiente.




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