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A cada seis mortes na região, uma é por Covid

Dados relativos a abril e maio mostram alta proporção dos óbitos causados pelo coronavírus

Por Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
03/06/2020 | 23:35
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Celso Luiz/DGABC


De todas as mortes registradas no Grande ABC entre abril e maio deste ano, 17,2% foram em decorrência da Covid-19. Levantamento feito pelo Diário com informações disponibilizadas no portal da transparência do registro civil e nos boletins epidemiológicos das prefeituras da região mostra que dos 3.455 óbitos no período (por qualquer motivo), 587 foram ocasionados pela infecção do novo coronavírus em seis das sete cidades (Rio Grande da Serra não teve dados informados).

Em Diadema, por exemplo, o dado é bastante alto: 29% das mortes no período foram relativas à Covid-19, ou seja, quase três em cada dez pessoas. Porém, o município destoa dos vizinhos, que têm taxas entre 12% e 18% (veja relação completa na arte acima).

O dado não surpreende o infectologista e professor do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Fábio Leal. “Não acho que (17,2%) seja aumento que preocupe, considerando que entre abril e maio estávamos na ascendência da curva de casos. Era esperado que houvesse aumento de mortes”, ponderou. “Os números do Grande ABC não são ruins, estão dentro de situação aceitável, principalmente se considerado o cenário nacional”, emendou.

Em abril, o Grande ABC teve 1.598 mortes, sendo 165 delas pela doença, enquanto em maio a região registrou 1.857 perdas, 422 relativas ao novo coronavírus, o que mostra o crescimento de casos.

De acordo com o infectologista, a situação era prevista. “Não é surpresa, a gente sabia que estava em curva ascendente, a gente acredita que chegou em certo platô, mas não conseguiu identificar queda consistente no número de casos. Números são um pouco imprecisos, até porque não se testa tanto na região, não percebemos diminuição no número de casos. O que significa que a gente precisaria esperar um pouco mais para que esses números caiam e, assim, a gente possa, com segurança, afrouxar as questões de isolamento”, explicou o especialista.

Fábio Leal, aliás, disse acreditar em precipitação na adoção de flexibilização na quarentena, o que poderá refletir em aumento ainda maior nos índices de casos e mortes em junho. “A primeira coisa que tem de ficar clara aos dirigentes políticos é que, apesar do grande impacto econômico e social que a pandemia já tem nesses quase três meses de isolamento, este não é o melhor momento para um afrouxamento significativo, porque estamos atravessando o que acreditamos que possa ser o pico da epidemia. Portanto, estas restrições deveriam ser mantidas por pelo menos mais duas semanas para que a gente possa entender se a epidemia realmente vai começar a ter redução da transmissão e dos números de novos casos e óbitos”, posicionou-se o infectologista.

MAIS ALARMANTE
Se considerados apenas os números publicados no portal do registro civil, a região teria uma situação ainda mais complicada, com 23,6% das mortes sendo relativas ao novo coronavírus. Entretanto, os dados considerados pelos cartórios englobam todos os óbitos que têm a doença como causa confirmada ou suspeita na declaração de óbito – preenchida pelo médico no momento da morte. Em contrapartida, as prefeituras contabilizam apenas as fatalidades que têm a confirmação da Covid-19. Desta maneira, há grande diferença no número de vítimas fatais computadas pelos dois sistemas.


Baixas cresceram 23% de 2019 para 2020

O Grande ABC registrou aumento de 23% no número de óbitos entre abril e maio deste ano em comparação com o mesmo período de 2019. Foram 3.455 mortes neste bimestre, contra 2.810 no ano passado. Considerando que, de acordo com as prefeituras, a região teve 587 vítimas fatais em razão da Covid-19 neste meio tempo, a diferença (645 perdas a mais entre um ano e o outro) acaba justificada pela pandemia.

De acordo com o infectologista e professor do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Fábio Leal, este crescimento não deve ser considerado alarmante. “É interessante poder ver que os números de mortes foram semelhantes (entre os anos), com aumento discreto compatível com o fato de a gente ter a epidemia acontecendo e causando mortes além do que se poderia esperar. Não é um aumento representativo, considerando o impacto que a pandemia poderia ter na região, especialmente em municípios como São Caetano, que tem população mais idosa em comparação com o que vem acontecendo no resto do País e alguns lugares do mundo”, explicou o médico.

“Temos dados de aumento de mortalidade de 2019 para 2020 em mesmo mês, de 300%, 400%, em algumas cidades no Norte da Itália. Basta a gente olhar também o que aconteceu em Belém e Manaus, com aumento de 300% do número de enterros diários. Significa aumento de mortes nesta proporção também. Então, o Grande ABC tem se comportado de forma razoável, principalmente considerando o cenário nacional. Acho que as medidas vêm surtindo efeito, mas podem fazer mais”, complementou o especialista em doenças. 




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