Cultura & Lazer Titulo
20 anos da novela ‘Mandala’
Por Ana Clara Werneck
Da TV Press
05/10/2007 | 07:08
Compartilhar notícia


A novela Mandala trouxe para o século XX o mito da trágica peça Édipo Rei, de Sófocles. Há exatos 20 anos, estreava a polêmica adaptação da tragédia, cuja trama de Dias Gomes (1922-1999) e Marcílio Moraes abordava bissexualismo, incesto e uso de drogas.

Na trama dirigida por Ricardo Waddington, a mítica história de Édipo, Laio e Jocasta é transferida para o Rio de Janeiro de 1961. Enquanto o presidente Jânio Quadros surpreende a todos com sua renúncia, a estudante de sociologia Jocasta, vivida na primeira fase por Giulia Gam, descobre que espera um filho do rico e alienado Laio, numa participação de Taumaturgo Ferreira.

Acontece que o futuro pai consulta um guru que lhe revela que seu destino é ser morto pelo próprio filho, que se casará com Jocasta. Assim como na história grega original, o destino mostra-se inexorável.

“Foi uma novela importante na história da dramaturgia brasileira, pois abordava assuntos que eram tabus, como incesto, jogo do bicho e repressão política”, atesta Ricardo Waddington, que se lembra deste trabalho – embalado pela voz da cantora Rosana cantando o refrão “Como uma deusa...” – com carinho especial, já que foi sua primeira experiência como diretor geral desde o início de uma trama. Embora Mandala seja lembrada ainda hoje como um marco na dramaturgia, Dias Gomes teve dificuldades no princípio.

Além de problemas com o departamento de censura ainda existente no governo Sarney, a audiência começou aquém do esperado. Assim, a passagem de bastão de Dias Gomes para Marcílio Moraes, prevista no capítulo 36, ocorreu 10 capítulos antes.

Além disso, a sinopse original precisou ser alterada, tanto que a história principal, o caso de amor entre Édipo, interpretado por Felipe Camargo, e Jocasta, encarnada por Vera Fischer na segunda fase, demorou a se consumar. E acabou se limitando a um beijo.

“Tive de centrar a história na busca da mãe pelo filho perdido. Só conservei o amor de Édipo pela mãe, mas não era correspondido. Foi uma prova de fogo em minha carreira”, admite Marcílio.

Com as mudanças realizadas, a novela ganhou fôlego e atingiu bons números a partir da metade. Por causa da alteração de rumo, o coração inquieto de Jocasta bateu mais forte na maior parte do tempo pelo engraçado bicheiro Tony Carrado, que marcou a carreira de Nuno Leal Maia.

Para encontrar os trejeitos de seu personagem, o ator recorreu ao lendário contraventor Castor de Andrade que lhe deu dicas de como se vestir e falar. Mas o famoso bordão “Minha deusa”, que ele usava para se referir a Jocasta e as pérolas que soltava, como “Quem com ferro fere, com ferro sara a ferida”, nasceram por acaso. “Em uma cena, achei que o áudio estava desligado e saí falando besteiras. Quando o diretor viu, adorou!”, relembra Nuno.

Tão polêmico quanto a trama em si foi o namoro entre Felipe Camargo e Vera Fischer, iniciado na época. Isso certamente foi um dos motivos para Mandala ser ainda hoje a novela mais lembrada da carreira de ambos. “Foi o trabalho que mais me projetou. Mas, ao contrário do que dizem, o casamento com Vera me prejudicou profissionalmente. Nossa união perturbava as pessoas, havia muita inveja. Isso me criou problemas”, diz Felipe.

Na primeira fase da história, Michel Lunardo, pai de Laio, teve grande importância. O papel do rico comerciante, que morria no início da trama, era defendido por Walmor Chagas. Apesar de se considerar um homem de teatro, ele fez questão de participar do que chama de uma verdadeira “mandala à brasileira”.

“Só fiz os primeiros capítulos porque gosto de ter em mãos um personagem com início, meio e fim, como no teatro. Mas foi uma ótima experiência com o Dias Gomes”, comenta Walmor,

“Foi um processo sofrido. Parecia que os deuses queriam me punir por desafiar o maior de todos os tabus. De uma novela fadada ao fracasso, tornou-se um sucesso. É o preço da ousadia”, completa Marcílio Moraes, referindo-se à proposta arrojada de Dias Gomes.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;