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Biografia mostra o lado careta de Janis Joplin
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
11/03/2001 | 17:53
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Com todo seu jeito rebelde, Janis Joplin foi, para muitas mulheres dos anos 60, o símbolo máximo da libertação feminina. Mas essa mesma cantora que fez os homens se curvarem diante de tão poderoso talento e de tão forte personalidade, queria mesmo casar, ter filhos e morar em uma casa simples. Esse outro lado da artista é parte da rica história contada no livro 'Janis Joplin – Uma Vida. Uma Época' (Global, 376 págs., R$ 38), de Alice Echols, uma especialista em anos 60. A obra foi realizada com base em pesquisas e em cerca de 150 entrevistas, feitas pela autora ao longo de cinco anos.

Alice investiga tudo sobre Janis: desde a época em que morava com a família em Porth Arthur até seus últimos dias, passando por sua trajetória musical, seus romances, suas famosas bebedeiras e até alguns episódios vividos pela cantora que hoje assumem status de lenda.

No primeiro capítulo, Echols conta que certa vez, quando Janis era criança, sua mãe a encontrou perambulando na calçada do lado de fora da casa. E logo perguntou: “Janis, o que você está fazendo? Para onde está indo?”. A menina respondeu “Estou indo para casa, estou indo para casa”.

Era como se esse episódio deixasse antever o futuro. É que, apesar de todo o sucesso que fez depois de abandonar Porth Arthur, tudo o que ela mais parecia querer, no fundo, era voltar para casa e ser aceita, levar uma vida normal. Isso tanto faz sentido que, pouco antes de morrer, deu uma festa em sua cidade natal e mais uma vez foi rejeitada.

E nem o sucesso foi capaz de protegê-la dos ataques de insegurança. Vivia preocupada com a possibilidade de surgir uma outra voz que a superasse e ia à loucura se alguém falasse de suas espinhas no rosto, de seu cabelo ou de algum detalhe que cogitasse feiúra. Até na cama Janis chegava a perguntar se era tão boa no sexo quanto no palco.

Como quem foge de julgamentos, Janis jamais aceitou acatar qualquer regra. Para os jornalistas da época, sua sexualidade rendia um farto e ultrajante material. Como diz a autora, ela “apresentava-se como se estivesse tendo um orgasmo, xingava como um marujo e vestia-se como uma prostituta psicodélica”. E fora isso, manteve relações tanto com mulheres quanto com homens.

Mas muitas mulheres viam nela o exemplo de que era possível, sim, obter a liberdade. E assim, um exército de “filhas” de Janis eram vistas tal qual a “mãe”, com suas roupas largas, seus fartos colares e pulseiras, e com os cabelos rebeldes e soltos. A cantora ajudava a preparar o terreno para ser fincada a contracultura.

Na música, a loira com voz de negra deu uma inegável contribuição. Influenciou muita gente, embora nem sempre fosse citada. Como bem observou a cantora Debbie Harry, “as pessoas imitam Janis mesmo quando não sabem que a estão imitando”.

Todos os detalhes da vida de Janis, que são relatados no livro, dão um sabor especial na leitura. Mas o que faz de Janis Joplin – Uma Vida. Uma Época uma obra diferente das demais biografias é o fato de Alice se concentrar em contextualizar Janis e sua época.

O objetivo da autora é não só compreender Janis, mas também os anos 60, ainda tão mitificados e reduzidos a um conjunto de clichês. E com essa obra, Alice lança um desafio à visão convencional de que aquela década foi uma grande e alegre festa, baseada no lema sexo, drogas e rock’n’roll.




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