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UE e Mercosul têm agendas e interesses diferentes
Por Do Diário do Grande ABC
27/06/1999 | 14:15
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Toda a pompa e circunstância desta Cimeira, assim como as boas intençoes que figurarao na declaraçao conjunta a ser firmada segunda-feira pelos chefes de Estado e de governo do Mercosul, Chile e Uniao Européia, nao escondem o fato de que os dois blocos têm agendas diferentes - e em alguns pontos, opostas - para os próximos anos. Fortes interesses comerciais, políticos e estratégicos atraem o olhar europeu para o leste e o sul, enquanto os sul-americanos dividem suas atençoes entre os Estados Unidos e a Europa.

Entre 2000 e 2006 a Uniao Européia estará discutindo a incorporaçao de mais 12 países-membros do Leste Europeu - da Bulgária à Letônia. A UE negocia acordos de livre comércio - nos mais diversos estágios - com o Egito, a Tunísia, Marrocos, Israel, Palestina e Jordânia. Também há os acordos de preferências comerciais com os países da Asia mais afetados pela crise asiática e lançados como iniciativa para ajudá-los a recuperar-se da crise. Mesmo na América Latina, a Uniao Européia tem outras prioridades.

Depois de seis bem-sucedidas rodadas de negociaçoes, a UE e o México devem formalizar ainda este ano um acordo de livre comércio, com termos já ratificados pelo Parlamento Europeu e pelos parlamentos de vários países-membros da Uniao. O México aceitou retirar da mesa de negociaçoes a questao dos subsídios agrícolas, para acelerar a criaçao de uma área de livre comércio com os europeus.

O México é uma espécie de ponto de honra para os europeus. Sua participaçao no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) levou a UE a perder muitos negócios com o México. Atualmente 75% do comércio exterior mexicano é feito com Estados Unidos e Canadá. É uma espécie de trauma, que impulsiona a aproximaçao européia à América Latina.

Chile - Altos funcionários europeus deram a entender também que as negociaçoes com o Chile vao caminhar mais rapidamente do que com os quatro países-membros do Mercosul, embora os chilenos tenham embarcado junto com o bloco do cone sul, na chamada "passarela". O motivo é parecido: o Chile nao tem produçao agrícola do porte dos países-membros do Mercosul, e se declara satisfeito com o grau de acesso de suas frutas de exportaçao no mercado europeu.

Mesmo nas negociaçoes entre o Mercosul e a Uniao Européia, há uma polarizaçao de interesses, com os europeus buscando a liberaçao do mercado do cone sul para seus produtos industriais e sobretudo serviços, e os sul-americanos tentando derrubar as barreiras européias para seus produtos agrícolas.

O ex-secretário de Estado de Portugal para Assuntos Europeus Vitor Martins é categórico: "As prioridades 1, 2 e 3 da Uniao Européia sao os setores de serviços, serviços e serviços." Falando a empresários paulistas, no final da semana, em Sao Paulo, Martins acrescentou que "a posiçao européia está fechada nessa frente e 90% de sua atençao está e estará voltada para essas áreas na Rodada do Milênio".

De acordo com ele, a meta dos países europeus é conseguir maior abertura nos setores de telecomunicaçoes, serviços financeiros e saneamento básico (água potável e esgoto) entre outros. Depois dessas três prioridades, acrescentou Martins, vem a área de proteçao aos investimentos.

O Mercosul também tem outras prioridades, antes mesmo de fechar posiçao sobre a Area de Livre Comércio das Américas (Alca), prevista para entrar em vigor em 2005, e a zona de livre comércio com a UE. "O grande desafio do Mercosul é construir um mercado comum que puna o protecionismo, coisa que a UE nao fez", diz o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, secretário-geral do Ministério das Relaçoes Exteriores.

Sobre a questao agrícola, que aflige os países latino-americamos, principalmente os do Mercosul, Vitor Martins, que também fez parte da Comissao Européia, afirmou que a Europa terá, durante a Rodada do Milênio da Organizaçao Mundial do Comércio, "uma posiçao extremamente defensiva".

As declaraçoes de Martins apenas reforçam o que expressa o acordo de Luxemburgo, pelo qual os 15 países-membros concederam o mandato negociador à Comissao Européia: "A UE aceita liberalizar, de forma gradativa e recíproca, todo o comércio de bens e serviços, levando em conta a sensibilidade de determinados setores e de acordo com as normas da OMC." É em razao dessa "sensibilidade" - de ambos os lados - que a declaraçao conjunta nao deve mencionar os termos "área" ou "zona" de livre comércio: pelas regras da OMC, essas denominaçoes só podem ser empregadas em caso de uma relaçao "substancialmente abrangente" de produtos e serviços.




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