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Combate ao terrorismo vira atentado à privacidade
Paulo Basso Jr.
Do Diário do Grande ABC
Com Agências
05/11/2001 | 18:12
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O combate ao terrorismo proposto pelo governo norte-americano após os atentados de 11 de setembro, como já era esperado, irá afetar a Internet. Até onde os tentáculos dos governantes da Terra do Tio Sam podem ir, entretanto, é a principal dúvida que cerca os usuários e profissionais da rede mundial de computadores. A polêmica ganhou força depois que o Senado dos Estados Unidos aprovou, na semana passada, um projeto de lei que permite às agências de investigação rastrear o uso da Web – uma verdadeira pá de areia sobre os defensores da tão sonhada privacidade on-line.

A lei permite inclusive que agentes escutem conversas via telefone celular. Uma das formas de monitorar e-mails seria a utilização do Carnivore, um software desenvolvido pelo FBI que passou a ser conhecido como DCS1000 e cujo uso é questionado pela Justiça norte-americana há anos.

A principal restrição ao programa, segundo senadores em defesa da privacidade on-line, é sua capacidade de registrar toda a comunicação do provedor em que estiver instalado, e não apenas a de eventuais suspeitos.

Diretores de entidades como a Truste, que concede selos de privacidade, e a Privacy Foundation já se voltaram contra o governo dos EUA após a aprovação da lei que permite o rastreamento. “Não acho que esta seja a melhor forma de combater o terrorismo, pois, até onde sabemos, os atentados às torres gêmeas do World Trade Center e ao Pentágono foram realizados por pessoas que não se esforçaram para se esconder”, afirma o diretor de tecnologia da Privacy Foundation, Richard Smith.

Em contrapartida, alguns senadores norte-americanos defendem o monitoramento e garantem que a criptografia é uma prática utilizada pelos terroristas para se comunicar. O sistema permite que mensagens sejam escondidas sob uma imagem ou um arquivo musical, por exemplo.

Na semana passada, o New York Times publicou uma matéria em que o FBI admitiu que grupos terroristas utilizam a técnica – notícia até então considerada falsa. Apesar disso, o PGP, fabricante do mais popular software de criptografia na Internet, garante que o sistema traz mais benefícios do que danos à sociedade. Por isso, não irá suspender a comercialização do software.

A discussão em torno do combate ao terrorismo em detrimento da privacidade digital é tão grande que já chegou à Europa, onde os direitos on-line são mais antigos. “Alguns países já se declararam a favor do rastreamento às informações dos cidadãos, apesar das graves conseqüências que isso pode trazer às empresas virtuais”, afirma Simon Davies, diretor do Privacy International, grupo inglês de defesa da privacidade.

Os EUA, por sua vez, também estudam a criação da Govnet, uma rede paralela de computadores livre de hackers. Considerada inviável por alguns especialistas, a Govnet funcionaria via satélite.




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