"Não sei de nenhum outro personagem nacional que tenha percorrido o planeta com tanta aceitação". A frase do crítico de arte Jacob Klintowitz sobre Mônica, a menina que há 48 anos arrasta seu coelhinho, demonstra que a filha do ilustrador Maurício de Sousa tem vocação para ser observada com status de obra de arte. Tanto que é musa da mostra inédita e gratuita Mônica: a Criação do Personagem Brasileiro, de hoje até 24 de setembro no Espaço Cultural Citi (Av. Paulista, 1.111, São Paulo. Tel.: 4009-3000).

O espaço, que recebe trabalhos de artistas consagrados e 50 mil visitantes por mês, desta vez ganhou ar deliciosamente infantil, para despertar nostalgia. "É uma forma de comunicação de massa apoiada por elementos da arte, como desenho e pintura. Mônica e outros personagens de Maurício vivem como se fossem crianças de antigamente. Andam na contramão do que é regra dos quadrinhos no mundo hoje, que são crianças angustiadas, sem esperança e com preocupações de adultos, como competição", avalia Klintowitz, curador da mostra.

O criador, Maurício de Sousa, concorda que a graça de seus personagens é a fabulação suavizada. "Eles passam mensagem alegre, positiva e de esperança. Estão sempre brincando, conflitando e se confraternizando", diz Sousa.

A mostra revela a trajetória de Mônica em 60 obras. Da primeira tirinha a revistas lançadas em diversos países, cartazes, fotos, desenhos animados e 13 esculturas nas quais a turma posa como obras históricas. Cebolinha vira David, de Michelangelo. "Para a criança conhecer arte", diz Sousa, cujas criações estão em 120 países e mais de 30 idiomas.

Como é possível agradar a culturas tão diferentes? Maurício diz que Mônica e sua turma vivem emoções comuns a todos: "A maioria é inspirada em pessoas ou uma mistura de sensações e emoções reais. O personagem nasce humano. Identificação é a técnica da comunicação em geral."

A Mônica dos quadrinhos, inspirada na segunda filha de Maurício, ‘tornou-se humana'. Tanto que em 2007 foi eleita embaixadora pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para Criança e Adolescência), algo inédito. A personagem evolui. "Ficou menos agressiva. Quando foi criada não havia o politicamente correto."

EDUCAÇÃO

Educar é prioridade de Maurício de Sousa. "Vamos lançar 27 livros na Bienal de São Paulo (do dia 12 ao 22, no Pavilhão da Bienal). São histórias, contos, didáticos, de matemática, de primeira leitura...", diz.

Nos planos está ampliar a produção de desenhos animados para TV. "Estamos em seis países. Em 2001 pretendemos chegar a 50", prevê Sousa.