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Colecionador de brinquedos é referência no Jd.Inamar
Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
05/09/2015 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O quintal da casa do jardineiro Helenildo Domingos da Silva, 63 anos, mais conhecido com Zé Pretinho, tornou-se ponto de referência na Avenida Pirâmide, no Jardim Inamar, em Diadema. Embora o morador do local há mais de três décadas mantenha vasos de plantas ornamentais espalhados pela área, o que chama a atenção de quem passa pela via é a sua coleção de brinquedos. São bonecas, carrinhos, aviões e até mesmo uma réplica do famoso helicóptero Águia da Polícia Militar pendurados em uma cerca, que ganhou também placas de madeira com frases de efeito e nomes diversos elaborados pelo artista.

A brincadeira começou por acaso, há cerca de dez anos, lembra Zé Pretinho. “Estava dormindo quando ouvi alguém jogar um monte de brinquedos pela cerca. Não sabia o que fazer com aquilo, então, tive a ideia de pendurar na beira de casa”, explica o artista. Desde então, a coleção não parou de crescer. Tanto que ele confessa já ter perdido a conta da quantidade de itens armazenados em seu terreno. “O pessoal doa porque sabe que gosto, eu encontro no lixo e trago para cá. E também acabo dando alguns para as crianças. Algumas pessoas vêm até aqui para visitar”, diz.

Para Zé Pretinho, sua coleção de brinquedos tem um significado especial. Isso porque, quando criança, ele revela nunca ter tido nem mesmo um carrinho. “Minha família era muito pobre e eu sonhava em ter uma miniatura de calhambeque. Até que ganhei uma da filha do dono da fazenda em que a gente vivia, mas o fazendeiro achou que eu tinha roubado e expulsou a gente de lá”, conta. Emocionado e com o trauma no coração, ele se recorda ainda de que foi procurado pelo antigo patrão do pai 14 anos depois do ocorrido com um pedido de perdão. “Ele acabou morrendo dois meses depois”, lamenta.

Além dos brinquedos, o quintal do cômodo onde Zé Pretinho vive com o irmão e a cunhada é recheado de patuás. Segundo ele, a “filosofia urbana” é consequência de seu amor pelos livros. Embora tenha cursado até o 4º ano do Ensino Fundamental, o artista cita pensadores como Platão, Sócrates e Voltaire. “Se você me perguntar qual é o meu favorito, digo que é o Platão, porque ele fala sobre as coisas impossíveis. Também admiro o Martin Luther King (ativista político que se tornou um dos mais importantes defensores dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos)”, argumenta.

Entre as metas de Zé Pretinho, a ampliação da casa está em primeiro plano. No entanto, segundo ele, a crise econômica atual não ajuda. “Está bem parado de serviço de jardinagem. Moramos aqui nesse espaço há 15 anos e ainda não sobrou dinheiro para construir mais um quarto. Mas aos poucos a gente consegue ir se ajeitando do jeito que dá. O artista tem de ter humildade sempre.”

Zé Pretinho cobra em média R$ 3 por cada placa de madeira com o nome gravado com ferro em brasa. “Às vezes faço algumas exposições, recebo doações de turistas e visitantes. E assim vamos vivendo”, considera.

 

Casa de bolos se torna atração local

A percepção de que o comércio de bolos caseiros está em alta fez com que o morador do Jardim Inamar Leandro Araújo, 22 anos, levasse a novidade para o bairro, onde vive desde que nasceu, há uma semana. E o resultado do empreendedorismo do ex-estudante de Engenharia não poderia ser melhor: a recepção da loja Bolo do Forno pela comunidade chega a surpreender. Em média, são comercializadas 250 delícias por dia.

“A proposta é oferecer o famoso bolo da vovó para que as pessoas possam comer em família. E, felizmente, está dando certo”, comemora Araújo. Uma das sacadas do comerciante foi instalar sua loja em frente a um ponto de ônibus na Avenida Antônio Sylvio Cunha Bueno. “É interessante porque as pessoas descem aqui em frente na volta do trabalho, já sentem o cheirinho de bolo quentinho e compram para levar para casa e tomar café da tarde”, destaca.

O negócio beneficia parte da família de Araújo, tendo em vista que a loja já conta com 12 funcionários, sendo a maior parte seus parentes. “É bem coisa de família mesmo. Conseguimos unir uma necessidade do bairro a uma satisfação pessoal.”

O bolo mais vendido é o de mandioca, mas a variedade é grande entre as delícias: cenoura, maracujá, milho, fubá cremoso, formigueiro. O mais barato custa R$ 10. “Às vezes o pessoal até pede bolos mais confeitados para festas de aniversário, mas a nossa proposta não é essa. Quando acontece isso, indicamos uma parceira nossa aqui da vizinhança”, observa Araújo.

A estudante Letícia Passos, 17, é uma das clientes. A moradora do bairro Eldorado, ao lado, comenta que tinha de ir até o Serraria para comprar esse tipo de bolo, mas que agora sua vida foi facilitada. “É bem prático porque já está pronto e até mais barato que fazer em casa, sem falar que não precisa sujar a cozinha”, brinca. Seu favorito é o de cenoura com gotas de chocolate.

 

Comerciante destaca evolução da área

“Hoje o Inamar é um bairro de primeira linha. Temos todos os tipos de comércio, agências bancárias e até um estádio de futebol”, destaca um dos comerciantes mais antigos do local, Sebastião Moreira de Abreu, 72 anos. Segundo ele, desde que seu depósito de materiais de construção foi inaugurado, há 15 anos, a região só evoluiu: as ruas de terra e com ligações irregulares de água e esgoto ganharam asfalto e saneamento básico, além de energia elétrica regularizada.

Embora consiga enxergar os avanços no Inamar, o morador da cidade há 50 anos não poupa os gestores municipais de críticas. “Acompanhei os últimos dez mandatos de prefeitos e posso te dizer que ainda é preciso avançar em Segurança e Saúde aqui no bairro”, cobra o munícipe. Conhecido por toda a região, Abreu revela que já tentou alçar voo na carreira política por duas vezes – em 1982 e 1986 – quando foi candidato a vereador, sem sucesso. “Cheguei a ser segundo suplente, mas desde então desisti da política. Não quero mais saber. Melhor continuar a tocar meu comércio”, confessa.

Conforme Abreu, a crise econômica nacional já afeta o comércio na região. Em seu depósito, por exemplo, já é possível observar a queda de 50% nas vendas. “O Brasil vive um momento difícil de forma geral. Falta investimento, principalmente por parte do governo federal. Quando falta dinheiro, o pessoal corta as coisas supérfluas. Se apertou a situação, a pessoa deixa o plano de ampliar o barraco de lado e continua gastando com o essencial, que é comida”, analisa.

O ponto esportivo citado pelo comerciante é o Estádio Municipal do Inamar, cedido pela Prefeitura ao Esporte Clube Água Santa, clube da cidade, por 25 anos. Atualmente, o local passa por obras de ampliação e adequação que visam atender às exigências da Federação Paulista de Futebol para partidas da Série A-1 do Campeonato Paulista.  




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