A crise financeira internacional, que afetou os resultados do setor automotivo e da área agrícola, entre outros, também já se reflete na indústria química brasileira. O segmento, que produz insumos para os mais diversos ramos industriais, registrou em outubro queda de 17% nas vendas na comparação com o mês anterior e, com isso, acumula retração de 6% nos dez primeiros meses do ano. É o menor patamar dos últimos cinco anos.
A diretora técnica de Economia e Estatística da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), Fátima Giovanna Ferreira, assinala que o desempenho do mês passado também foi influenciada pela parada para manutenção da fábrica do grupo Quattor no Pólo Petroquímico do Grande ABC.
No entanto, a dirigente ressalta que a interrupção temporária das operações da Quattor - que foram retomadas no final do mês passado - já estava programada. Dessa forma, embora esse fato gere queda no indicador de produção (redução de 0,43% em outubro), o desempenho das vendas se deveu em grande parte às turbulências internacionais. "Essa foi a principal razão", afirmou.
Fátima acrescenta que o enfraquecimento da demanda e a necessidade de liquidez (ou seja, capacidade de ter recursos em dinheiro à disposição) por parte das empresas clientes prejudicaram a atividade.
O diretor da consultoria Maxiquim, Otávio Carvalho, tem avaliação semelhante. Segundo ele, já era esperado que a crise financeira nos Estados Unidos chegaria à economia real (o setor produtivo). "Há um processo de desestocagem (ou seja, as empresas reduzem seus estoques, para ter liquidez e diminuir gastos com capital de giro) nas indústrias para aguardar que a tormenta passe", disse.
A queda das vendas ocorre em um período que normalmente é o mais forte para o setor químico, as perspectivas dos especialistas para o primeiro bimestre de 2009 não são das melhores para a atividade. "Com a desestocagem, se a demanda pára, há uma combinação explosiva", disse Carvalho.
Importações contribuem para o resultado
A retração na demanda interna é atestada também pela queda nas importações de produtos químicos. A aquisição de itens do Exterior no mês passado caiu, em média, 20%, embora ainda registrem, no acumulado de janeiro a outubro, alta de 8,19% na comparação igual período do ano passado.
Por sua vez, as exportações nos dez meses deste ano apresentam queda de 5,45%, o que fez com que o déficit na balança comercial do setor alcançasse US$ 19,77 bilhões, valor 83,3% maior do que o de igual período de 2007.
MARGENS - Um dos poucos dados favoráveis no segmento é o fato de que o custo da principal matéria-prima (a nafta, que é um derivado do petróleo) registrou forte queda. Passou neste ano de cerca de US$ 1.100 a tonelada para em torno de US$ 500, enquanto os itens petroquímicos (as resinas plásticas, por exemplo) mantiveram cotação estável. Com isso, os fabricantes têm vendas fracas, mas podem melhorar suas margens de lucro.