Cultura & Lazer Titulo Poesia
Poética transcendental

Poeta andreense Zhô Bertholini comemora seus 60 anos
com o lançamento de arte postal na Livraria Alpharrabio

Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
02/03/2013 | 07:32
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Cada dia mais apropriado, pertencente ao elo com o mundo que é entremeado pela poesia, Zhô Bertholini comemora 60 anos com o lançamento de 'Propostal', arte postal que reúne alguns de seus trabalhos, dois deles inéditos.

O poeta andreense mostra a obra ao público hoje, às 10h30, na Livraria Alpharrabio, dentro da programação de 21 anos do espaço cultural.

A edição em arte postal, que pode ser enviada por correio, celebra uma prática antiga de Zhô que ele tem orgulho de manter mesmo nos tempos em que qualquer material pode ser enviado a todo canto do mundo em apenas um clique.

"Propostal é meu tráfico, sou um grande traficante de poesia, vou mandar 300, 400 desses para tudo quanto é lugar do mundo, para os amigos. É a surpresa de estar em casa e de repente receber algo pelo correio que não é boleto de cobrança, mas poesia", diz ele.

Zhô, que aprendeu a gostar de poesia por conta do rádio, tinha 8 ou 10 anos quando ouviu, no aparelho, recitarem 'Dia da Criação', de Vinicius de Moraes. Achou estranho, algo que não era música nem notícia. Mas era um estranhamento de fascínio, o que o levou a perseguir a "construção do pensamento" que era pautada pela beleza que a poesia pode lhe dar.

O trabalho em gráfica, que exerceu a partir dos 13 anos, veio moldar essa construção. "Fui me apropriando dessa extensão", explica. "Eu gosto de ver a cara, o layout. Essa ideia não só dá o sentimento e o pensamento da poesia, mas também a sua identidade, a forma com que se sustenta."

TRANSCENDÊNCIA
"Eu sempre digo para os meus amigos: ‘Olha, gente, um pouquinho de transcendência não faz mal a ninguém'", brinca Zhô, que considera que a sua atividade é um alento que passa pelo que é tortuoso e o que é belo na vida.

"Transcendência é olhar para o mundo e ver o que não vimos ainda, as coisas que não se ensinam nem aprendem, que são descobertas. No meu caso, cada uma dessas descobertas faz pintar um poema. A poesia vive independentemente de fazê-la."

Ao mesmo tempo em que há maravilhamento em seus poemas, há indignação. É o caminho do meio que ele toma, nem de muito sol e tampouco de muita chuva. "É lidar com essa ambiguidade que existe, esse bem e mal, e ver como a transformação é possível. É um exercício que as pessoas, nesses tempos de informações superfaturadas, não praticam mais. Elas só dizem ‘gosto disso' e ‘daquilo não gosto', não tem reflexão, perderam o amor e o humor verdadeiros da vida", considera.

"Em qualquer momento aprendo, tento transformar. É a ideia de transformar chumbo ou ouro, como você transformar seus problemas, necessidades e angústias se você não trabalha neles? Não é se apegar ao lado mais fácil, mandar um e-mail e acreditar que está livre."

HOJE
Aos 20 anos, logo que começou efetivamente a ser poeta, Zhô queria liberdade para fazer tudo que quisesse. Aos 40, percebeu que liberdade era fazer o que desejava e também poder não fazê-lo. Agora, aos 60, mudou de ideia. "Hoje só a liberdade não é eficiente. É preciso ter disponibilidade. Estou caminhando nessa ideia da poesia, não sinto o peso da idade. Pelo contrário, sinto que tenho cada vez mais disponibilidade."

Agora, ele está trabalhando em um material que não é prosa, mas vai além da poesia "Espero até o meio do ano publicar um livro com poemas inéditos e alguns textos", revela.

Propostal - Lançamento. Hoje, às 10h30. Na Livraria Alpharrabio - Rua Doutor Eduardo Monteiro, 151, Santo André. Tel.: 4438-4358. Grátis.




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