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Ceagesp irá mudar de local, revela Maurici

O presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), Mário Maurici de Morais (PT), afirmou que contratou a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para elaborar projeto de mudança de local da empresa, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
14/04/2014 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


O presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), Mário Maurici de Morais (PT), afirmou que contratou a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para elaborar projeto de mudança de local da empresa, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. “Enquanto não há um Rodoanel de verdade (totalmente concluído), tudo bem continuar ali. Mas à medida que tiver toda estrutura finalizada não há mais sentido gerar tipo de transtorno que a operação causa naquela região da cidade”. Em entrevista exclusiva ao Diário, o petista avaliou que esse processo deve demorar pelo menos cinco anos, período considerado semelhante para a entrega de todos os trechos da via. O entreposto está no mesmo local há 46 anos, desde a data de sua fundação. O levantamento ficará pronto em aproximadamente dois meses. O dirigente sinalizou que a proposta considerada ideal pelo departamento técnico é deslocar a estrutura para área de 3 milhões de metros quadrados próximo a uma das alças do Rodoanel. Sobre o quebra-quebra na Ceagesp, Maurici sugeriu que a violência se deu por “40, 50 pessoas” que podem ter sido influenciadas por pressão política. “Vários políticos destacados estiveram reunidos com comerciantes antes do episódio, até secretário de Estado”, frisou, sem mencionar nomes. Passado um mês da confusão, o presidente sustentou que a direção estuda implantar outro modelo de tarifa de estacionamento, sugerindo que o primeiro implementando se mostrou inviável. Ex-prefeito de Franco da Rocha, atualmente governada por seu filho, Kiko, ele descartou passar por outra disputa de cargo eletivo. “Quando vim para Santo André me despedi (da vida eleitoral)”. Ex-secretário de Governo na gestão João Avamileno (PT, 2002-2008), o petista refutou carregar sentimento de mágoa por sua demissão. “Medida não foi contra mim, tanto que quem reagiu não fui eu.”

DIÁRIO – Como se deu o quebra-quebra na Ceagesp no mês passado? Qual era o contexto do episódio e como ficou a questão da cobrança de estacionamento?

MÁRIO MAURICI DE MORAIS – A cobrança começou numa quinta-feira (dia 13 de março), um dia antes do quebra-quebra. Hoje ela não está vigorando, porque fundamentalmente não tem nem como cobrar. Os equipamentos foram todos destruídos. O entreposto São Paulo, que tem 700 mil metros quadrados e comercializa 11 mil toneladas de alimentos por dia, foi construído há 46 anos. A distância de manobra entre pavilhões, de 40 metros, era adequada, pois os caminhões tinham 5 metros de carroceria e agora possuem 22, 23 metros. É difícil a acomodação de carga e descarga. Junto a isso, o volume de veículos é muito grande, gerando congestionamento, que rapidamente ganha a (Avenida Doutor) Gastão Vidigal, a Marginal Tietê e irradiam para as rodovias dos Bandeirantes e Anhanguera, criando transtorno na região. Também tem o buzinaço de caminhões que aguardam entrar para descarregar. Esses não são os únicos problemas e não são novidades. As centrais atacadistas em geral são alocadas em locais distantes da cidade, mas com o desenvolvimento dos municípios eles vão ocupando o entorno. O que era fator de evolução vira entrave.

DIÁRIO – A empresa já apresentava outros tipos de problema interno para justificar a cobrança?

MAURICI – Sim. Existe investigação do Ministério Público do Trabalho (iniciada em 2009) pedindo para a gente tomar medidas para prevenir e coibir a prática de trabalho e prostituição infantil lá dentro. A companhia colocou placas, cartazes, mas a promotoria não considerou isso como procedimento efetivo. O que imaginamos? Criar monitoramento por câmeras, controle de acesso, tanto de veículo como de pedestres. E para financiar isso pensamos em cobrar tarifa, o que no nosso pensamento era o modo mais republicano, paga quem usa o serviço. Tem cerca de 1.000, 2.000 caminhões que ficam lá dentro todos os dias esperando outro frete para eles retornarem ao destino com o veículo cheio novamente. Nós não queremos dinheiro do estacionamento, cobrar para estacionar. Queremos o inverso: penalizar a permanência dele ali.

DIÁRIO – Quando foi aberto processo licitatório para cobrança do estacionamento?

MAURICI – Fizemos a licitação em abril de 2012 para contratar empresa que operasse dessa maneira e bancasse investimento e custeio a partir da cobrança de tarifa. Discutimos longamente com os permissionários. É situação delicada. A empresa acumulava prejuízo de R$ 75 milhões e o orçamento anual dela é de R$ 80 milhões. Há R$ 30 milhões de dívida de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) equacionada, parcelada. O restante está pago, a maioria de débito trabalhista. Tinha prejuízo operacional de R$ 1 milhão e, fundamentalmente, havia atraso na cronologia de pagamentos. Chegamos a ficar 90 dias para quitar qualquer conta. Porque, embora o mercado de São Paulo tenha movimentado US$ 6 bilhões em 2012, refletiu nos cofres da companhia só algo em torno de R$ 4 milhões. Há descompasso entre o que o negócio movimenta e o que a Ceagesp acumula. Então a maneira que encontramos foi fazer uma concessão. Se a gente contratasse o serviço não teríamos como sustentá-lo. Atualmente, a situação é completamente diferente. Não temos mais prejuízo operacional. Pelo contrário. A receita é positiva. Talvez se fôssemos fazer hoje a lógica não fosse a tarifa. Talvez fosse cobrar e ratear entre os comerciantes como tudo o que é feito lá. Agora estamos estudando modelo. Vamos manter contrato, cobrança, mas certamente não será da mesma maneira nem no mesmo peso.

DIÁRIO – A partir de quando ficará pronta análise e implantado novo modelo?

MAURICI – Assim que tiver a equação feita e os equipamentos recolocados. Não tem previsão. Por enquanto estamos mantendo a operação, mas pagando.

DIÁRIO – O sr. fala que o assunto foi amplamente discutido entre as partes envolvidos. O que justifica a confusão se era algo que, em tese, já tinham conhecimento do caso?

MAURICI – Lá não tem só comerciante e funcionário público. Existem interesses não identificáveis. É lugar de muita gente. Se notar as imagens daquele dia se vê comerciante aberto, carregador levando mercadoria, ou seja, as pessoas trabalhando. E de repente chegam 20, 30 pessoas e começam a quebrar e os outros ficam olhando. Quem são essas pessoas é difícil de saber. No ano passado tivemos 380 ocorrências policiais ali dentro. Entre elas, homicídio, encontro de cadáveres, feto na caçamba, roubo de caminhão, tráfico de entorpecente. Para quem faz esse tipo de coisa (cometer crime) interessa ter controle de entrada e saída ou monitoramento por câmeras? Os interesses se misturam.

DIÁRIO – Mas dá para se ter ideia de quem possa ser responsável? A situação foi armada por qual grupo?

MAURICI – Você instiga qualquer um a todo tipo de coisa rapidamente. No outro episódio (de confusão), há dois anos, quando lançamos o edital, tinha entidade que puxou o movimento e se responsabilizou. Desta vez não. Foi marcada manifestação na segunda-feira e o quebra-quebra aconteceu na sexta-feira. Fica difícil de entender. Falamos muito com o sindicato. A avaliação que tínhamos era que a situação estava mais pacificada. Mais de 30% dos comerciantes tinham pago cartão de acesso. Setor de pescados não tinha óbice. O estranho é que nenhum boxe fechou. Foram queimadas a gerência, fiscalização, as catracas, as câmeras e o lugar de pagamento. Foi ação bem voltada. As investigações estão correndo. A expectativa é que dessa vez tenha apuração real e as pessoas saiam da impunidade. Se qualquer medida de gestão pode ser derrubada com ação violenta de 40, 50 pessoas nós voltamos à barbárie.

DIÁRIO – Há desconfiança de ação política?

MAURICI – Tem esse corte também. Há inimigos lá dentro, inclusive, do ponto de vista da político-partidário. Vários políticos destacados estiveram reunidos com comerciantes antes, até secretário de Estado, ou seja, da oposição. Não podemos esquecer que tem esse componente. Agora, não podemos sair responsabilizando um ou outro. É complexo.

DIÁRIO – A direção da Ceagesp tem interesse trocar a localização?

MAURICI – Nós contratamos agora a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para fazer trabalho de prospecção, caracterizando a nossa operação e demanda logística que tem e gera no entorno para avaliar localização mais adequada onde não tenha tipo de transtorno. Vale lembrar que só pode fazer movimentação dessa natureza quando não tiver mais inscrito no plano nacional de desestatização, porque antes disso não pode dispor de patrimônio, ter financiamento bancário. Essa questão está quase saindo. Quando toma a decisão estratégica de mudar não se constrói e põe para operar equipamento daquela natureza em um ano. Vai demorar pelo menos cinco anos, entre tomar decisão, contratar, produzir e mudar.

DIÁRIO – Quando a Fipe foi contratada para abalizar esse levantamento?

MAURICI – Faz uns dois meses que eles estão trabalhando nisso. Já está próximo do período de entregar o material. Mais um ou dois meses eles devem me aprontar esse estudo.

DIÁRIO – Existia análise preliminar de possíveis áreas para mudança? Qual seria um local ideal para alocar um entreposto deste tamanho?

MAURICI – É difícil de dizer, porém teria de ser área de pelo menos 1,5 milhão de metros quadrados. Há divergências. O nosso diretor operacional acredita que o ideal seria de 3 milhões de metros quadrados. Isso depende do modelo de mercado que vai ser construído. O estudo da Fipe tem de dar conta não só da localização, como também do tipo de mercado adequado para a metrópole como a São Paulo de hoje.

DIÁRIO – Independentemente da concepção, é ponto pacífico que a Ceagesp necessita de outra localização?

MAURICI – É submeter a cidade a situação que ela não precisa ter. Enquanto não há um Rodoanel de verdade (totalmente concluído) tudo bem continuar ali. Mas à medida que tiver pronto, que a partir dali tem acesso a qualquer parte da metrópole, garante fluidez no abastecimento. Tendo estrutura finalizada, não tem mais sentido gerar tipo de transtorno que a operação causa naquela região da cidade. Essa é minha convicção. O tempo para projetar a construção de um entreposto meio que coincide com a conclusão do Rodoanel. O modelo que estamos propondo é de PPPs (Parceria Público-Privada). Quem vai dizer se é adequado é o Estado. Não temos ideia de custos, por enquanto.

DIÁRIO – Dá para acompanhar a gestão do prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT), e do seu filho, Kiko Celeguim (PT), chefe do Executivo de Franco da Rocha, onde o sr. governou de 1993 a 1996?

MAURICI – Os dois têm coisa em comum interessante para gestor público: a sensibilidade. Ambos olham no olho, não evitam o contato, têm diálogo, trazendo certa humanização da administração. É diferencial importante. Em casa, só falo sobre a gestão do Kiko quando ele me pergunta. Com 30 anos, ele me parece mais seguro do que eu no lugar dele. Eu tinha 31 anos quando assumi.

DIÁRIO – Como era ser homem–forte do governo João Avamileno?

MAURICI – É mais difícil ser homem-fraco. Tive muito apoio, desfrutei de relação de confiança. Vivi problemas de ser ‘estrangeiro’, dos erros que a gente comete, mas período grato. Não me lembro com rancor, com mágoa nem da minha demissão. Não foi coisa pessoal. Naquele momento, o prefeito entendeu que para dar sequência ao projeto político era fundamental minha exoneração. Claro que, quando faz ação, está sujeito a reações. Medida não foi contra mim, tanto que quem reagiu não fui eu. Foi o conjunto do governo. Compreendo a atitude que ele tomou. Mas não alimento isso. Não deixei inimigos, ninguém que eu desvie do caminho.

DIÁRIO – O sr. ainda tem pretensões de concorrer a cargo eletivo novamente?

MAURICI – Quando vim para Santo André me despedi. Não tinha como morar aqui e manter militância política em Franco da Rocha. Quando trabalhei aqui, vivi aqui, transferi título para cá, casei com nativa (Ivete Garcia, ex-vice-prefeita). Só agora que voltei o título para votar no meu filho. Pedi licença ao Grana e transferi, justificável. Ele teve meu voto só para deputado (estadual, na eleição de 2010).




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