Política Titulo Paulo Pinheiro:
Vice-prefeita quis alterar a lei para se beneficiar, revela Paulo Pinheiro
Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
13/04/2014 | 07:00
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Ari Paleta/DGABC


Prefeito de São Caetano, Paulo Pinheiro (PMDB) quebra o silêncio e abre pela primeira vez o jogo sobre o rompimento com sua vice, Lucia Dal’Mas (PMDB), que ocorreu há cerca de um ano, quando o peemedebista estava perto de completar quatro meses de gestão. Em entrevista exclusiva ao Diário, o chefe do Palácio da Cerâmica explicou que o estopim do afastamento aconteceu quando ele não atendeu a um pedido de Lucia para mudar uma lei municipal com intenção de beneficiar a própria família. De acordo com Pinheiro, o marido da vice-prefeita, o ex-vereador Marco Antonio Dal’Mas (PMDB), ocupou o cargo de ouvidor de forma irregular. Para estar no posto, a legislação exige apresentação de diploma de curso superior, o que Marco Dal’Mas não apresentou – o Paço o nomeou sem saber da exigência. Para resolver o impasse, Lucia tentou impor que o comandante do Executivo encaminhasse projeto de lei alterando as regras da Ouvidoria para manter o marido na vaga, pedido prontamente rejeitado. Pinheiro também expõe insatisfação com ex-integrantes da administração do hoje secretário paulista de Esporte, Lazer e Juventude, José Auricchio Júnior (PTB), que, segundo ele, conseguiram travar no TCE (Tribunal de Contas do Estado) 16 licitações. O peemedebista afirmou que seus opositores estão antecipando a disputa eleitoral de 2016.

DIÁRIO – O sr. implantou medidas para sanar a sensação de insegurança como o aumento do bônus pago aos GCMs na Atividade Diferenciada. Aumentar o efetivo é a fórmula para conter a criminalidade?

PINHEIRO – As pesquisas sempre indicaram que 30% da população estavam insatisfeitos com a Segurança. Não tive condição de fazer isso nos primeiros meses da minha gestão. Mas, agora, o Orçamento foi produzido por mim e tive essa oportunidade de valorizar a GCM. Vamos trazer de 15 a 20 viaturas para a corporação, fazer concurso para abrir 50 vagas de guardas-civis. Vamos chegar ao teto de 500 homens na corporação. Hoje temos em torno de 450 no efetivo. Sabemos que a GCM não tem poder de polícia, mas com as rondas ostensivas é possível identificar os delitos em flagrante e reprimir a criminalidade. Vamos reativar as bases fixas que a cidade já tem e colocar bases novas.

DIÁRIO – O sr. prometeu na campanha colocar base da GCM em cada um dos bairros. Qual o prazo para finalizar esse projeto?

PINHEIRO – Estamos padronizando as bases. Faltava contingente para atender. Com a Atividade Diferenciada, que traz guardas-civis que estavam de folga para trabalhar também, vamos ter condição de ocupar as bases 24 horas. Também vai ter a ronda ostensiva nos bairros, já que teremos novas viaturas. A Polícia Militar fará ações conjuntas com essas rondas. Uma vez por semana, pelo menos, faremos blitze na cidade com as polícias militar, civil e a GCM para averiguar suspeitos e reprimir a criminalidade.

DIÁRIO – A parceria com o Estado e aumento do efetivo da PM são reivindicações da Prefeitura. Isso será suficiente para sanar o problema?

PINHEIRO – Temos defasagem de mais ou menos 60 policiais militares na cidade. Imagine como as forças de Segurança Pública seriam mais eficientes com mais 60 homens rodando com suas viaturas. Por não ter, a gente faz o que pode com o contingente que tem. O comando da PM em São Caetano faz o máximo que pode para abaixar os índices de criminalidade. Logicamente que o aumento de usuários de drogas traz o aumento dos crimes como consequência. Temos outras ações para combater isso, como ações sociais de igrejas e entidades que orientam as pessoas a evitar o mundo das drogas.

DIÁRIO – Como o sr. avaliou a reação da população sobre o assassinato de um médico ortopedista no mês passado no bairro Santa Paula?

PINHEIRO – Em termos de latrocínios (roubo seguido de morte), a estatística está mantida até agora (zero). Já foi descoberto que o crime foi cometido por dois menores de 15 anos. Já há identificação dos nomes deles, mas ainda estão foragidos. A população que clama por segurança fez movimento com familiares na Câmara e os recebi na Prefeitura. Falei para eles que estava me organizando para conter esses crimes e já está tendo resposta positiva da população. Inclusive, nas redes sociais notamos que há esperança de que a sensação de insegurança vai diminuir. Foi caso isolado, que não é comum em São Caetano. Se fosse comum como em São Paulo, que todo dia tem crimes, o pessoal não ligaria. Vamos lutar para não ocorrer mais.

DIÁRIO – Qual foi o resultado da mudança de comando na Saúde em fevereiro (Sallum Kalil Neto deu lugar a Mário Chekin)?

PINHEIRO – Positiva. Nesta semana colocamos um tomógrafo novo. O que tinha era usado, doado do pelo Hospital Albert Einstein para o Hospital de Emergências, e só vivia em manutenção, quebrado. Na terça-feira inauguramos o centro cirúrgico de oftalmologia. Na região nem em São Paulo há centro tão completo quanto o nosso. A Saúde está vivendo novo momento. Até a demanda reprimida vai ser liquidada. Não vamos mais ter as filas de espera que tínhamos antigamente. Temos capacidade de fazer até quatro cirurgias de catarata por vez. Antes era só uma. Saúde e Segurança vão ser as marcas deste ano, logicamente sem desprezar as outras áreas. Temos de ir pela vontade da população.

DIÁRIO – O sr. também tem afirmado que existe grupo atuando para atrapalhar o andamento das licitações do governo. Qual o prejuízo dessa interferência e como sr. está combatendo esse movimento?

PINHEIRO – Desde o ano passado estamos tentando fazer reformas de escolas e não conseguimos, porque entram com ações no TCE (Tribunal de Contas do Estado) para poder impugnar as licitações. Ocorreu com os processos de compra de kits e uniformes escolares, Zona Azul, asfalto. Enfim, foram 16 concorrências prejudicadas que continuam travadas. O prejuízo é imenso. É ação política. Pessoas que faziam parte da gestão passada entram com ações para travar todas as minhas licitações. Estão interessadas em atrapalhar meu governo para poder dizer que não estou fazendo nada. Usam essa ferramenta para dizer ao povo que não estou fazendo nada. Mas eles se prejudicam, fazem com que as melhorias não ocorram na cidade. Só uma pessoa bloqueou seis certames. Estamos fazendo o que podemos. Tentamos esclarecer ao TCE, mas eles têm processo padrão. Quando nós reformulamos os editais, esse grupo entra novamente com o pedido de impugnação no mesmo edital. E nesse processo vai mais dois, três meses, e, assim, se passa um ano. Até uma vírgula errada no edital é motivo para travar a licitação. Estamos resolvendo com contratos emergenciais, são contratos limitados, que quando encerrar o processo de compras ele é rompido.

DIÁRIO – Então o sr. acredita que seu governo poderia ter avançado mais se não fossem essas ações? Acredita que essa prática permanece até o fim da sua gestão?

PINHEIRO – Sim e até se não tivesse de quitar os restos a pagar deixados por ele (Auricchio). Já paguei mais de R$ 90 milhões. Imagine esse dinheiro investido na cidade? Estaria muito melhor. Não sei se eles vão cansar. Depende da intenção deles de quererem prejudicar a população. Às vezes a consciência bate e eles param. Creio e torço para que a mente deles mude de comportamento e procurem ver que estão prejudicando mais a população, não eu. Eles só estão interessados em ter argumento no futuro de que eu não tenho boa gestão.

DIÁRIO – Acha que estão antecipando a disputa pelo Palácio da Cerâmica em 2016? Enxerga que o Auricchio será seu adversário?

PINHEIRO – No dia seguinte da derrota já começaram a disputa. Minha gestão já começou com oposição forte. Reeleição ainda não é minha preocupação. Quero fazer boa gestão e ter reconhecimento da população. Não estou pensando em quem será o adversário futuro, porque estamos focado na administração. Passando a eleição de outubro, vamos pensar politicamente em 2015. Quero contribuir com a cidade. Quero dizer por que quis ser eleito. Mas estou sendo impedido de fazer ações positivas para a cidade. No meio dos travamentos de licitações tem até a de armas e o fardamento dos GCMs. Estão em situação que falam para a gente que estão secando as roupas atrás da geladeira. Só há 16 armas sobrando. Vamos fazer o quê? É importante eles pensarem antes de tentar impugnar. Eleição já passou, agora é construir a cidade. Sou o prefeito de São Caetano, de toda a cidde, não do meu partido.

DIÁRIO – O rompimento do sr. com a vice-prefeita Lucia Dal’Mas (PMDB) está próximo de completar um ano. Passado esse tempo, o de fato ocorrreu, quais foram as razões do desentendimento?

PINHEIRO – Ela quem saiu do grupo, não fui eu quem a tireu. Ela ficou forçando a situação desde o começo da gestão, quando eu ofereci a ela a Secretaria de Educação e ela recusou. Deixei ela indicar todos os diretores de escolas, que continuam nos cargos. Ninguém teve a oportunidade que ela teve, mas ela queria mais e mais. Era melhor ela sentar na minha cadeira e governar a cidade, então. Ela queria mais comandos e liderar ações. Mas houve fato determinante para o rompimento. Nunca rebatemos as declarações dela, porque acho que é situação interna, mas agora vou falar. O marido dela (o ex-vereador Marco Antonio Dal’Mas, PMDB) era ouvidor. Só que a lei exige que para ocupar esse cargo o funcionário tenha diploma de nível superior. Mas ele não tinha. Nomeamos sem saber, depois viram que era necessário. Foi passando o tempo até que o departamento de Recursos Humanos pediu esse diploma para mim. Explicaram que estavam cobrando e ele não trazia. Encontramos com ele na Prefeitura e o caso foi explicado. Ele disse que a Lucia passaria mais tarde para conversar sobre o assunto. Achei estranho. Quando ela chegou, disse o seguinte: ‘Quero que você mande um projeto de lei para a Câmara subtraindo o artigo que exige curso superior para ser ouvidor’. Explicamos que estávamos numa siuação na Câmara em que só tínhamos três vereadores na base de sustentação. E oura: como mudaria a lei para beneficiar uma única pessoa e que ainda seria o marido da vice-prefeita? Explicamos isso para ela e dissemos que ficaria ruim para ela também. Disse que ela poderia indicar quem quisesse para substituir o ouvidor. Ela disse que não estava satisfeita e saiu da sala. Na véspera da Páscoa (de 2013) ela voltou para conversar, forçou o marido a pedir exoneração, que foi aceita. A Lucia saiu dizendo que estava rompendo comigo. A gente nunca disse nada, porque tínhamos esperança de que ela fosse se arrepender e fossemos restabelecer a relação.

DIÁRIO – Então o que a Lucia queria, na prática, era beneficiar a família dela?

PINHEIRO – Eles têm a consciência sobre certo e errado. E também a avaliação de que o melhor é ser contra o governo para poder angariar dividendos políticos. Não sei o que eles pensam. Quando é ação positiva, estão juntos, mas quando é negativo vão protestar nas redes sociais.

DIÁRIO – O sr. acredita que a oposição está municiando a vice-prefeita?

PINHEIRO – Eles se encontram, conversam. Os grupos pequenos de oposição se juntam, é natural. Ela já fala que é contra a administração, para mim ela é oposição.

DIÁRIO – Filiada ao PMDB, ela se posiciona contra a administração peemedebista. Não caberia ação de infidelidade partidária?

PINHEIRO – Caberia. Mas nós esperamos que ela tenha consciência de pedir a desfiliação, por conta dos atos que ela faz contra o partido. Não vamos fazer, porque ela está querendo isso. Quer se vitimizar.

DIÁRIO – A mudança do comando na Secretaria de Esportes, saindo o vereador Eder Xavier (PCdoB) e entrando Walter Figueira Júnior, colocou a Pasta nos trilhos?

PINHEIRO – Estamos buscando nova forma de pagar os atletas. Gostaríamos de pagar diretamente sem passar para os clubes fazerem o pagamento. O Walter é uma pessoa ponderada, que impõe respeito. Faltou (Eder) resolver o problema internamente. O tumulto que o Eder Xavier provocou foi internamente. Ele queria mudar a forma de pagamento, mas não dava para deixar o atleta três meses sem receber. Eles têm contas para pagar. Isso é assim no Brasil todo.




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