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À espera de um milagre

Famílias que vivem em áreas de risco da região se apegam à fé para enfrentar período chuvoso

Por Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
26/12/2013 | 07:00
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Apegar-se à fé e esperar que nada de ruim aconteça. É assim que moradores de áreas de risco do Grande ABC vivem durante o verão, estação iniciada no sábado. Meteorologistas apontam que a temporada será de fortes chuvas, principalmente em janeiro e fevereiro (leia abaixo). Segundo mapeamento feito pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) a pedido do Consórcio Intermunicipal, a região possui 2.228 casas em locais de maior vulnerabilidade, sendo 524 em situação de perigo extremo, com necessidade de remoção imediata. A maior parte está em Santo André, com 220, seguida por Rio Grande da Serra (146), Mauá (63), Diadema (40), Ribeirão Pires (37) e São Bernardo (18).

Na segunda-feira, o Estado anunciou que bancará 50% do auxílio-aluguel, de R$ 400, a 357 famílias, com o objetivo de viabilizar a retirada dos locais mais perigosos. As ações, no entanto, são de responsabilidade das prefeituras e não há prazo para acontecer.

“Passo muito medo aqui. Como as chuvas já mataram gente bem ao lado, fico com receio de que aconteça comigo. Não dá nem para dormir nessa época, é muita preocupação. O jeito é esperar ajuda, só não sei de quem. Entrego nas mãos de Deus. Estão esperando uma tragédia. Depois que morrer, não adianta mais, é tarde”, afirmou a aposentada Tereza Candido da Silva, 68 anos, que mora com nove pessoas à beira de um córrego que passa pelo morro do Macuco, no Jardim Zaíra, em Mauá.

A área onde a dona de casa vive foi o palco da última grande tragédia causada pelas chuvas de verão no Grande ABC. Em janeiro de 2011, quatro pessoas foram vítimas fatais de deslizamentos de terra. Na ocasião, outros dois munícipes da cidade morreram por conta das tempestades, uma no Jardim Rosina, por soterramento, e outra afogada em transbordamento do Córrego Corumbé, também no Jardim Zaíra.

Apesar do histórico ruim do morro do Macuco, alguns moradores não pensam em deixar o local. É o caso da dona de casa Terezinha Alves dos Santos, 60, que alega ter construído toda a vida no sobrado onde mora. “Como vou sair de uma casa toda estruturada como a minha para ir morar em abrigo? Pode morrer todo mundo, mas daqui não saio.”

A fé também é o que mantém esperançosa a família do pizzaiolo desempregado Waldomiro Laurindo da Silva, 38, que vive no topo do morro do Cruzado, localizado no Jardim Santo André, em Santo André, outra área a sofrer com deslizamentos. “A gente sempre tem medo de chuvas fortes. Moro aqui há sete anos e, graças a Deus, nunca passei por nada de ruim. Mas sempre há o receio. O jeito é rezar e torcer para não acontecer o pior. Sair daqui não é possível, porque não temos para onde ir.”

A dona de casa Jenifer Cordeiro dos Santos, 24, que vive à beira de morro na Vila São Pedro, em São Bernardo, já sofreu com alagamentos e vive assustada. “Já perdi todos os móveis por causa da chuva. Só montei meu lar novamente porque os vizinhos me ajudaram. Têm alguns barracos que ficam para cima de onde moro, e tenho medo de que eles caiam em cima da gente nesta época.”


Meteorologistas preveem temporais iguais ou piores aos que caíram na região no verão passado

De acordo com a previsão do tempo, o verão – que teve início no sábado e vai até o dia 20 de março – no Grande ABC será de chuvas iguais ou mais intensas do que o anterior. Em Santo André, por exemplo, estão previstos de 600 a 750 milímetros de precipitação de janeiro a março, segundo a Somar Meteorologia. No mesmo período de 2013 foram registrados 741,9 milímetros de água no município, segundo dados da Defesa Civil estadual.

A cidade foi uma das mais castigadas da região no último verão. Em fevereiro, o aposentado Edmilson Martins de Queiroz, 57 anos, morreu afogado após tentar ajudar amigos que tiveram a casa invadida pela água durante temporal no Jardim Santa Cristina. Os níveis de alerta utilizados pela Defesa Civil do município durante o programa Operação Chuva de Verão deste ano serão de 100 milímetros de chuva contínua em 72 horas – para risco de deslizamentos – e 50 milímetros de chuva abundante em uma hora – risco de inundações e alagamentos.

O que colabora para as fortes chuvas é um fenômeno comum nesta época, chamado ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul). Trata-se do encontro de ar quente e úmido da região amazônica brasileira com ar polar sobre o Centro-Sul do Brasil. Isso provoca a concentração de nuvens bastante carregadas. 




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