A maioridade chega, e com ela nova fase. Além de decidir a profissão, os garotos devem se alistar no Tiro de Guerra, órgão de formação da reserva do Exército Brasileiro. O cadastro é obrigatório (mesmo para os que moram fora do País) nos primeiros seis meses do ano em que completar 18 anos.

O alistamento é feito na JSM (Junta de Serviço Militar) mais perto de casa, entre 2 de janeiro e 30 de abril. No Grande ABC há três tiros. Do total, 100 são chamados em cada unidade. Quem mora nas demais cidades vai para São Paulo. Embora muitos não queiram ser escolhidos, não dá para negar que a experiência de um ano marca a vida de quem serve o Exército. A disciplina é a maior lição aprendida por eles. O D+ viu de perto como funciona a rotina dos recrutas.

Eles chegam às 6h de segunda a sábado, ficam por duas horas, cumprem tarefas e voltam para casa. Recebem instruções militares, têm aulas de civismo e cidadania, de armamento, de primeiros socorros, tecnologias sociais, entre outras atividades. Entre 12 e 15 dias, um é convocado para garantir a manutenção e segurança no quartel por 24 horas. Usam uniforme completo cedido pelo Exército no dia a dia e em eventos oficiais. Têm o dever de cuidar das peças, engraxar os coturnos, além de fazer a barba e raspar bem o cabelo.

Ser obediente não é escolha, é obrigação. “No começo era difícil falar ‘senhor’, dizer licença e obrigado para tudo, mas com o tempo acostumamos. Respeitar horários é outra exigência”, aponta Wassily Czar, 19 anos, que conclui suas obrigações em novembro. Lucas Nascimento, 19, confessa que vai sentir saudades, principalmente das amizades. “Formamos uma família. Somos amigos e saímos juntos.”

Mesmo não querendo servir o Tiro de Guerra, Alex de Almeida, 19, acredita que aprendeu muito. “Levarei para minha vida os ensinamentos de manter a postura, respeitar a hierarquia, ter disciplina e até de acampar e atirar.” Os três cursam faculdade, de Enfermagem, Engenharia e Psicologia, respectivamente. “A carreira militar é boa, oferece chance de crescimento e estabilidade. Vou me formar e ver o que decido”, analisa Lucas.

Ao encerrar os serviços do tiro, o jovem recebe certificado de Reservista de 2º Categoria. Em caso de guerra nos próximos cinco anos, são convocados para serem reservas dos soldados oficiais.

Como funciona o alistamento? 
Cerca de 13 mil garotos se alistam por ano nos três Tiros de Guerra do Grande ABC. Em São Bernardo está o maior contingente com, em média, 7.000 inscritos. Em Santo André são 4.800 e em São Caetano, 1.200, aproximadamente. “A triagem é feita por meio de processamento de dados e uma pré-seleção que começa aleatoriamente. Problema de saúde é uma das causas para tirar o jovem da lista”, explica o subtenente do Tiro de São Bernardo, Valmir Gasso.

Outras características que podem excluir candidatos são ele comprovar que possui dependentes, como filhos. Se for casado e apresentar certidão também pode ficar de fora do alistamento. Mas nada é garantia. “Pé chato, miopia, problemas na coluna não excluem o candidato. Tudo depende da perícia que é feita por um médico militar na avaliação”, explica Alexandre Wagner de Oliveira, subtenente que vai assumir a chefia de São Bernardo dia 26.

As mulheres estão isentas do serviço militar obrigatório na forma prevista pela Constituição. As que desejam seguir carreira na área devem prestar concurso público e ingressar nas Forças Armadas (Marinha, Aeronáutica e Exército). Mas não são todos os cargos que contratam mulheres.

SAIBA MAIS:

Exército

Missão: Contribuir para a garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais, e cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem-estar social.

Ingresso: O militar de carreira (oficial ou sargento) é aquele que ingressa no Exército mediante a aprovação em concurso público, de âmbito nacional, de acordo com a sua faixa etária e escolaridade. Há cinco instituições de ensino que preparam a pessoa para concorrer a cargos no órgão.

Informações: www.eb.mil.br

Aeronáutica

Missão: Defender a Pátria; garantir os poderes constitucionais; e garantir a lei e a ordem, por iniciativa de qualquer dos poderes constitucionais. Cabe à Aeronáutica cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma determinada pelo Presidente da República.

Ingresso: Para entrar na Aeronáutica é preciso cursar um das cinco escolas do órgão, além de preencher os requisitos exigidos, e prestar concurso público de nível nacional. No entanto, há cursos de formação para quem ainda está no Ensino Médio.

Informações: www.fab.mil.br

Marinha

Missão: Preparar e empregar o Poder Naval, a fim de contribuir para a defesa da Pátria; estar pronta para atuar na garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem; atuar em ações sob a égide de organismos internacionais e em apoio à política externa do País; e cumprir as atribuições subsidiárias previstas em Lei, com ênfase naquelas relacionadas à Autoridade Marítima, a fim de contribuir para a salvaguarda dos interesses nacionais.

Ingresso: Há oportunidades para todos os níveis escolares, desde o Ensino Fundamental até o Superior. No entanto, assim como as demais, é preciso prestar Concurso Público.

Informações: www.mar.mil.br