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Acabou o Efeito Orloff, "eu sou você amanhã": agora, o que é ruim acontece ao mesmo tempo no Brasil e na Argentina. Lá, os intelectuais...

Por Carlos Brickmann
06/03/2011 | 00:00
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Acabou o Efeito Orloff, "eu sou você amanhã": agora, o que é ruim acontece ao mesmo tempo no Brasil e na Argentina. Lá, os intelectuais pendurados nas tetas do governo da presidente Cristina Kirchner tentaram barrar a presença, numa reunião literária, do Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa. Nem disfarçaram: Vargas Llosa é "reacionário" e "crítico do governo argentino". Foi preciso que a própria presidente Cristina Kirchner mandasse a turma do cordão calar a boca para evitar que a festa literária argentina se desmoralizasse.

No Brasil, o WikiLeaks diz que, em 2006, o tucano Andréa Matarazzo garantiu que Geraldo Alckmin "pertence ao Opus Dei" - uma prelazia pessoal do papa, fundada por São Josemaría Escrivá, que valoriza, entre outras ações, retiros, palestras, até mesmo experiências de dor auto-infligida. Os meios de comunicação deram grande cobertura às palavras divulgadas pelo WikiLeaks. Matarazzo, hoje secretário do governo Alckmin, nega ter feito o comentário.

Admitamos para argumentar, entretanto, que ele tenha feito o comentário. E daí? A Opus Dei é uma organização regular, legal, faz parte da religião mais difundida no Brasil; é direito de qualquer pessoa pertencer a ela e seguir voluntariamente sua orientação. Desde que não haja tentativas de obrigá-la a seguir essa orientação, qual o problema? Por que atacar Alckmin por isso?

Pelo mesmo motivo que leva intelectuais argentinos atrelados a integrar o cordão: faça com que o poder note sua fidelidade, para que possa recompensá-la.

DANDO VIVAS A SEUS MAIORAIS

Outro ponto destacado nas declarações atribuídas a Andréa Matarazzo é que Alckmin é "católico conservador" e tem "posições de direita". Pode ser - e é assim que foi eleito. Um de seus melhores amigos é o deputado Gabriel Chalita, ligado a um movimento católico conservador, o Canção Nova, e integrante do Partido Socialista, com PT e Dilma. E que é que alguém tem a ver com sua fé?

BRIGA DE GENTE GRANDE

Marta Suplicy, do PT, vice-presidente do Senado, cassou a palavra da senadora Kátia Abreu, do DEM de Tocantins, por ter excedido o tempo previsto. Começou uma guerra feroz: as duas são boas de briga, persistentes e bravas. Marta não pode alegar que cumpriu o regimento: quando o petista Jorge Viana excedeu largamente seu tempo na tribuna, Marta o homenageou deixando-o falar.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR

O "Cordão dos Puxa-Sacos", clássico de Carnaval, tem o seguinte trecho: Vossa Excelência...Vossa Eminência.../Quanta reverência nos cordões eleitorais/ Mas se o doutor cai do galho e vai ao chão/ A turma logo evolui de opinião.

A letra está desatualizada. O deputado federal petista Cândido Vacarezza, líder do governo Dilma Rousseff, defendeu o uso do dinheiro do Bolsa Família para comprar cachaça. "Doze milhões de pessoas do Bolsa Família, comprando uma cachaça por mês, ajudam a economia", disse. Um sábio: está no cordão de hoje e se segura no cordão de ontem, mesmo com o ex-presidente fora do trono.

TUDO É UM SÓ CORAÇÃO

A presidente Dilma Rousseff já alinhou a seu governo a maior parte dos partidos e dos políticos. Agora, a julgar pelas declarações de amor de Vacarezza à água que passarinho não bebe, está querendo tornar dispensável a oposição.

QUEM SABE, SABE

É emocionante encontrar um político coerente com suas ideias. Por exemplo, a deputada federal Luiza Erundina ameaça deixar o Partido Socialista Brasileiro, por motivos ideológicos, se o prefeito paulistano Gilberto Kassab lá ingressar. Claro que Erundina não mostrou o mesmo zelo quando um político no mínimo tão conservador quanto Kassab, Gabriel Chalita, entrou no PSB. Aliás, quando foi para o PSB, ela entrou no partido de Ciro Gomes, ex-líder da Arena Jovem. E aceitou bem a candidatura do presidente da maior federação empresarial do País, Paulo Skaf, ao governo paulista - e por seu partido de esquerda, o PSB.

RIR, RIR, RIR

O Procon multou a AES Eletropaulo em quase cinco milhões de reais pelos apagões ocorridos desde setembro, Mais de 600 mil clientes foram prejudicados. Mas não se preocupe com os cofres da distribuidora: no Brasil, as multas são altas mas as empresas normalmente conseguem não pagá-las (mas tente o caro leitor escapar de uma multa de trânsito para ver o que é bom!) Os prejudicados podem entrar com ações na Justiça, mas é provável que não tenham recursos para enfrentar o processo, nem para esperar que seus netos, já velhinhos, consigam receber das concessionárias. E os apagões continuam.




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