Cíntia Bortotto Titulo
Que seja infinito enquanto dure

Antigamente, iniciar a carreira e se aposentar pela mesma empresa era sinal de que o empregado era competente. Hoje em dia, não

Cíntia Bortotto
26/07/2011 | 00:00
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Nos últimos tempos, temos percebido mudanças na relação de emprego. Antigamente, iniciar sua carreira e se aposentar pela mesma empresa era um sinal de que o empregado era competente. Hoje em dia, é valorizada a capacidade de pertencer por algum tempo a uma organização, mas também se valoriza a experiência em mais de uma cultura e a capacidade de trazer a vivência de outra empresa.

Isto acontece porque, hoje, o paradigma de se aposentar em uma boa empresa, preferencialmente a que você começou a trabalhar, foi quebrado. Isso aconteceu porque se percebeu que as companhias podiam ter vantagens se contratassem pessoas advindas de outras empresas com uma experiência diferenciada, seja pela cultura do local em que se trabalhava, pelos processos ou pela maturidade em determinada área.

O fato é que empregados com bom perfil comportamental, aliado a boa experiência, têm mais empregabilidade. O mercado de trabalho reconhece inclusive financeiramente este tipo de profissional e o busca. Dessa forma, temos alguns profissionais que têm em sua trajetória profissional algumas empresas. Mas cabe reforçar que isto não significa que é bem visto aquele tipo de profissional que passa cada ano em uma empresa, sem formar vínculos ou demonstrar que seu trabalho foi de fato "aceito" e reforçado pela organização.

MUDANÇAS NA RELAÇÃO CAPITAL-TRABALHO - Este novo tipo de relacionamento traz vários impactos ao mercado e mudanças na relação capital-trabalho. Agora, é necessário que as empresas tenham preocupação de manter seus recursos chave. É necessário também que os colaboradores se mantenham atualizados, pois nada impede que a empresa traga alguém que faça bem o seu trabalho e ainda por cima que traga um knowhow de outra empresa referência de mercado.

As companhias perceberam que profissionais com mais empregabilidade conseguem negociar melhores salários, o que faz com que a empresa tenha que ou pagar mais ou desenvolver profissionais internamente. As companhias também passaram a investigar o que os profissionais querem, e enxergar que dar respostas a estas demandas é papel das empresas.

Nesse contexto surgiram também relações mais abertas, que invistem em sustentabilidade, qualidade de vida, diálogo, possibilidade de desafios, mesmo que para jovens talentos.

A ÓTICA DAS EMPRESAS - As empresas podem encarar de diversas maneiras esta nova forma de relacionamento empregado-empregador. Acredito que muitas delas já estejam vendo isso como uma mudança nas gerações, que novas necessidades e às companhias cabe ter políticas de retenção e engajamento com respostas a estas necessidades.

Como executiva de RH, presenciei diretores dizendo: "Nossa mas investimos no desenvolvimento de idiomas do fulano e agora ele simplesmente deixa a nossa companhia, como pode ser tão ingrato?", mas também já ouvi dentro do mesmo grupo de diretores a ponderação: "Há um ano, este colaborador sinaliza que não estava suficientemente motivado e que já tinha potencial para realizar mais coisas do que vinha fazendo, mesmo tendo investido, demoramos para dar a ele uma resposta em termos de desafios, é compreensível o pedido de demissão". Portanto, a forma de encarar os acontecimentos é individual. A empresa pode ter uma postura de dar mais espaço às áreas como gestão de pessoas, com políticas e processos que dêem respostas às novas necessidades, ou dar menos espaço a estas áreas e assumir o ônus de um turnover maior.

OS EMPREGADOS - Este novo contexto obriga os empregados a não pararem nunca de se desenvolver, por conta da qualificação da mão de obra disponível no mercado e uma tendência de constante movimentação, o que significa mais concorrência. Por outro lado, o mercado dinâmico possibilita mais ascensão e chances de estabelecer uma relação de confiança com o empregador, a fim de desenvolver a prática, a experiência, que também faz diferença no dia a dia de trabalho. Aos que tem alta empregabilidade, o contexto atual oferece uma possibilidade maior para ver seu sonho no universo profissional se realizar.

O lado de fato ruim de tudo isso é que estas relações podem se tornar mais intolerantes e menos maduras, pois as ações têm de ser tomadas em um espaço de tempo muito curto, sem se preocupar com o outro lado. Por exemplo, um funcionário pode não esperar o tempo de desenvolvimento da empresa e isto ser uma constante, fazendo com que mude de emprego a cada "não" que recebe; ou uma empresa não dar a chance de recuperação para quem não está desempenhando bem uma função, por ter mão de obra qualificada disponível. A intolerância e o senso de urgência muito curto podem ser perigosos para relações saudáveis e mais longínquas.

Aproveite o atual momento do mercado da melhor maneira possível para sua carreira. Siga confiante e boa sorte!




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