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Rio Grande da Serra pede ajuda
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
15/11/2009 | 07:07
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É unânime: para população e governo, Rio Grande da Serra não oferece nenhum atrativo cultural ou de lazer com regularidade.

Sedentos por entretenimento, os moradores lotam, aos fins de semana, eventos como o Escola da Família e o Diário do Grande ABC nos Bairros, como opção de distração ou oportunidade de aprendizado.

Muitos dos que estão inscritos nos cursos da Prefeitura - hip hop, teatro, flauta, violão e skate - fazem sem identificação nenhuma com o que é oferecido. Outros frequentam esses projetos por anos para não cair no ócio. "Fiz o curso de teatro e depois migrei para o teatro da igreja", diz Larissa de Morais, 14 anos.

"Faço dança do ventre na Escola da Família e queria que tivesse mais cursos", diz Andressa Silva, 15, que carrega um skate para as aulas na praça da cidade sem demonstrar nenhuma aptidão sobre as rodinhas.

"Sei que a cidade é carente, mas nada justifica o fato de ela não ter ações culturais que alavanquem as oportunidades e até mesmo a torne referência, como acontece com os festivais de Inverno de Paranapiacaba e do Chocolate de Ribeirão Pires", comenta Ruvilson Luiz do Nascimento, 27, do grupo teatral Explosão D'Arte, um dos poucos no município.

Hoje, Rio Grande da Serra oferece poucos equipamentos culturais. O Teatro Manacá, que abriga aulas artísticas durante a semana e que comporta 120 pessoas, exibe filmes pelo projeto Tela Grande dois dias por mês e, vez ou outra, uma peça de teatro. Em algumas ocasiões é alugado para eventos por R$ 245, com dinheiro revertido para o Fundo de Cultura. O parque de skate, a Praça da Bíblia e as áreas de lazer montadas nas vilas são as únicas opções durante o período sem programação.

O orçamento de 2008 da cidade foi de R$ 33 milhões. Apenas 0,3% (R$ 96 mil) foi destinado à Cultura, sendo que R$ 72 mil são para pagamento de funcionários.

A criação de um fundo regional de cultura, discutida desde junho no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, seria salvação para o município, já que planeja executar plano de comprometimento e intercâmbio cultural das sete cidades. "Esse assunto só será firmado a partir do ano que vem. Ainda faltam definir as diretrizes", conta Simone Zárate, coordenadora de Desenvolvimento Social da instituição. Procurado para comentar o assunto, o presidente do Consórcio, o prefeito de São Caetano José Auricchio Júnior, não quis se manifestar.

Prefeitura: dentro do possível

"Somos sonhadores, mas também temos o conceito da realidade", diz a secretária de Educação e Cultura de Rio Grande da Serra, Aida Jardim Teixeira. Dentro do possível, a cidade diz se estruturar para começar a oferecer mais opções de entretenimento.

A secretária afirma que o grande problema de locomoção no município vem sendo resolvido, com asfaltamento de ruas e outras ações. Há investimento também nos equipamentos culturais: "A grande arrancada foi a construção da biblioteca, a manutenção do teatro, a construção da praça de skate e parquinhos em todas as vilas".

Apesar disso, a falta de espaço ainda é um dos principais empecilhos para minimizar a escassez de opções oferecidas nos bairros. O projeto de um novo teatro já existe, mas a inviabilidade de construí-lo adequadamente é o que impede o avanço do projeto. "Sabemos que o Teatro Manacá não é adequado, mas é difícil encontrar um local que comporte a estrutura do novo projeto. Estamos em uma área de manancial", explica a secretária.

Segundo Aida, ações como as executadas pelo Conselho Municipal de Cultura incentivam o artista local. "Damos estrutura e orientação para que ele possa exercer seu trabalho em Rio Grande, mas, claro, dentro do possível".

Um dos principais trabalhos da Secretaria para driblar a falta de verba é a criação de festivais. "A gente tem feito o que exige o mínimo de recursos, como os festivais. Integramos ao calendário os de fanfarra, de música sertaneja e de cenas curtas de teatro", diz.

A dificuldade de captar verbas dos governos federal e estadual, segundo Aida, vem da falta de projetos que estejam adaptados às normas exigidas e também da formalização dos artistas municipais. "Em questões técnicas, não conseguimos nos enquadrar nas normas que exigem os programas de captação para recursos culturais. Muitos artistas também não constituem empresa; até quando nos procuram para que sejam inseridos em alguma apresentação não há jeito de fazê-lo, porque a própria Prefeitura não tem meio legal de remunerá-los", justifica.

Sobre a dificuldade de diálogo que os artistas dizem enfrentar com a Secretaria, Aida rebate: "Muito poucos grupos aparecem para propor alguma ação. Alguns querem que emprestemos o teatro para que eles cobrem ingresso, e não existe lei que autorize o uso do espaço público dessa forma".

A proposta de formação de um Fundo Regional de Cultura viria auxiliar a irmã mais carente das sete cidades da região. "Ações como esta são bem-vindas. Principalmente aqui, onde temos muitas dificuldades. Existirá comunicação e exposição dos municípios como um todo. Dentro de nossa simplicidade, temos esperança de conseguir levar nossos artistas para outras cidades e projetá-los, além de trazer uma programação mais completa a Rio Grande", entende.




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