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Falsos guias confessam assassinato em Paranapiacaba
Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
13/11/2004 | 13:43
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Intolerância. Essa foi a razão que levou ao assassinato do estudante Rodrigo Monteiro Sakavicius, 23 anos, morto no distrito de Paranapiacaba, em 29 de agosto. Segundo informações da polícia, o rapaz foi assassinado por dois falsos guias turísticos porque era homossexual. Robson Gonçalves da Silva, 22, e Fabiano Maia Eleno, 21, confessaram em depoimento que não suportaram o jeito efeminado de Sakavicius e por isso o mataram. Ambos foram presos na sexta-feira pela Delegacia de Homicídios de Santo André. Em entrevista ao Diário, Silva também confessou a autoria do crime e a motivação.

No dia do crime, um domingo, Sakavicius saiu da região central de São Paulo, onde morava, e foi sozinho até Paranapiacaba, à tarde, praticar um ritual wicca. Trata-se de uma modalidade de bruxaria que invoca os poderes da natureza. O estudante não conhecia bem o local e resolveu pedir informações a Silva e Eleno, que se apresentaram como guias.

Eleno falou que era da AMA (Associação de Monitores de Paranapiacaba), entidade apoiada pela Prefeitura de Santo André que monitora as atividades no local. Segundo a Prefeitura, Eleno foi expulso da AMA dias antes do crime, em 22 de agosto, por descumprir horários de trabalho.

Sakavicius disse que queria um local com mato, água e espaço livre. Os guias indicaram um lugar chamado Vacaria, localizado em uma trilha da Serra do Mar. Cobraram R$ 5 pelo serviço. “Durante o caminho, a gente se irritou com o jeito dele. Desmunhecava muito, era cheio de frescuras. Não suporto homossexuais”, afirmou Silva à reportagem.

“Não estava bêbado nem drogado. Só tinha brigado com a minha mulher, que havia descoberto o caso que eu tinha com uma amante. Por isso, também estava muito nervoso”, completou Silva. Segundo ele, a idéia de matar o estudante partiu não apenas dele, mas também de Eleno. Quando chegaram na Vacaria, Silva tirou o cadarço do próprio tênis e enforcou Sakavicius, que era segurado por Eleno. Como o estudante não morreu, resolveram esfaqueá-lo. Deixaram o corpo no local e foram embora.

No dia seguinte, ambos voltaram ao lugar e ocultaram o corpo de Sakavicius com folhagem. Silva pegou os tênis da vítima. O corpo do estudante só foi encontrado pela PM em 14 de setembro.

Uma testemunha delatou só recentemente Silva à polícia. Investigadores foram na sexta-feira até a casa dele, em Paranapiacaba. No local, encontraram os tênis da vítima. Silva confessou e entregou Eleno, que foi preso em um escritório no Centro de Santo André, onde vendia planos de saúde. Ambos foram indiciados por homicídio qualificado (motivo torpe) doloso (com intenção), ocultação de cadáver e furto dos tênis. “Podem pegar até 30 anos de cadeia”, disse o delegado Adilson de Lima. Silva já cumpriu pena por roubo.

“Ainda bem que prenderam os culpados. Outras famílias podem ficar livres de sofrimento”, disse a irmã do estudante, Patrícia Sakavicius. Ela não quis fazer comentários sobre a motivação do crime.

“É lamentável o que ocorreu. Precisa haver uma lei específica, severa, contra o ódio aos homossexuais. Só assim coibiremos casos desse tipo”, afirmou Marcelo Gil, presidente da ABCDS (Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual), que reúne homossexuais da região.

A Prefeitura informou que a segurança em Paranapiacaba é feita por nove guardas municipais, além de um posto da PM. A administração aconselha os turistas a procurarem o posto da AMA na vila em caso de necessidade.




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