"Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé". O antigo ditado popular se enquadra perfeitamente ao projeto criado pela diretora do Instituto VivaMúsica!, no Rio de Janeiro, Heloisa Fischer, para aproximar os jovens do erudito. Como? Levando espetáculos de música clássica a casas noturnas tradicionalmente dominadas por DJs e bandas pop, ideia que já tem dado certo mundo afora.

São Caetano foi a cidade escolhida para a estreia do itinerante Democlássicos. Os cariocas Carlos Prazeres (oboé), Ivan Zandonade (viola), Marcus Ribeiro (violoncelo) e Felipe Prazeres (violino) sobem ao palco do Espaço Cidadão do Mundo hoje, às 20h, para apresentar o som de Mozart e Britten. A entrada é franca.

"Muitos jovens não vão a um concerto porque acham que é caro, não sabem qual roupa vestir e até julgam careta. Daí a ideia de levar a música clássica para um ambiente onde eles estão acostumados", explica Heloisa. Sua experiência pessoal, diz, mostra que é possível despertar o interesse mesmo dos avessos ao estilo. "Trabalhava como coordenadora de uma rádio pop e a música clássica caiu por acaso na minha vida, após convite para trabalhar numa rádio do gênero. Hoje costumo dizer que se eu viesse a me distanciar dela profissionalmente, continuaria ouvindo, porque já está dentro de mim."

Com a ideia articulada, a jornalista fez o convite aos músicos, todos na faixa dos 30 anos, que não titubearam. "A renovação do público que assiste a concertos é um desejo antigo, então juntou a fome com a vontade de comer", revela Felipe Prazeres. E acrescenta: "quero ainda ter o prazer de chegar numa sala e ver jovens achando o concerto um programa legal como cinema ou teatro."

Para Felipe, o ambiente da casa noturna contribui para a aceitação do gênero. "O importante é que, embora nosso repertório seja 100% clássico, depois da apresentação segue o clima de boate, com música agitada e cerveja."

A viabilização do projeto foi possível graças à conquista do prêmio Circuito Funarte de Música Clássica 2010, do Ministério da Cultura. Com verba suficiente para passagens e hospedagens, o quarteto excursionará neste mês por outros quatro municípios brasileiros: São Paulo (02), Cuiabá (03), João Pessoa (06) e Porto Alegre (08).

A intenção de Heloisa é que o projeto ganhe dimensões maiores e possa se tornar periódico. "Espero que essa seja apenas uma primeira etapa de algo que venha a se consolidar. A musica clássica produziu ao longo dos séculos algumas das músicas mais lindas e queremos colocá-las em evidência."

INSPIRAÇÃO
Pelo mundo, projetos alternativos ao concerto tradicional têm feito sucesso com a nova geração. A gravadora Deutsche Grammophon, por exemplo, organiza a festa Yellow Loungeem casas noturnas de Berlim, na Alemanha. Já em Londres, os jovens ingleses curtem o erudito por meio da série de concertos Limelight no 100 Club e dos eventos Nightshift organizados pela Orchestra of the Age of Enlightenment. Outro país a aderir ao novo formato foi os Estados Unidos, que concentra apresentações na casa noturna Le Poisson Rouge, em Nova York.

Democlássicos — Concerto. No Espaço Cidadão do Mundo - Rua Rio Grande do Sul, 173, São Caetano. Hoje, às 20h. Entrada franca.