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Mata-mata urbano

Aos 23 anos, Jesus Cavalcante de Abreu conseguiu realizar dois sonhos complementares quase ao mesmo tempo

Cristina Baddini
16/07/2010 | 00:00
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Aos 23 anos, Jesus Cavalcante de Abreu conseguiu realizar dois sonhos complementares quase ao mesmo tempo: no dia 11 de março, tirou sua carteira de habilitação e, uma semana depois, comprou uma moto Yamaha Fazer 250. Desde então, combinou com os pais, José e Maria, que ligaria para casa todos os dias logo após chegar ao trabalho, um supermercado a poucos minutos de casa, no bairro do Ipiranga, avisando que estava tudo bem. Aquela rotina durou pouco. Onze dias depois, ele entraria no trabalho às 7 horas. Mas nada do telefone de sua casa tocar. "Minha mulher me acordou, preocupada. Eu levantei, peguei o carro e corri para lá", lembra José. "Ao chegar, já avistei uma Parati, a moto de meu filho no chão e a viatura de resgate saindo rumo ao hospital." Jesus não resistiu. Às 11 horas chegava ao fim a vida do extrovertido garoto que tinha como grandes paixões, além da moto nova, a namorada, Madalena, o Corinthians e a música. Ele tocava guitarra desde criança e era vocalista de uma banda de rock chamada Fé no que virá. A picape o acertou em cheio e o jogou contra um poste. Judas de Souza Filho, 27, dirigia o carro e estava temporariamente em São Paulo, ele era de Piedade. A alegria da família acabou. A mãe de Jesus ainda se esforça para encarar a tragédia com resignação. Nos olhos do pai, a dor é visível. Ao falar do filho, a voz embarga e as lágrimas caem.

Guerra civil

Todos os dias, mais de quatro pessoas morrem na Grande São Paulo após sofrerem acidentes de trânsito, gente como o jovem Jesus. Apesar das estatísticas assustadoras, o trânsito paulistano mata menos que o de outras capitais brasileiras. No último ano, fez 2,6 vítimas por 10. 000 veículos em São Paulo. Em Porto Velho (RO), no pior índice de uma capital brasileira, são 11,7 vítimas por 10.000 carros, de acordo com o mais recente anuário do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). São números impressionantes, números de irresponsabilidade e negligência que matam motoristas, motociclistas, ciclistas e, sobretudo, pedestres. Mais de 1.500 pessoas morrem em acidentes de trânsito anualmente na Grande São Paulo.

Comigo não

Queremos regras duras, porém, para os outros! Aprovamos que o Código de Trânsito seja duro contra os outros, que as multas afetem os outros. Para nós, queremos que o excesso de velocidade seja permitido, que o cinto de segurança no banco traseiro não seja obrigatório, que as crianças fiquem soltas no veículo, que o capacete permaneça como protetor de cotovelo, que a embriaguez ao volante seja tolerada.

Pelo Mundo

Um documento da Make Road Safe estimulou a ONU a decretar a Década da Segurança no Trânsito que propiciará medidas e ações que trarão a redução dos acidentes no mundo todo, pois, em 2015, o trânsito será a principal causa de morte no mundo se nada for feito para corrigir o atual quadro. Com ações corretas e pontuais, até cinco milhões de vidas poderiam ser salvas e 50 milhões de feridos evitados durante a década de ação. Isso representa uma redução de cerca de 50% sobre a estimativa global do número de mortes até 2020. Cada qual tem que cumprir seu papel. Ao contrário, o atual cenário de mortes violentas perdurará eternamente, enlutando a cada ano no Brasil, mais de 35 mil famílias.

Você também pode fazer parte desta campanha. Dirija sempre com segurança, caminhe sempre com atenção e ajude a cobrar das autoridades ações efetivas para a redução de acidentes no trânsito na sua cidade.




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