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PM falhou em resgate de maestro no Rio
Do Diário do Grande ABC
17/01/1999 | 17:23
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O subsecretário estadual de Segurança do Rio, Luiz Eduardo Soares, reconheceu ter havido falha da polícia na localizaçao do corpo do maestro Armando dos Prazeres Souza, de 64 anos, seqüestrado e assassinado na última quinta-feira. A família só tomou conhecimento da morte do maestro na tarde de sábado, apesar de o corpo estar no Instituto Médico-Legal desde a noite do crime. "É claro que nao é tarefa da família localizar o corpo", afirmou Soares. "Tem que haver interconexao imediata entre os órgao de polícia e vamos instalar um sistema on line nas delegacias a partir de março".

Prazeres foi rendido por três homens armados quando estacionava seu carro em frente à escola do filho Inácio, de 5 anos, em Laranjeiras, na zona sul. A família ficou sem informaçoes por dois dias, aguardando contato dos supostos seqüestradores. Verificando os extratos bancários, os filhos perceberam que os bandidos haviam retirado R$ 700 em quatro saques da conta de Prazeres.

Somente na manha de sábado o delegado Alvaro Lins, da Delegacia Anti-Seqüestro (DAS), sugeriu que a família fosse ao IML. Lá descobriu-se que o maestro havia sido morto com um tiro na cabeça e seu corpo jogado na calçada da rua Carneiro de Campos, em Sao Cristóvao, na zona norte. O carro dele, um Voyage azul, só foi encontrado hoje à tarde pela Polícia Militar em Bonsucesso, na zona norte, com manchas de sangue nos bancos e a tampa do porta-luvas arrancada. O caso continua sendo investigado pela DAS, embora nao tenha havido pedido de resgate. "Temos mais experiência do que outras delegacias em casos assim", justificou o diretor da DAS, Marcos Reimao.

Prazeres era regente da Orquestra Petrobrás Pró- Música e chegou a ser convidado para reger a Orquestra Sinfônica Nacional, mas recusou, a fim de criar a própria orquestra. Na visita do Papa Joao Paulo II, em 1980, ele regeu o coral e a orquestra da missa papal. Também foi o pioneiro em concertos ao ar livre, quando apresentou o Festival de Inverno do Alto da Boa Vista, em 1969.

O bairro de Laranjeiras, onde o maestro foi rendido, é conhecido como um dos mais tranqüilos do Rio. A fama, no entanto, está perdendo razao de ser. O filho de Prazeres, Carlos Eduardo Souza, de 35 anos, contou que o maestro já havia sido assaltado cinco vezes nas ruas do bairro. "Queríamos que meu pai se mudasse, mas ele preferia ficar perto da orquestra", contou.

Em abril do ano passado, a estudante Ana Carolina da Costa Lino, de 18 anos, foi assassinada com quatro tiros de fuzil, na esquina das ruas das Laranjeiras com Pereira da Silva, a 300 metros do Palácio Guanabara, sede do governo. Na mesma esquina, três anos antes, o ex-prefeito de Belford Roxo, Jorge Júlio Costa dos Santos, o Joca, foi morto com onze tiros, dentro de seu carro.

O engenheiro Diomedes Cesário da Silva ficou paralítico em outubro de 1995, após ser atingido nas costas por uma bala perdida. Ele havia saído de casa para passear com o cachorro na rua Pinheiro Machado.

A polícia ocupa o Morro do Pereirao desde o final de dezembro de 1998, quando o líder do tráfico Cláudio Ramos da Rocha, o Portuguesinho, e mais quatro pessoas morreram em confronto entre traficantes e PMs, causando o fechamento do comércio no bairro.

Para o secretário estadual de Segurança, general José Siqueira, nao há onda de violência em Laranjeiras. "Sao fatos isolados: a Ana Carolina chamou a atençao porque foi um caso violento e o maestro teve repercussao porque ele nao é um ilustre desconhecido", afirmou. "Laranjeiras está abaixo do índice de violência do Rio, que é de 15 homicíos por dia".




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