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Livro conta fascinante história dos violinos Stradivarius
Por João Marcos Coelho
Especial para o Diário
31/03/2006 | 08:38
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"Tenho um violino que nasceu em 1713. Já estava vivo muito antes de mim, e espero que continue vivendo muito depois de mim. Não o considero como meu violino. Talvez eu é que seja o seu violinista; estou passando pela sua vida". Você já adivinhou que a frase do grande violinista israelense Ivry Gitlis refere-se ao mais precioso dos instrumentos de cordas, o violino Stradivarius, ou seja, um dos 600 que sobreviveram, entre os mil feitos pelo luthier – é assim que se qualifica o artesão que faz instrumentos – Antonio Stradivari, de Cremona. Ele nasceu em 1644 e morreu em 1737. Localizam-se entre 1700 e 1725 os instrumentos mais perfeitos que fez ao longo de uma carreira gloriosa (aos 92 anos fez seu derradeiro instrumento; e isso, lembre-se, era um trabalho artesanal, braçal mesmo). Assinava assim: "Antonius Stradivarius Cremonensis. Fecit Anno..."

Contam-se às centenas as odes e elogios dos músicos modernos a este instrumento único. Mais uma, e importante, assinada por ninguém menos do que Yehudi Menuhin, um dos maiores do século XX: "Um grande violino é um ser vivo; sua própria forma encarna as intenções do artesão, e sua madeira guarda a história, ou a alma, de seus sucessivos donos. Toda vez que eu toco, tenho a sensação de ter liberado ou, desgraçadamente, violado espíritos".

O jornalista inglês Toby Faber conta de modo delicioso e apaixonante a história do rei dos instrumentos de cordas no livro Stradivarius – Cinco Violinos, um Violoncelo e Três Séculos de Perfeição (Record, 280 págs., R$ 35 em média). Expõe os mitos e os fatos sobre estes instrumentos, aplaudidos desde os salões de Viena até as modernas salas de concerto. Tenta explicar o segredo do luthier do século XVIII, a razão de tamanha perfeição de som do instrumento que ele apelida de Strad. Escreve: "Mais de 250 anos depois de sua morte, os violinos e violoncelos de Stradivari continuam sendo os melhores do mundo. Nas mãos certas, seu cantabile é magnífico, projetando uma sonoridade gloriosa até as últimas fileiras das maiores salas de concerto. Eles constituem a resposta definitiva à arrogância dos tempos modernos: a ciência não tem todas as respostas; a tecnologia do Renascimento ainda não foi superada".

O autor constrói seu livro a partir das aventuras de seis instrumentos lendários que se tornaram verdadeiros personagens no mundo da música clássica, batizados a partir de seus antigos proprietários. São cinco violinos e um violoncelo: Messias, Viotti, Khevenhülloer, Paganini, Lipinski e Davidov. Este último, um cello de 1712, foi feito para os Médici, passou de mão em mão entre notáveis artistas até os anos 1980, quando passou a ser tocado por Yo-Yo Ma.

O caso do Quarteto de Tóquio – que leva este nome porque três de seus integrantes são japoneses, mas os quatro estudaram na Juilliard de Nova York e formaram seu grupo nos Estados Unidos – é exemplar. Eles tocam em quatro Stradivarius que pertenceram ao mais diabolicamente virtuose instrumentista de cordas, Niccolò Paganini (1782-1840). E por falar em diabólico virtuose, Giuseppe Tartini (1692-1770) foi um dos compositores que mais se dedicaram a escrever obras para o violino. Apaixonado pelo Stradivarius, compôs a Sonata Trillo del Diavolo, ou sonata trêmolo do diabo, que lhe teria sido inspirada por um sonho no qual o diabo tocava para ele. Para quem se interessar, o trillo del diavolo aparece no último movimento da sonata.

Lê-se o livro como um romance. Mil e uma peripécias, com direito a falsificadores, picaretas, roubos e desaparecimentos misteriosos de instrumentos que valem mais de US$ 1 milhão.




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