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Problemas na visão podem afetar desempenho escolar

Recomendação é que exames de rotina anuais sejam realizados a partir dos 6 meses de vida

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
24/10/2019 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Há três anos, Gustavo Lima Silva, 11, de São Bernardo, se queixava de dores de cabeça, precisava mudar de lugar para copiar as atividades da lousa na escola e, em casa, “assistia a um pouco de TV e depois parava”. A mãe, Edna Josefa de Lima Silva, 40, assistente de RH, acreditava que era apenas falta de interesse e que “criança não tem dor de cabeça”.

Tudo mudou quando Edna recebeu bilhete da escola. “Me disseram que o médico (oftalmologista) tinha diagnosticado problema de visão no meu filho”, conta. Para confirmar, a mãe levou o menino a dois especialistas, que indicaram vista cansada. Desde então, o estudante, atualmente no 5º ano do ensino fundamental na Emeb (Escola Municipal de Educação Básica) Professora Janete Mally Betti Simões, em São Bernardo, passou a usar óculos. “Agora ele enxerga os deveres na lousa e tem mais vontade de ler”, observa a mãe. “Isso não apenas permite que ele enxergue normalmente, mas também deu qualidade de vida.”

Segundo Fabio Pimenta, oftalmopediatra do H.Olhos, o público infantil pode não saber indicar o que está errado, portanto, é preciso prestar atenção em alguns sinais. “Nos primeiros anos de vida, a falta de interesse em coisas que costumam chamar atenção de crianças, como objetos coloridos, dificuldade com brinquedos que exigem encaixe, e se ela é facilmente assustada porque não reconhece as pessoas são alguns movimentos que indicam que há algum problema na visão.”

Já na idade escolar, caso o jovem precise se aproximar da lousa para copiar conteúdos e franza a testa para enxergar também é necessário averiguar se há algum problemas. Neste sentido, pais e professores têm papel fundamental.

Conforme Pimenta, primeira avaliação deve ser realizada ainda na maternidade, quando problemas mais sérios podem ser identificados. A primeira consulta com oftalmologista deve ser realizada aos 6 meses e, a partir de então, anualmente. “Mesmo que a criança ainda não saiba se comunicar, alguns exames permitem diagnosticar problemas no desenvolvimento”, explica.

A visão está completamente formada até os 7 anos. Assim, caso a criança não tenha as condições adequadas de desenvolvimento por conta de problema não tratado, a evolução será incompleta e a pessoa terá visão aquém do esperado.

Entre os principais distúrbios na infância, estão a hipermetropia, caracterizada pela visão embaçada; o astigmatismo, quando a pessoa vê com sombra, e a miopia, que faz o indivíduo enxergar pequeno. Inclusive, o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) alertou, no início do mês, sobre o aumento “alarmante” do número de crianças míopes em todo mundo. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que 52% da população mundial sofra com o problema até 2050.

CUIDADOS


Para evitar que a criançada tenha problemas de visão, sobretudo a miopia, a orientação é que os eletrônicos seja utilizados a pelo menos 50 centímetros do olhos e com intervalos a cada 30 minutos. “A questão da tecnologia não é o objeto em si, é o modo de uso, então, se a pessoa ler um livro segurando muito próximo aos olhos, o efeito será tão prejudicial quanto”, assinala Pimenta.

Ainda em relação aos eletrônicos, o oftalmopediatra lembra que o ideal é que seu uso seja evitado na última hora antes de dormir, uma vez que a luz emitida pelos aparelhos atrapalham o ciclo do sono e prejudicam o desenvolvimento.

Outra recomendação é a utilização de óculos escuros com garantia de proteção contra os raios UVA e UVB. “Eles são altamente prejudiciais a longo prazo e, caso os olhos não sejam protegidos corretamente, a pessoa pode sofrer com alteração da retina ou desenvolver catarata precocemente”, esclarece.

AÇÕES

Com o objetivo de diagnosticar as crianças precocemente, as prefeituras da região desenvolvem ações em escolas municipais. Em Santo André, o programa Educando Com Visão garante que as crianças do primeiro ano da rede municipal de ensino recebam óculos gratuitos e encaminhamento para tratamento especializado em caso de diagnóstico de doença oftalmológica. Neste ano, 608 alunos que tiveram suspeita de problema de visão e foram encaminhados.

Já a Prefeitura de São Bernardo realiza, anualmente, o exame oftalmológico em todas as crianças matriculadas na rede municipal como ação do Programa Saúde na Escola – ação que permitiu o diagnóstico do Gustavo. Neste ano, foram identificadas alterações suspeitas na visão de 819 crianças, após o exame inicial.

A Prefeitura de São Caetano mantém a Unidade de Saúde Oftalmológica Dr. Jayme Tavares, com atendimentos em oftalmopediatria, que registra média mensal de 260 consultas. Por meio do Programa de Olho para o Futuro, lançado na semana passada, avaliação oftalmológica de alunos do ensino infantil e fundamental é realizada. Aproximadamente 20% das crianças em idade escolar apresentam alguma perturbação oftalmológica.

As ações de saúde ocular em Diadema são realizadas por algumas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), dentro do Programa Saúde na Escola. Além disso, a Prefeitura oferece durante as atividades do Evento Mãos à Obra – A Prefeitura no Seu Bairro ações de avaliação oftalmológica, destinada às crianças em idade escolar com agendamento prévio.

Em Mauá, por meio do Programa Saúde nas Escolas, 1.755 crianças foram encaminhadas aos serviços especializados para fazer avaliação específica.




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