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Promotoria quer lista dos 110 nesta quinta
Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
25/05/2006 | 08:01
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Apesar de o Ministério Público Estadual ter dado início à investigação sobre as mortes na guerra com o PCC (Primeiro Comando da Capital), o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, disse ontem que continua esperando a lista com os nomes das vítimas e os respectivos boletins de ocorrência, requisitados ao governo do Estado. Anteontem, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo Abreu de Castro Filho, anunciou que vai manter em sigilo os nomes dos mortos pela polícia, já que 31 dos 110 mortos não eram do PCC. O prazo de 72 horas dado às polícias Civil e Militar para a apresentação dos nomes vence nesta quinta-feira.

Pinho não revelou se a possibilidade de processar os comandos das polícias por crime de desobediência continua valendo, caso a lista e os BOs não sejam entregues. “Vamos esperar o fim do prazo para ver o que acontece.”

Em reunião no Palácio dos Bandeirantes, na terça-feira, o governador Cláudio Lembo e o secretário Saulo Abreu divergiram de Pinho sobre a divulgação da lista. O governo acha que, caso os nomes se tornem públicos, haverá exposição das famílias das vítimas e dificuldades nas investigações. Para o MPE, não há motivo para que os nomes não sejam divulgados.

Assim como o MPE, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública receberam hoje cópia dos 132 laudos preliminares, enviadas pelo Conselho Regional de Medicina. As duas instituições também iniciarão procedimentos de investigação.

Além dos promotores que atuam perante os cinco Tribunais do Júri da Capital, que têm atribuição de investigar homicídios, a instituição envolveu na apuração o Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial e o Centro de Apoio das Promotorias Criminais e da Cidadania. A idéia é apurar eventuais excessos de policiais e ações de grupos de extermínio.

A decisão de omissão dos nomes é criticada por especialista em Direito, que afirma que medida não tem respaldo legal. “Mesmo a justificava da preservação da figura da personalidade do preso ou do suspeito morto não se aplica, pois se ele foi vítima de violência policial não será com o anonimato que se vai protegê-lo.” Para o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, é do interesse das famílias que o fato seja divulgado e apurado.

Velório – Quarta-feira de manhã, foi enterrado no cemitério municipal de Diadema o serralheiro Márcio Delbon Pelais, 24 anos, um dos quatro homens mortos em São Bernardo por PMs da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) na madrugada do último dia 16, durante os ataques promovidos pelo PCC. Cerca de 50 pessoas participaram da cerimônia, entre amigos e familiares.

O clima no local era de inconformismo. “Meu filho estava trabalhando, mudou de vida. Ele tinha lá os problemas dele, mas era uma pessoa boa. De repente, vem alguém e tira tudo isso dele”, afirmou Maria Alice, mãe do rapaz. Pelais passou cerca de cinco anos preso, após ter sido condenado pelo roubo a um mercado. Na prisão, familiares afirmam que ele teve contato com integrantes do PCC.

Há cerca de seis meses o serralheiro foi solto. Ainda segundo parentes, já em liberdade, ele rompeu os vínculos com a facção criminosa e conseguiu um emprego como pintor de prédios. Pelais, no entanto, era viciado em drogas e contraiu uma dívida com traficantes em Diadema, cidade onde foi criado. Não pagou. Foi jurado de morte e mudou-se com a mulher e o filho, de 4 anos, para zona Leste de São Paulo.

Dias antes de ser morto, brigou com a mulher, que teria se mudado para casa de um irmão na Vila São Pedro, próximo da favela do Montanhão, onde Pelais foi morto. Familiares acreditam que ele tenha ido procurar a mulher quando foi baleado pelos policiais da Rota.

A versão oficial apresentada na delegacia dá conta de que Pelais caminhava na direção da viatura acompanhado por outro rapaz e, ao receberem a ordem de parada, os dois começaram a atirar. No revide, foram baleados. A história é negada por testemunhas que moram no bairro, que afirmam que Pelais foi executado. (Com AE)



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