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Hospitais da região carecem de integração

Com 15 equipamentos públicos no Grande ABC, serviços são sobrepostos; Cross regional, discutida há dois anos, pode melhorar situação

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
28/04/2019 | 07:00
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 Quarenta hospitais, mais de 10 mil colaboradores e quase 240 mil atendimentos mensais. A rede hospitalar – entre pública e privada – no Grande ABC é robusta, com desafios e gargalos distintos. No serviço público, são 15 equipamentos – 13 municipais e dois estaduais – e a necessidade urgente de integração e regionalização dos serviços ofertados. A criação da Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde) regional, debatida pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC há dois anos, é uma das saídas para o problema.

Professora responsável pela disciplina de saúde coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Vânia Barbosa do Nascimento lembra que a rede hospitalar pública da região vivenciou forte expansão na década de 1990, quando os equipamentos privados que atendiam de forma conveniada pelo antigo Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) foram descredenciados.

“Com a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde), as cidades passaram a assumir os atendimentos e criaram seus hospitais. Algumas contam com apenas um equipamento, mas São Bernardo e São Caetano, por exemplo, construíram redes robustas, além dos hospitais estaduais, fruto da luta dos prefeitos.”

Para a especialista, um dos principais desafios, atualmente, é a regionalização e integração dos serviços. “Hoje, temos municípios oferecendo serviços de oncologia, por exemplo, que demandam alto investimento, mas que podiam ser regionalizados. É preciso pensar em uma coordenação e em formas colaborativas de financiamento. Avançamos muito individualmente. É preciso também um avanço regional”, avalia.

Outro gargalo apontado pela docente é a falta de leitos para atendimentos eletivos, devido à sobrecarga dos serviços de urgência e emergência. “Cirurgias de hérnia ou de cálculos da vesícula, por exemplo, na maioria das vezes, só acontecem quando há um agravamento do quadro. Com poucos leitos (números do Datasus de março de 2019 apontam a existência de 2.513 no SUS) e sempre ocupados por atendimentos de urgência, as cirurgias eletivas vão sendo adiadas”, justificou. Para a especialista, é preciso o fortalecimento da atenção básica e promoção de saúde – menos da metade da população é coberta pelo programa Saúde da Família no Grande ABC – para evitar o agravamento das enfermidades.

Coordenador do GT (Grupo de Trabalho) Saúde do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e secretário de Saúde de São Bernardo, Geraldo Reple, destaca que aos municípios deveriam ser atribuídos os atendimentos de média e baixa complexidades, mas que muitas cidades da região montaram estruturas também para atender alta complexidade, suprindo papel que seria dos governos federal e estadual, e que demandam mais recursos. “Esse é um dos principais gargalos da região.”

Sobre a regionalização, o gestor explicou que a criação da Cross regional estava bem encaminhada, mas a troca de comando no Estado, após a eleição do governador João Doria (PSDB), obrigou a retomada das negociações. “Estivemos recentemente com o secretário estadual de Saúde (José Henrique Germann Ferreira), que se mostrou bastante sensibilizado, e acredito que em poucos meses já teremos novidades”, estima. “Com um sistema integrado, vai ser possível avaliar melhor a demanda e pensar na oferta de serviços.”

Maternidades e pediatria são gargalos na rede privada, diz gestor

A rede hospitalar privada no Grande ABC conta com 40 hospitais, entre gerais e maternidades. Na avaliação do diretor técnico e médico do Hospital e Maternidade Christóvão da Gama, de Santo André, Alexandre Luiz Seo, um dos principais gargalos do sistema privado são as maternidades e os atendimentos em pediatria.

“Acredito que esse seja um dos poucos serviços em que a população ainda busca atendimento em São Paulo”, opina. Atento a esse cenário, o equipamento ampliou recentemente o número de leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) neonatal e infantil, que passou de dez para 20. “É um espaço para onde há possibilidade de crescimento”, completa.

Assim como ocorre na rede pública, o gestor também entende ser primordial o fortalecimento do atendimento primário, a fim de se evitar complicações e agravos de enfermidade. “O paciente precisa ser visto de forma global e completa, e não apenas quando está doente”, cita. “No Christóvão da Gama, desenvolvemos linhas de cuidado que vão desde o atendimento pediátrico até a fase idosa, desde atendimento ambulatorial até a alta complexidade, para conseguirmos a promoção de saúde e a consequente redução dos custos”, concluiu.

Bartira é alvo de sindicância do Cremesp

Um equipamento de saúde privado do Grande ABC se tornou nacionalmente conhecido em 1º de março, quando Arthur Araújo Lula da Silva, 7 anos, sexto neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, morreu por volta das 12h30. O Hospital Bartira, que pertence à Rede D’Or, divulgou que o garoto havia falecido “devido ao agravamento do quadro infeccioso de meningite meningocócica”. A notícia alarmou a população, provocando verdadeira corrida em busca de vacinação contra a doença, altamente contagiosa e um dos mais fatais tipos de meningite.

Um mês depois, no entanto, laudo do Instituto Adolfo Lutz acusou que a criança morreu devido à infecção causada por outra bactéria. Na ocasião, questionado pelo Diário, o Hospital Bartira evitou admitir erros, mas mudou sua versão sobre a causa da morte do garoto. Segundo a unidade, Arthur faleceu “devido ao agravamento de quadro infeccioso”.

O caso foi levado ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) pelo deputado federal Alexandre Padilha (PT). O órgão instaurou sindicância para apurar os fatos que cercam a morte de Arthur. Sem dar detalhes da investigação, o Cremesp afirmou que, caso seja provado que houve participação médica no equívoco, haverá punição aos envolvidos. “A sindicância tramita em sigilo processual determinado por lei e, como em toda sindicância, será garantida a ampla manifestação das partes.”

Questionado sobre o procedimento, o hospital apenas informou que “prestou todo o atendimento de forma imediata, proporcionando a assistência necessária ao caso. Qualquer informação adicional dependerá da autorização expressa da família.”




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