O núcleo de formação em direção teatral da ELT (Escola Livre de Teatro) de Santo André apresentou ontem a releitura de "Nossa Cidade", texto executado pela primeira formação de atores, em 1999, que foi fruto de processo colaborativo sob coordenação dramatúrgica de Luís Alberto de Abreu.

Numa homenagem a Santo André, o espetáculo "Nossa Cidade Anos 90" faz um singelo recorte - com forte conotação crítica, também - de personagens que vieram de longe e colaboraram para a criação de uma identidade à cidade andreense. Ou muitas identidades. Dos navios vindos de tempos remotos, com italianos, russos, portugueses, africanos etc., reminiscências trazidas à tona criam ponto de identificação imediata entre quem conta e quem assiste a montagem.

Puro atavismo, vê-se correr nas lembranças as crenças dos mais velhos, a típica conversa sobre os dias mais difíceis do passado e as saudáveis brincadeiras da infância da geração sem internet.

Fala-se um bocado sobre a dureza imposta a essa massa de gente e aos seus descendentes. O trabalho árduo na região fabril, que exige mãos fortes e acima de tudo privilegia que as mãos sejam boas para o exercício quase escravo da profissão.

Fragmentado, o espetáculo começa dividido em três apresentações que ocorrem simultaneamente pelos espaços da escola. A peça tem previsão de estreia para novembro. "Estamos na metade do caminho", conta o coordenador do núcleo de direção, Luiz Fernando Marques, que convidou o público para uma conversa sobre o projeto logo após a apresentação.

Atavismo puro, "Nossa Cidade Anos 90" somos todos nós, que independentemente de tudo, carregamos no sangue o fruto de um começo em comum.