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Região ainda tem fila de 13,4 mil crianças por creche

Juntas, cinco das sete cidades registraram queda de 14,13% no déficit de vagas em relação a 2018

Por Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
14/01/2019 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Pelo menos 13.443 crianças com idades entre zero e 3 anos integram fila de espera por vaga em creche em cinco cidades: Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. Embora o número tenha apresentado queda de 14,13% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 15.655 pequenos dos municípios citados aguardavam oportunidade de aprender, o cenário ainda representa desafio às administrações, que mantêm planos de construção de unidades escolares como tentativa de minimizar o problema.

Apenas em Diadema, entre as cidades que responderam aos questionamentos do Diário, o número de vagas faltantes é o mesmo de 2018. É preciso criar 4.500 postos para atender a demanda. Conforme a administração, a estratégia para 2019 será estabelecer parcerias e buscar áreas para construção de creches.

Em Santo André, 3.500 crianças entre zero e 3 anos ainda aguardam em fila de espera pelo direito de ir à escola. No ano passado, a cidade acumulava demanda reprimida de 5.400 vagas. A Prefeitura planeja a entrega de seis creches, de pacote das dez anunciadas no início da gestão do prefeito Paulo Serra (PSDB), neste ano – cada uma terá capacidade para 321 vagas. Nove destas unidades já estão em obras, sendo que a entrega das quatro restantes está prevista para o ano de 2020.

São Bernardo conseguiu reduzir o deficit por creche em 1.838 vagas em um ano. Atualmente, 2.913 crianças estão em fila de espera para a etapa escolar. A Prefeitura projeta a construção de quatro creches, no valor de R$ 7,6 milhões, no total. As unidades têm previsão de inauguração em 2020 em áreas de alta demanda, como Vila São Pedro, Grande Alvarenga e Jardim Silvina.

Até novembro de 2018, último dado fornecido por Mauá, a cidade tinha 2.230 crianças com zero a 3 anos fora da escola. Entretanto, o município não se pronunciou, até o fechamento desta edição, sobre como pretende ampliar a oferta de vagas para os próximos anos.

Ribeirão Pires informou que possui lista de espera correspondente às inscrições por intenções de vagas, realizadas nos meses de novembro e dezembro do ano passado, com cerca de 300 crianças. Não foram destacados projetos futuros para ampliação das oportunidades.

Rio Grande da Serra, que tinha 49 pedidos pendentes para creche, no ano passado, não retornou até o fechamento desta edição.

Dentre as sete cidades, as únicas famílias que respiram aliviadas, tendo em vista oferta de vagas, são de São Caetano. Conforme a administração, com a inauguração da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) Professora Telma Sílvia de Aguiar Brito, no ano passado, foram criadas 165 vagas de período integral. Segundo a Prefeitura, a rede ainda conta com capacidade para absorver alunos.

Ainda na cidade de São Caetano, a gestão tem plano de contratar empresa para elaboração de projeto para a construção de unidade de Educação de Infantil na Praça Luiz Olinto Tortorello, localizada na Avenida Goiás, bairro Santo Antonio, no entanto, não há prazos e projeção de custos para a obra.

Cadastro é feito durante a gestação
O casal andreense Jefferson Basaglia, 30 anos, e Larysse Ingrid Oliveira Raiol, 27, relatam “novela” para conseguir vaga em creche para filha caçula, Yara Oliveira Basaglia, 1 ano. Moradores da Vila Matarazo, eles criticam o que consideram “descaso” para com a população.

Editor de imagem, Basaglia ressalta que realizou cadastro na rede municipal para a filha ainda durante a gestação. “A sensação que passamos é horrível. Parece que a Prefeitura está fazendo um favor em oferecer uma vaga, e não é. É uma obrigação.”

Larysse relembra que, no início de 2018, voltaria a trabalhar e foi em busca de oportunidade na creche para sua pequena. “Mais uma vez me falaram que não havia vaga e que eu deveria fazer a inscrição para aguardar na fila de espera.” Quando Yara completou 6 meses, a mãe tentou mais uma vez conquistar espaço na rede municipal. Até então, a filha mais nova estava passando o dia na casa da avó. “Tentei novamente e mas uma vez fila de espera. Em seguida, fui mandada embora do emprego e só voltei a trabalhar agora, em novembro. De lá para cá estou na luta atrás de creche para a Yara.”

O casal revela que deixa as filhas – a mais velha, Laura Lohanny Oliveira Basaglia, tem 7 anos (está no 1º ciclo do Ensino Fundamental) – cada hora com um conhecido. “Pagamos pessoas para ficar com elas, coisa que, se você coloca na ponta do lápis, não vale a pena. Meu pagamento é de R$ 1.200, entretanto, R$ 500 vai para mão de colegas que olham as meninas”, explicou Larysse.

Durante as férias, para economizar, a mãe revela que deixou as crianças com o irmão, que tem menos de 18 anos. “Me vejo em desespero. Todo ano novas unidas são abertas, mas minha mais velha, por exemplo, tem 7 anos e não consegui creche para ela quando precisei. Hoje, me vejo em situação pior, já que tenho duas filhas”, explicou Larysse.

O casal questiona ainda as exigências impostas pelas administração para conseguir vaga. “Tem muita mãe que precisa trabalhar e não consegue por falta de creche nas cidades. Precisa dar um jeito nisso.”

Educação Infantil é a etapa mais importante, diz professor
Doutor em Educação, o professor Roger Marchesini, ressalta que a primeira etapa educacional tem de ser vista com novos olhos, já que é a fase mais importante na formação dos pequenos. “É preciso reconhecer que a Educação Infantil é fundamental na vida da criança, já que marca o início dos desenvolvimentos cognitivo, psicológico, social e ético”, explicou.

Também coordenador de pesquisa na área de fracasso escolar, Marchesini ressalta que o investimento municipal tem de ser permanente na Educação. “Seriam necessários investimentos de médio e longo prazo, assim como políticas públicas para que se amplie a quantidade de vagas com crescimento maior do que o da taxa populacional.”

Para o professor, o deficit de postos não pode ser generalizado. Segundo ele, há diferenças em cada um dos municípios, entretanto, é preciso lembrar que “a demanda já vem sendo acumulada em toda a região há anos”.




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