Economia Titulo Desde 2002
Grande ABC perde participação no PIB do Brasil em 15 anos

Queda foi puxada pelo setor industrial, cujas presença e atividade diminuíram nos últimos anos

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
16/12/2018 | 07:16
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André Henriques/DGABC


Em 15 anos, o Grande ABC perdeu participação no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, que representa as somas de todos os bens e riquezas produzidos no País. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a representatividade das sete cidades na totalidade dos dados nacionais diminuiu de 2,64%, em 2002, para 1,78% em 2016, dado mais recente disponível. A participação no Estado de São Paulo também encolheu, de 7,5% para 5,5% no período, de acordo com levantamento realizado pelo Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). Nos dois casos, a queda foi puxada pelo setor industrial, que veio reduzindo consideravelmente sua atividade e presença nas sete cidades ao longo do período.

De acordo com especialistas, as razões vão desde a evasão das fábricas da região – nos últimos anos, tem havido descentralização das empresas do segmento, atraídas para o Interior por vantagens fiscais e gastos menores com terreno, aluguel e salários – até a falta de modernização do parque industrial da região. É importante lembrar que a indústria regional eliminou, entre 2008 e 2015, 16,4% ou 40,9 mil funcionários formais, passando para 208,9 mil trabalhadores. Neste mesmo intervalo, o PIB industrial do Grande ABC caiu 38,1%, conforme estudos do Conjuscs já publicados pelo Diário.

“Há uma série de motivos para esta queda da participação da região em relação ao PIB nacional, entre os quais uma política industrial que pouco apoia efetivamente o setor, o ramo financeiro com lucratividade elevada acima da indústria e a retirada de algumas desonerações do segmento”, afirmou o economista e coordenador do Conjuscs, Jefferson José da Conceição. “Também temos que destacar a própria debilidade do setor industrial, que não se atualizou, apesar de este ser um cenário que vem mudando. Nossas fábricas não conseguiram se inserir nas cadeias globais de valor porque não se modernizaram adequadamente.” Ele pontuou ainda que, nos últimos anos, a crise econômica acabou agravando ainda mais esse cenário.

Prova disso é que, considerando os dados industriais de cada cidade, a maior perda foi em São Bernardo, que diminuiu sua participação no País de 1,52% para 0,71%. A cidade é a que concentra o maior efetivo de indústrias da região, principalmente a automotiva, já que abriga cinco das seis montadoras locais. Apenas Mauá e Ribeirão Pires tiveram aumento na representatividade em 2016 (Rio Grande da Serra se manteve estável). Na região como um todo, o peso das fábricas no PIB passou de 3,81% para 2,11%.

“Na análise de 2015 para 2016, decerto a culpa é da crise. Mas, quando se analisa desde 2002, quando foi iniciada a série histórica, não dá para este ser o principal motivo. Pode ter acontecido um movimento de saída de plantas industriais desta região. Acredito que a perda de participação também pode ter sido impulsionada por alguma mudança no tipo setor, que está com valor agregado menor, ou até mesmo uma redução na capacidade de produção”, afirmou o gerente de contas nacionais do IBGE, Frederico Cunha.

Para o coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, a redução se deve a uma menor atividade industrial. “Até porque quando se fala em PIB, é isso que acaba sendo contabilizado, já que estamos falando das riquezas produzidas. Além disso, passamos por uma recessão muito forte. Considerando que o setor industrial é dependente de mão de obra mais qualificada e emprego formal, a indústria sofre muito mais em tempos de crise como a que nós tivemos nos últimos anos.”


Indústria automotiva tem boas perspectivas para 2019

Carro-chefe no setor industrial da região, a indústria automobilística já projeta melhor produção para 2019. Entre as razões está a efetivação do Rota 2030, programa do governo federal destinado à indústria automotiva, e que começa a valer no próximo ano. As montadoras terão incentivos fiscais de até R$ 1,5 bilhão para cada R$ 5 bilhões investidos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento).

“Também estamos com taxas de juros em linha com a Selic, e esta é uma notícia que pode ter repercussão positiva para a indústria automotiva”, apontou o coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

A Mercedes-Benz já anunciou a contratação de 600 colaboradores temporários para a planta de São Bernardo para 2019. A montadora alemã acredita que, no próximo ano, o mercado de caminhões terá importante expansão. De acordo com dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a produção cresceu 29,7% entre janeiro e novembro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2017, somando 98.097 unidades, enquanto que nos 11 primeiros meses de 2017 foram 75.608.

“Se o novo governo conseguir encaminhar as reformas tributária e previdenciária, vai gerar uma expectativa ainda mais positiva entre os empresários. Isso, no futuro, pode ajudar a alavancar investimentos e, certamente, vai ajudar muito na região”, disse Balistiero.

POR CIDADE - Mesmo fechando 2016 com PIB de R$ 112 bilhões, sendo a primeira vez desde 2012 que o montante não apresentou queda, o Grande ABC já chegou a acumular R$ 120,1 bilhões em riquezas em 2014. “É uma região que continua com peso importante para o Estado e o País”, afirmou o gerente de contas nacionais do IBGE, Frederico Cunha.

São Bernardo é a cidade com maior peso nacionalmente e no Estado em 2016, representando 0,67% e 2,07% respectivamente. Já Rio Grande da Serra é a última, com participação de 0,01% do PIB do Brasil e 0,03% no do Estado.




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