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Em uma década, 9 km² de invasões na Billings
Por Nicolas Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
27/04/2002 | 16:15
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Ao longo de uma década, entre os anos de 1989 e 1999, a bacia hidrográfica da represa Billings teve um aumento de cerca de 9 km² – São Caetano tem 15,4 km² – em áreas ocupadas por habitações, em grande parte clandestinas. Esse é um dos resultados do relatório Billings 2000 – Ameaças e Perspectivas para o Maior Reservatório de Água da Região Metropolitana de São Paulo, que será divulgado oficialmente amanhã pelo ISA (Instituto Socioambiental) e ao qual o Diário teve acesso. Em 1999, 27% dos 582 km² da bacia da Billings eram ocupados por áreas urbanizadas e em vias de urbanização. A expansão urbana em termos absolutos no período foi de 48% – 45% em áreas da bacia que apresentam sérias restrições ambientais e estão mais sujeitas à degradação.

Esses números fazem maior sentido, considerada a agressão à qualidade da água da represa, fruto do aumento da quantidade de esgoto lançado in natura no reservatório e em seus afluentes.

A Billings abastece 1,2 milhão de pessoas que vivem em São Bernardo, Diadema e parte de Santo André. Essa água também é fonte de lazer, transporte e até alimentação, por meio da pesca, para moradores do Grande ABC.

Além da capital, Santo André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra têm parte de seus territórios inseridos na bacia da Billings.

Os cursos d’água existentes na região do Alvarenga, em São Bernardo, por exemplo, tiveram um aumento de 46,9% no ICPH (Índice de Comprometimento da Produção Hídrica), que considera parâmetros como formato da área e quantidade de nascentes. Grosso modo, pode-se afirmar que aumentou em quase 47% a poluição da água nessa área. O ICPH foi desenvolvido pelo ISA em parceria com a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

O estudo apresenta a variação do ICPH para as 146 subbacias da represa. A mais comprometida é a subbacia número seis, na zona Sul da capital – variação do IPCH de 1.409%. Nenhuma das 146 teve melhora na situação – algumas conseguiram manter seus índices.

Mancha urbana – São Bernardo teve o maior crescimento de área na bacia, com 854 hectares, seguida por São Paulo, com 664. A mancha urbana de Ribeirão na bacia aumentou em 229 hectares. Em Santo André, aumentou 216; Rio Grande, 161; e Diadema, 60 hectares.

Santo André teve um aumento de 247% nas áreas urbanas consolidadas, que deixaram de ser compostas por moradias esparsas, em 1989, para se tornar densamente habitadas dez anos depois. Em seguida, vêm São Bernardo, com 70% de aumento; Diadema, com 12,8%; Rio Grande da Serra, com 8,8%; e Ribeirão Pires, com 8,4%. São Paulo teve um aumento de 20% nesse dado.

“Para resolver o problema da água, o poder público precisa ter uma política habitacional séria, além de evitar novas ocupações. É preciso fiscalização e tratamento urbanístico decente para as áreas ocupadas. Não são dez famílias vivendo em área de manancial, são mais de 500 mil pessoas”, disse o professor de Geografia da USP Jurandir Ross, que orientou teses acadêmicas que tiveram a Billings como tema ao longo da última década.

“Essa é uma questão de vontade política. É preciso primeiro fiscalizar com eficiência, impedir novos loteamentos e recuperar as áreas existentes. Não adianta fazer na ordem inversa, como aconteceu na represa Guarapiranga”, afirmou Marussia Whately, uma das coordenadoras da pesquisa.

O relatório utilizou imagens de satélite da bacia, dados censitários e geográficos, tabulados e interpretados ao longo de um ano.




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