Política Titulo EE Filinto Muller
Troca em nome de escola gera conflito em Diadema

EE Filinto Muller, referência a ex-senador ligado a ditaduras, passa a ser Sylvia Esquivel, ex-primeira-dama

Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
23/10/2017 | 07:46
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André Henriques/DGABC


 Tradicional escola pública em Diadema, a EE Senador Filinto Muller, no Centro, será rebatizada como Professora Sylvia Ramos Esquivel. A mudança foi proposta – e aprovada – em meio à onda de alterações nos nomes de prédios e vias públicas que homenageiam figuras políticas do passado que contribuíram com ditaduras que assombraram o Brasil.

Embora Filinto Muller tenha sido um desses personagens, a mudança tem transformado o assunto em verdadeiro Fla-Flu nas redes sociais, envolvendo professores, alunos e ex-estudantes do colégio. A alteração ganhou apoiadores, mas também atraiu opositores que têm se mobilizado para tentar reverter a troca. 

Enquanto os que defendem a mudança sustentam que é necessária a revisão de homenagens a ditadores ou apoiadores de regimes totalitários que promoveram repressão, tortura e ataques às liberdades individuais na história do País, quem é contra alega que a comunidade escolar não foi ouvida sobre a proposta e que a troca vai além da figura do ex-senador. Para os defensores da manutenção do nome do cinquentenário colégio, a nomenclatura Filinto está enraizada na identidade da escola, que expõe o retrato do ex-senador na secretaria do colégio.

Autor do projeto, o ex-deputado estadual Adriano Diogo (PT) assegurou que ouviu a comunidade para propor a alteração. “Entendo que as pessoas achem que essa mudança possa interferir na identidade da escola, mas talvez seja questão de esclarecimento, de conhecer quem foi Filinto Muller. A história evolui e é nossa obrigação fazer a revisão do que aconteceu no País. Alimentar a história dessas figuras não é o melhor caminho.”

Senador por Mato Grosso durante quatro mandatos (1947-1973), Filinto Muller colaborou com duas ditaduras no Brasil. Militar, antes de assumir mandato foi chefe de polícia durante a ditadura de Getúlio Vargas (Estado Novo, 1937-1945). Nesse cargo, ajudou a liderar a caçada à ANL (Aliança Nacional Libertadora), uma frente política antifascista que projetou a deposição de Vargas. Filinto foi acusado de promover prisões arbitrárias e de torturar os prisioneiros. A estreita ligação do homem que há 43 anos dá nome ao colégio diademense com o regime nazista de Adolf Hitler, na Alemanha (1933-1945), é o principal registro de sua aproximação com governos totalitários. Em 1936, Filinto ajudou na deportação da judia-alemã Olga Benário, mulher do militante comunista Luís Carlos Prestes. Ela, mesmo grávida, foi entregue à Alemanha, onde permaneceu por seis anos no campo de concentração e foi executada em uma câmara de gás.

Filinto ainda foi senador, pela Arena, durante a ditadura militar (1964-1985). Ele chegou a ser líder do partido no Senado. Morreu em um acidente aéreo, na França, em 1973, enquanto exercia mandato e acabara de ser eleito presidente da Casa.

Sylvia Ramos Esquivel foi professora em Diadema e defensora da emancipação do município, então distrito de São Bernardo. Foi casada com o primeiro prefeito da cidade, Evandro Caiaffa Esquivel, e lidera a lista de primeiras-damas da cidade.

A diretoria do colégio preferiu não comentar o caso. Na página oficial da escola nas redes sociais, o comando do colégio indica ser contra a troca. A Secretaria Estadual de Educação informou ao Diário que até o fim desta semana a escola estará com o seu nome alterado administrativamente. O próximo passo é a mudança da fachada.




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