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Coletânea faz fusão do
rock com o eletrônico
Por Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
30/01/2011 | 07:00
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Em nenhum momento, os DJs Carlo Dall Anese e Fábio Castro, ambos de 37 anos, disseram: temos um prazo. O deadline era a ansiedade de ouvir a música pronta, pura e simplesmente. Depois de quatro anos de produção orgânica, o disco "Sweetmad" (RC2 Music, R$ 30, 15 faixas) chega às lojas.

"Se tem pressão, não é legal. Não dá para pressionar um artista a terminar um quadro brilhante", posiciona-se o premiado Dall Anese, de São Caetano. E exemplifica: "Não adiantaria colocar 50 ajudantes para Michelangelo terminar o teto da Capela Sistina".

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Na contramão do usual, eles não entraram no estúdio com a intenção de finalizar o álbum em um ou dois meses. Chegando lá, às vezes, não faziam nada. Voltavam, escreviam. "Era um negócio descompromissado", confessa.

NOVO BAIXISTA
Fusão de música eletrônica com rock n' roll, o primeiro álbum da dupla revela outra faceta de Dall Anese. Depois de 22 anos de carreira, o DJ se reinventa como baixista enquanto o parceiro assume voz e guitarra. "O baixo me escolheu total. Se você olhar bem para a formação de uma banda, é claríssimo saber a personalidade de cada um, ligada ao instrumento", afirma.

O músico, que tem espasmos de dedicação, tenta agregar expertise. "Agora, a fase está mais tranquila, mais suave, prazeirosa. Quando eu pego o contrabaixo, eu me divirto mais. Não encano. Está sendo bacana", revela, sem receios.

O gosto já lhe rendeu até uma coleção. "Não sei quem é pior: eu ou o meu filho. Tudo gosto de ter aos montes. Tenho um Taylor acústico. Tenho um Rickenbacker, que é um baixo clássico da segunda fase dos Beatles. Tenho um Rofner, baixo do Paul McCartney que ele usa até hoje", enumera, entre outros tantos.

SWEETMAD
Original, o álbum reúne músicas de tom ora pesado, ora melancólico. Mas a melodia é sempre bonita - contraste este evidenciado no título. "Nossa música tem uma dualidade muito grande. Tem um lado bastante doce (sweet), mas também tem um lado maluco (mad), instável", analisa o guitarrista paulistano Castro. É um mix. Se o nome do disco também se estende ao jeito de ser de cada um, Castro confirma aos risos enquanto Dall Anese prefere guardar mistério e lança: "Talvez".

ESTILOS
Para o baixista, há apenas dois estilos de música: o bom e o ruim. "Nunca me apeguei: sou DJ disso ou nossa música é isso. Hoje em dia, acaba sendo fusão de rock e eletrônico porque o Fábio é um DJ que tem o lado rock mais forte e eu sou um músico que tem o lado DJ mais forte", declara.

Castro talvez encontra resposta para a originalidade da música que produzem. "Esse som que não se parece com nada vem de gêneros que nunca se misturaram tão profundamente assim", defende.

PARCERIA
Autorais, as músicas - na sua maioria - são assinadas em parceria, o que não é fácil, mas essencial para a dupla. "Quando você trabalha sozinho, está livre para fazer tudo o que você quiser e fazer a festa dentro da sua cabeça, o que não necessariamente é bom para a sua carreira".

Para o guitarrista, os pontos de discordância precisam ser trabalhados para atingir lugar melhor. "A parceria é essencial porque, no final das contas, uma pessoa não faz uma música para si. Tem de fazer para os outros. E o seu parceiro é a primeira pessoa".

TENDÊNCIAS
Questionado sobre as tendências da música eletrônica, o DJ de São Caetano afirma: "É zona total, apesar de tudo estar extremamente comercial". Fábio completa: "Eu gosto de pensar que a gente cria essa tendência, na medida que a gente vai tocando. Tem gente que é preocupada em tentar sentir uma tendência e segui-la. E tem gente tocando e essas tendências vão sendo criadas". Os dois concluem que não vão muito atrás disso.

MERCADO
Segundo os músicos, discos também já não são feitos para vender ou divulgar trabalho. "Lembro que não muito tempo atrás a coletânea de uma casa famosa vendia 100 mil cópias. Hoje um artista que vende 20 mil é um top de linha, power", compara. E justifica: "As pessoas põem culpa na pirataria. Também, mas não só". O fato é que a música virou domínio público. "Não é mais um material, um bem tangível, um CD, um vinil. A música está no ar. Qualquer um tem acesso àquilo, saca?", analisa Dall Anese.




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