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Paulista escala jogador com idade adulterada e sai da Copinha

Brendon, na verdade, é Heltton, tem 22 anos e usava documentos de homem preso no Rio

Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
24/01/2017 | 07:00
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Estadão Conteúdo


O Paulista goleou o Batatais por 5 a 1, na semifinal da Copa São Paulo. Mas o talento que sobrou em campo faltou fora. A diretoria do Galo não percebeu que havia usado durante a competição o zagueiro Brendon Matheus Araújo Lima dos Santos com nome e idade falsos, o popular gato (leia abaixo). Na verdade, ele se chama Heltton Matheus Cardoso Rodrigues e tem 22 anos, ou seja, acima do limite de 20. Resultado: o time de Jundiaí foi eliminado e o Batatais é que irá disputar a final contra o Corinthians, amanhã, às 16h, no Pacaembu.

A denúncia partiu de ex-colega de Heltton, que havia atuado com ele no São Gonçalo, do Rio de Janeiro. Ao perceber que ele estava com outro nome, entrou em contato com o presidente do Batatais, André Tofetti, e passou a informação. Antes da semifinal, entre sexta e sábado, o dirigente havia protocolado a denúncia na Federação Paulista.

O presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo, o delegado Olim, explicou a decisão de eliminar o Paulista. “O Batatais nos comunicou sobre a irregularidade. Fizemos o levantamento e descobrimos que Brendon está preso por roubo e tráfico de drogas”, disse ele, que não confirma que o nome real do atleta é Heltton. “Pedimos que o Paulista apresentasse o jogador. Mandaram BO (Boletim de Ocorrência) que ele desapareceu”, explicou Olim. Por enquanto, a única punição ao Paulista é a eliminação da Copa São Paulo. Segundo o regulamento, caso seja comprovado que o clube agiu de má fé, será suspenso por cinco anos de qualquer competição estadual.

Esta não é a única situação de gato no Brasil. Um dos casos mais famosos foi o do atacante Sandro Hiroshi, que fez com que o São Paulo perdesse quatro pontos no Brasileirão de 1999. Anaílson e Leandro Lima, dois ex-jogadores do São Caetano, também adulteram a idade para jogar. Na base do São Paulo, Emerson Sheik – que na verdade se chama Márcio – também alterou nome e data de nascimento em três anos.  

Técnicos da região dizem que buscam histórico escolar em caso de dúvida
 
Treinadores que trabalham com as categorias de base são mais do que orientadores. Precisam ficar atentos aos comportamentos dos jogadores dentro e fora de campo para perceber se tem algo de errado. Dessa forma que os técnicos Ari Mantovani, do sub-20 do Santo André, e Paraná, do sub-15 do São Bernardo, detectam uma possível adulteração de idade.
 
 “Com a experiência você percebe quando um jogador tem mais idade do que o documento mostra. A força física, o comportamento, enfim, se tiver desconfiança recorremos ao histórico escolar que é um documento que pode comprovar a idade real do atleta”, explica Ari. “Dá para perceber algo estranho até na conversa entre os jogadores na concentração. O nível de maturidade é diferente de acordo com a idade. Temos muito cuidado e sempre procuramos o histórico escolar”, endossa Paraná. 

Por que gato?

Popularmente, é chamado de gato no futebol o jogador que adultera a idade, mas de onde vem esta expressão? Segundo o professor e escritor Deonísio Silva, autor do livro De Onde Vêm as Palavras, o apelido surgiu primeiramente entre os agenciadores de trabalhadores rurais antes de chegar ao esporte bretão.
 

 “Animais são usados como apelidos pejorativos. Por exemplo, ‘esse cara é um cachorro’, ‘aquele é um burro’, ‘a outra é uma vaca’, enfim. O gato é conhecido por ser um animal que rouba, principalmente alimentos, daí foi associado àqueles que traziam trabalhadores para trabalhar na área rural, porque eles roubavam os direitos trabalhistas dessas pessoas em benefício próprio. Na década de 1980, com a internacionalização do futebol brasileiro, começou a ser usado esse adjetivo aos jogadores que mentiam a idade para ter mais mercado, sobretudo na Europa”, explica, ao Diário, Deonísio Silva, que lembra que gato também é usado para quem rouba serviços como telefonia, eletricidade e TV a cabo. 


Outra versão para a palavra é do jornalista e pesquisador gaúcho Nilo Dias. Segundo ele, existia um zagueiro que atuava no Sport Recife e tinha apelido de Gato. Certo dia a diretoria da equipe pernambucana descobriu que ele tinha a idade adulterada e, desde então, qualquer outro jogador que aparecia nessa situação logo tinha o Gato como referência.



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