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Estações da CPTM ficam com reforma somente no papel

Prometido desde 2014, projeto que buscava
verba federal foi considerado como insubsistente

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
15/01/2017 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 Quase três anos se passaram desde a promessa do início das obras de reforma e modernização das estações da Linha 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) – em março de 2014 –, e a proposta ainda limita-se à teoria, sequer com previsão de sair do papel. A maior parte do recurso para a ação viria do governo federal, por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Mobilidade, porém, portaria nº 633/2016 de 29 de dezembro, publicada no Diário Oficial da União, declarou “insubsistente seleção de propostas de Mobilidade Urbana, com recursos do OGU (Orçamento Geral da União), ocorridas em caráter de excepcionalidade, no âmbito do PAC”, entre as quais, a de reconstrução das estações da companhia estadual.

Segundo o Ministério das Cidades, diante do atual cenário econômico e das dificuldades que os Estados e as Prefeituras têm enfrentado, foi necessária revisão da carteira de projetos de Mobilidade Urbana. A Pasta afirma que tem articulado com entidades, buscando tratativas que permitam melhorar a gestão dos recursos no setor e que a portaria publicada no mês passado “foi uma das soluções encontradas, pois permite focar os esforços nos empreendimentos que já estão em estágios mais avançados de execução”.

A Linha 10-Turquesa, que liga municípios do Grande ABC à Capital, transporta média de 340 mil usuários por dia útil. Ao todo, os investimentos para modernização de 18 estações, incluindo nove localizadas na região, seriam da ordem de R$ 760 milhões, sendo R$ 590 milhões solicitados à OGU e R$ 170 milhões de contrapartida do Estado.

Com arquitetura moderna, o projeto previa instalação de plataformas totalmente cobertas, escadas rolantes e de todos os itens de acessibilidade (elevadores, rampas, pisos podotáteis e mapas em braille), além de assentos, banheiros públicos comuns e sanitários exclusivos para pessoas portadoras de deficiência.

Hoje, o que se vê são equipamentos que parecem ter parado no tempo, com problemas estruturais e que, em sua maioria, afrontam o direito de ir e vir de quem tem mobilidade reduzida (leia mais ao lado).

De acordo com o órgão federal, os Estados e municípios que tenham avançado no desenvolvimento de seus projetos e que tiveram sua seleção tornada insubsistente poderão ingressar com projetos em estágio mais avançado nas futuras seleções do Ministério das Cidades, que serão necessariamente analisadas”, explica, em nota, acrescentando que, “até o momento, não há previsão de lançamento de novo processo seletivo para empreendimentos de Mobilidade Urbana”.

A CPTM afirma que continuará buscando outras fontes de verba para modernizar as estações, situação que ocorreu para a execução da obra, em andamento, da Linha 13-Jade, que ligará a Capital a Guarulhos. A empresa aguardava do PAC Mobilidade o repasse de R$ 250 milhões para o empreendimento, mas na ausência do recebimento, o trabalho está sendo feito com recursos obtidos junto à AFD (Agência Francesa de Desenvolvimento) e ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A conclusão da obra está prevista para 2018.

 

Usuários relatam dificuldades para acessar serviço na região

 

Pisos quebrados, paredes rachadas, pichações, acessibilidade praticamente nula. Esses são alguns dos principais problemas encontrados nas estações ferroviárias localizadas no Grande ABC.

Na Estação Prefeito Celso Daniel, em Santo André, o piso rachado e um trecho quebrado da plataforma sentido Brás, na Capital, chama a atenção da aposentada Isaltina de Jesus, 75 anos. “Deveria mesmo fazer algo mais moderno, tem muita coisa que precisa arrumar”, afirma.

Na estação Utinga, ainda no município andreense, o teto da área coberta da plataforma apresenta rachaduras, assim como o solo. Na passarela, pichações e grades enferrujadas.

Em São Caetano, infiltrações nas partes cobertas resultam em poça que se forma no chão.

Na histórica estação de Ribeirão Pires, os banheiros necessitam de reforma urgente. No masculino, o vaso sanitário mais parece uma latrina. No feminino, nos dois espaços existentes, as portas estão gastas e, uma delas, sem tranca. Ainda na linha ferroviária da cidade, onde o mora o aposentado Gestal Silva, 54, que se locomove sobre cadeira de rodas, não há escadas, ainda assim, ele consegue adentrar ou sair do espaço sozinho. Mas o mesmo não acontece quando ele utiliza o serviço em outras estações, como a Prefeito Celso Daniel, em Santo André, Mauá e Guapituba, em território mauaense. As escadarias obrigam a ele e outras pessoas com deficiência, a terem de ser carregados por funcionários da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). “É frustrante precisar de uma pessoa para lhe carregar, me incomoda. A gente batalha tanto pela independência e esbarra nesses obstáculos, porque não investem”, reclama Silva, que perdeu os movimentos das pernas há duas décadas, após queda de altura. “Se você não convive (com a deficiência), não percebe a necessidade”, lamenta.

A CPTM afirma que faz manutenção periódica de todas as estações “para que continuem abertas atendendo aos usuários.”




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