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Brasileiros nos EUA ficam em alerta com vitória de Trump

Magnata tem se mostrado intolerante
a imigrantes, principalmente ilegais

Por Vitória Rocha
Especial para o Diário
20/11/2016 | 07:00
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Divulgação


Cenário de incerteza se formou para brasileiros e demais imigrantes que moram nos Estados Unidos depois que o empresário republicano Donald Trump venceu as eleições presidenciais. Desde antes do início da corrida presidencial contra a democrata Hillary Clinton, o magnata tem se mostrado intolerante a imigrantes, principalmente ilegais. O Diário ouviu moradores do Grande ABC e viu que o temor sobre deportação ou perseguição ingressou no cotidiano de brasileiros que buscam melhores condições nos Estados Unidos.

Essa questão assusta a engenheira Marla Stern, 34 anos, de São Caetano, e que mora com o marido e os filhos em Novi, Michigan, há três anos por conta do emprego do companheiro. “Eu particularmente achei péssimo o Trump ter ganhado. Eu estava em negação. Fiquei bem chocada. Não sei como vai ficar o cenário para nós – eu estou aqui com visto – mas aqui em Detroit tem muito imigrante de uma forma geral. Na escola em que meu filho estuda, tem mais imigrantes do que norte-americanos – indianos, brasileiros, chineses.”

Apesar de Hillary Clinton ter recebido maioria dos votos populares, Trump venceu o pleito por ter vencido na maioria dos Estados, uma vez que a eleição nos Estados Unidos é indireta e leva a disputa quem consegue atinge a maioria dos delegados em cada região: 270.

“Acho muito complexo ele ter vencido porque ele defende medidas muito retrógradas quanto a diversidade, especialmente com relação aos imigrantes. Também há política muito protecionista ao contrário do que tem sido feito nos últimos anos (com Barack Obama). Acredito que vão reforçar as leis de imigração e vão ser mais rígidos com os imigrantes ilegais. Eu não acredito que quem esteja aqui legalmente sofrerá algum tipo de sanção. Não dá para falar que o Trump representa a população norte-americana como um todo. Foi votação apertada, mas a maioria da população que pode votar, e isso inclui brancos, negros, latinos, não votou nele. É importante dizer isso porque está se disseminando crença no Brasil que o Trump representa o povo norte-americano e não representa, não é verdade”, avaliou o empresário Bruno Calado Moreira, 35, morador de Minneapolis, Minnesota.

A estudante Letícia Gouvea, 22, que se mudou para Chicago, Illinois, para trabalhar e estudar pelos próximos dois anos também está temerosa – ela estudou na Etec Júlio de Mesquita, em Santo André, e na Fatec em São Caetano. “O Trump ter vencido foi bem complicado para quem é brasileiro ou imigrante aqui porque as pessoas ficaram com um pouco de receio do que pode acontecer. Acho que a questão principal é o conservadorismo que vai dar continuidade a uma política de segregação. Aqui tem gente do mundo inteiro em busca de oportunidades e estudo. O cenário para os imigrantes, principalmente os ilegais, vai ser bem complicado, vai ser difícil de conseguir legalizar alguma coisa. Antes, Obama tinha programas para tentar regularizar a situação dessas pessoas e o Trump prometeu deportar quem está como ilegal.”

Ao contrário dos demais, a relações públicas Ligia Brinkman, 42, moradora do país há 16 anos e hoje residente de Dallas, Texas, apoia o novo governo e critica a forma como a mídia tem abordado os posicionamentos de Trump. “Eu não gosto do Brasil e espero que nunca tenha de morar no País novamente. Eu não votei no Trump nem na Hillary, simplesmente não votei. Aqui o voto não é obrigatório. A Hillary é uma pessoa corrupta e eu não conseguiria votar nela. Acho o Trump extremamente inteligente. Eu não sei se ele é xenofóbico nem racista, mas parece que ele fala coisas assim. Ele percebeu o que o povo queria ouvir. Todo esse ódio, essa intolerância, vem do povo. É horrível saber que existem pessoas assim, mas ele como um bom político percebeu isso.”

Na avaliação do cientista político e professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) Valter Pomar, a situação será, de fato, mais complicada para imigrantes. “O sistema político norte-americano está profundamente dividido sobre o que fazer, o Partido Republicano, ademais o próprio Trump, não parecem ter clareza sobre como agir. Os brasileiros que vivem lá vão sentir o mesmo que os demais latino-americanos que estão nos Estados Unidos: o crescimento do racismo e da perseguição policial. Já para o Brasil, especialmente para a política externa e para a economia brasileira, o que vai acontecer não depende tanto de Trump. Depende da crise internacional e da crise nos Estados Unidos. Na minha opinião, virá muita instabilidade por aí”, apontou. 

Há 1,3 mi de brasileiros que moram na nação

Dentre as promessas de campanha de Donald Trump que mais afetam os brasileiros – e imigrantes no geral – que estão nos Estados Unidos estão a deportação imediata de quem estiver ilegalmente no país e a construção de muro na fronteira com o México, rota usada por brasileiros para ingresso na nação.

O governo do Brasil estima que 1,3 milhão de brasileiros vivam nos Estados Unidos – não há precisão de quantos paulistas nem de quantos são do Grande ABC que tentam a sorte na nação mais poderosa do planeta. Os Estados Unidos são o destino preferido de brasileiros.

Levantamento feito pelo Ministério das Relações Exteriores de 2013 indicou que, desse contingente, cerca de 700 mil estavam nos Estados Unidos sem a documentação correta – ou seja, poderiam ser deportados no futuro governo Trump.




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