Setecidades Titulo Prevenção
Chuva traz angústia a áreas de risco

Ao menos 8.038 famílias moram em locais passíveis
de deslizamento em quatro cidades do Grande ABC

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
13/03/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Se por um lado as chuvas que têm caído nos últimos dias enchem as represas e garantem o abastecimento da população, por outro, trazem medo a quem vive em áreas de risco. Solos e barrancos encharcados, podendo ir abaixo a qualquer momento, preocupam pelo menos 8.038 famílias de quatro cidades da região, sendo 3.007 em Santo André, 1.654 em São Bernardo, 3.000 em Mauá e 377 em Ribeirão Pires.

Diadema não informou o número de habitações nessas condições, Rio Grande da Serra não respondeu e São Caetano não possui áreas de risco.

Em São Bernardo, os locais estão distribuídos em 42 bairros e 130 setores – nenhum deles em situação classificada como de risco muito alto, segundo a Prefeitura. Entre as áreas com maior quantidade de moradias em situação vulnerável está o Areião, onde mora Maria Helena Ferreira da Silva, 59 anos. A casa onde a dona de casa vive com mais quatro pessoas fica ao lado de barranco. Quando o filho comprou a casa, 16 anos atrás, mesmo sendo realização de sonho de ter o próprio lar, o local não agradou. “Quando vi o cenário já tive vontade de ir embora, mas, sem ter para onde ir, não teve jeito”, revela.

Desde então, a cada vez que as nuvens negras tomam o céu, o coração de Maria Helena se enche de temor e angústia, fazendo-se presente até em sonho – ou melhor, pesadelos. “Esses dias, sonhei que minha casa estava enchendo de lama e eu ficava desesperada querendo sair”, conta.

Segundo informações da Defesa Civil, o acumulado de chuva na cidade nos últimos 15 dias é de 166,8 milímetros, índice superior à média do período. O volume médio de precipitação no município para todo o mês de março é de 202,5mm. “Tem chovido demais e o medo só aumenta. Aqui é muito perigoso. Tenho muita vontade de sair daqui”, declara Maria Helena.

Segundo a Prefeitura, a ação de redução de risco na cidade “acontece de formas distintas, predominantemente com obras que eliminam o risco, e não necessariamente retirando as famílias”. Ainda de acordo com a administração, foi promovida ação emergencial no fim de 2009 e início de 2010, que resultou na remoção preventiva de todas as moradias identificadas em situação de risco muito alto ou que poderiam evoluir para este patamar em curto prazo – 1.276 casas de 21 áreas.

Em Santo André – que nas últimas duas semanas registrou 191,2 mm de acumulado de chuvas –, o Morro da Kibon, no bairro Condomínio Maracanã, é uma das áreas críticas. E as moradias não param de expandir, como observa a auxiliar industrial Regilda dos Santos Lima, 41, vizinha do morro há três anos. “Quando vim para cá, não tinha tantas casas, havia bastante mata”, lembra. A situação, somada às constantes tempestades, deixa a munícipe aflita. “São pessoas trabalhadoras, que não têm para onde ir e dependem da ação do poder público. Mas, tudo o que vemos é corrupção no País. E o povo continuando a sofrer”, lamenta.

Na madrugada de sexta-feira, deslizamento de terra deixou ao menos 14 famílias desalojadas no morro da Kibon e outras seis residências instaladas na Rua Leões Andreense foram interditadas. Segundo balanço do Plano Municipal de Redução de Riscos, apresentado em 2015, Santo André já removeu 322 moradias de áreas de risco.

Em Diadema, a Prefeitura afirma que não há casas em situação de risco muito alto. Já nas demais classificações (baixa, média e alta) há 43 pontos com risco de escorregamento.

Em Mauá, a região com maior grau de risco continua sendo o Macuco/Chafik, no Jardim Zaíra, onde em 2011, quatro pessoas morreram após deslizamentos. Em setembro do ano passado, o local ganhou a primeira ETR (Estação Total Robotizada) do País, aparelho que monitora qualquer indício de movimentação de terra. Na madrugada de sexta-feira, o equipamento emitiu dois alertas de grau leve. Os agentes da Defesa Civil foram acionados, mas constataram que não existia perigo e não houve necessidade de remoção de famílias.

 

Prefeituras mantêm projetos para minimizar os problemas

As Prefeituras da região destacam projetos para amenizar a problemática das áreas de risco. Em Santo André, a administração diz que a maioria dos locais classificados como de risco pertencem a núcleos habitacionais, que serão objeto de urbanização ou remoção. São Bernardo diz que estão programadas 19 obras de contenção de encostas – da 2ª Etapa do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) Risco, já licitadas – eliminarão 21 setores de passíveis de deslizamentos.

Diadema informou que as áreas mapeadas como risco em 2012 já possuem projetos habitacionais em andamento. Mauá, prevê a entrega de 196 unidades habitacionais ainda neste ano. Em Ribeirão Pires, a Prefeitura efetuou a retirada de 33 famílias que estavam em alto risco e agora se encontram no programa de aluguel social ou em casa de parentes.  




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