Setecidades Titulo Rede estadual
Salas sem ‘clientela’ são fechadas
Wilson Marini
Da APJ
21/02/2016 | 07:00
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Divulgação:


No fim de janeiro, a 18 dias do retorno às aulas na rede estadual, o desembargador José Renato Nalini, 70 anos, assumiu o desafio de ocupar a vaga deixada por Herman Voorwald, em dezembro, à frente da Secretaria Estadual de Educação. Herman entregou o cargo após o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciar a suspensão da reorganização escolar da rede, que implicaria em fechamento de escolas e remanejamento de alunos. As medidas geraram protestos e ocupação de cerca de 200 instituições.

Apesar da resistência, Nalini assume o cargo convencido da validade pedagógica das mudanças e promete diálogo. Ele recebeu a Rede APJ (Associação Paulista de Jornais), da qual faz parte este jornal, e negou que há reorganização em curso neste ano, mas confirmou fechamento de salas nas quais não há ‘clientela’ de alunos, nas palavras de Nalini. Confira a entrevista abaixo.

O senhor assumiu a Pasta da Educação em momento delicado. O que encontrou, qual o diagnóstico que faz e quais são as prioridades?

É uma ousadia audaciosa sair de 43 anos de magistratura e assumir o enfrentamento de Pasta que é dinâmica, imensa. Como leitor, telespectador e ouvinte de rádio, tinha a noção que 2015 foi ano emblemático, com muitos problemas na Educação. A minha surpresa foi verificar que as avaliações do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar de São Paulo) e do Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) resultaram em feliz constatação de que houve aperfeiçoamento do aprendizado e aprimoramento da qualidade do ensino público de São Paulo.

Com a volta do calendário escolar, a pergunta dos pais é em relação à reorganização, após os episódios do final do ano e a troca de secretário.

A reorganização não foi projeto voluntarioso ou medida tomada de repente. Foi objeto de estudos, discussões, planejamento. Ano a ano estamos verificando que existe redução do número de jovens, segundo a Fundação Seade. Em 2013, tínhamos 7,223 milhões e em 2016 temos 6,908 milhões de alunos. É explicável: a densidade demográfica, a taxa de fecundidade, as pessoas hoje são mais esclarecidas. A mulher paulista, que tinha 4,9 filhos há algumas décadas, hoje tem 1,2. Ninguém vai fazer reorganização compulsória. Foi o que me comprometi a discutir. Se houver escolas que aceitem a reorganização, e há, principalmente baseadas na constatação de que o ciclo único é mais exitoso para o aprendizado do aluno.

Pela resposta, podemos inferir que o senhor avalia a validade da reestruturação e esta será mantida. Muda alguma coisa na estratégia?

Muda muita coisa. Porque se houve resistência da comunidade, a Pasta não vai introduzir reestruturação que seja contra a vontade de todos. Vamos conversar com cada comunidade escolar.

Quem será o interlocutor da Pasta com as comunidades?

Pretendo pessoalmente assumir o compromisso de visitar as escolas onde houve maior resistência, mas em algumas isso pode ser delegado à secretária-adjunta ou chefe de gabinete, que é um especialista em conciliação e mediação. Há supervisores, coordenadores, diretores, uma porção de gente que pode fazer. Vou a todos os 15 polos da Educação levar a mensagem de diálogo, de abertura de um ouvido muito atento e paciente para ouvir os argumentos.

Quando será feita esta série de discussões?

Já começaram, mas as viagens terão início em março.

A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) afirma que 900 classes foram fechadas pela Secretaria neste ano em todo o Estado. Em consequência, os estudantes relatam que as salas de aula estariam superlotadas. Se houve mesmo o fechamento, quais os motivos, e por que não aproveitar o espaço ocioso para dividir as turmas?

Não temos certeza ainda dos números. As aulas começaram ontem. Não podemos dizer que existam 900 salas vazias. O que se pode afirmar é que não houve reorganização branca por parte da secretaria, ambígua. Estamos cumprindo a deliberação do governador que no dia 4 de dezembro suspendeu a reorganização. Pode ter sala que não tenha aluno? Pode. Por essas razões, por não ter clientela. Agora, por que não aproveitar essa alegada superpopulação, overbooking, para preencher estas salas? Porque não coincidem, não é no mesmo prédio, na mesma escola.

As escolas terão autonomia para decidir sobre a reestruturação do ensino?

No momento em que nos propomos a ouvir, vamos colher as manifestações e estabelecer diálogo. Uma descentralização de todas as responsabilidades é um projeto da secretaria. A centralização não é benéfica. A concentração de todos os poderes, orçamentos e decisões não é benéfico. Meu plano, se conseguir, é devolver gradualmente a autonomia às regiões. Cada um vai saber exatamente o que é prioritário. Não há necessidade de ter essa concepção de blindagem, de modelo único, de camisa de força.

Em relação à atração de novos profissionais do magistério, o que o senhor pensa?

Considero o professor verdadeiro herói. Só pudemos alcançar esses resultados satisfatórios porque, a despeito de todas as dificuldades, o professor continua ali quando vê os olhinhos da criança querendo aprender. Eles têm toda a razão em querer ser mais reconhecidos. Sou o maior defensor que o magistério precisa ser bem remunerado. São Paulo, se não tivesse um governo austero, estaria na mesma situação de outros estados que parcelaram salários, que deixaram de pagar a folha completa e que estão encerrando serviços essenciais. Estamos cumprindo com a nossa obrigação. Podemos reduzir o custeio. Gastamos muito para manter a máquina. Há despesas que podem ser repensadas e pode haver economia e havendo economia, a gente faz a migração dessa verba para remunerar os professores. Talvez não o reajuste que seria necessário, mas alguma compensação, gratificação.  




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