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Sonia Ebling: vida, força e beleza
Por Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
21/03/2004 | 17:09
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“Digo sempre: uma obra é um retrato do artista, que quanto mais se divide mais se multiplica”. Essas são palavras da escultora gaúcha Sonia Ebling, 85 anos, que ganha nesta semana uma retrospectiva de sua carreira, na galeria paulistana Nova André. A mulher é um tema recorrente em sua obra. “Ela se retrata o tempo todo. Sua arte é seu reflexo”, afirma o curador da mostra Carlos von Schmidt.

A exposição conta com esculturas produzidas desde a década de 1940. A mais recente é a Claridade, de 2001. “Sonia continua trabalhando, principalmente com argila”, afirma o curador. A artista mora no Rio e, apesar de ainda em atividade, sua presença na mostra não deve ocorrer, por causa de “problemas físicos”.

A mostra, batizada de Sua Obra Sua Vida, abre nesta terça para convidados e no dia seguinte para visitação. Fica em cartaz até 10 de abril, com as 49 obras à venda – os preços variam de R$ 3,2 mil a R$ 210 mil. Luiza é a mais cara, e Diana, a mais alta (2,4m).

A trajetória de Sonia Ebling tem um marco facilmente identificável: a arte se sobrepõe ao preconceito. Era 1935, quando a menina do interior do Rio Grande do Sul, de 17 anos, decidiu ser escultora. Passeava pelo Rio e viu pela primeira vez um ateliê, era do escultor Humberto Cozzo. “Entrei, olhei e foi fulminante: ‘é isso que quero ser e vou ser‘“, escreve Sonia, no catálogo da mostra.

A empolgação logo se transformou em frustração. “A escultura era vista como coisa de macho, pois demanda fundição e trabalho com fogo, metal pesado”, afirma Schmidt. Teve de enfrentar os pais e a discriminação até de professores de arte. A artista conta que se sentiu “rejeitada” ao ouvir frases do tipo: “você é muito jovem e franzina, vai para a pintura”.

Formou-se em pintura, mas persistiu em seu objetivo. Em 1951, fez a escultura Adolescentes e se inscreveu pela primeira vez na Bienal Internacional de São Paulo. “Lembro-me que sequei o gesso com secador de cabelo, era preciso, a data de entrega se esgotava. A resposta veio por telegrama. Fui aceita”.

Adolescentes (feita em bronze, com altura de 78cm) está na exposição. A obra representa duas jovens – ingênuas, segundo a autora – em pose descontraída. A figura feminina volta a ser retratada, e muitas vezes. Se na época de Sonia a mulher tinha uma liberdade limitada, em sua arte ela pôde ser despojada, carinhosa, sensual, independente. Com personalidade, superou o preconceito.

Nomes como Rosália, Eleonora, Alberta, Marcela, Arminda e Juliana dão título às obras. Em muitas delas, a personagem está acompanhada de uma pomba. Seria uma homenagem ao ex-marido. Uma escultura em mármore, da década de 1960, é o auto-retrato da artista intitulado Sofia. “Não ousei chamá-la de Sonia, era uma figura nua”, escreve a autora.

O curador lembra a diferença de costumes entre aos anos 1940 e atualmente. “Hoje, a liberdade é absoluta. Naquela época, havia outra medida, era deselegante não usar chapéu”, diz Schmidt.

A retrospectiva traz outra faceta de Sonia Ebling. São os animais: Cabra, Elefante, Girafa, Leopardo, Rinoceronte e Hipopótamo, com alturas que variam de 25cm a 103cm.

A única falta, segundo o próprio curador, é o período abstrato de Sonia. “Quando ela voltou de Paris, em 1970, começou a produzir relevos abstratos, mas ela não tem mais nenhuma dessas obras. Uma delas, de 3m, está no Palácio dos Arcos, em Brasília”, afirma Schmidt.

A artista foi para a capital da França em 1955, quando ganhou o Prêmio Viagem à Europa, no Salão de Arte Moderna do Rio. Este foi um de seus inúmeros prêmios.

Em Paris, teve a oportunidade de estudar com o escultor russo Ossip Zadkine (1890-1967), de quem sofreu forte influência. “Acredito que seja ele seu grande mestre”, diz o curador.

Sua Obra Sua Vida – Exposição de esculturas de Sonia Ebling. Abertura na terça-feira, para convidados. Visitação, a partir do dia 24: de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h; e sábados, das 10h às 14h. Na Nova André Galeria – alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1.753, São Paulo. Tel.: 3064-2242. Entrada franca. Até 10 de abril.




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