Em "Canto de Outono", os atores utilizam apenas dois textos: o poema de Charles Baudelaire que dá nome ao espetáculo e um trecho da "Divina Comédia", de Dante Alighieri. Assim, a narrativa apóia-se fundamentalmente no trabalho dos atores e nas imagens que o elenco vai construindo com os poucos elementos de cena, como três escadas e um baú. "Mallet é um especialista na linguagem de clowns", diz Crepaldi. Como nos autos medievais, nao há personagens construídos psicologicamente, mas simbolicamente. "A tensao entre carnalidade e espiritualidade está no cerne do espetáculo, da mesma forma que os autos contrapunham os anseios terrenos e celestes", compara o ator.
Um casal protagoniza a peça e sobre eles caem as tentaçoes do mundo contemporâneo, seja a da busca do conhecimento ilimitado, como em "Fausto", seja do enriquecimento. "O espetáculo mostra que no mundo contemporâneo o homem faz pouquíssimas escolhas", diz Crepaldi. Por mais que deseje tomar as rédeas de sua vida, o casal é conduzido e age de acordo com a manipulaçao de seus desejos. "Alguns talvez considerem o espetáculo pessimista na sua visao de mundo, mas eu o vejo como realista e, além disso, ele tem um final feliz", adianta.
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