Até o prefeito de uma das cidades do Grande ABC foi homenageado sábado pela manhã, durante a malhação de judas, tradição popular que acontece no Sábado de Aleluia. Em Mauá, alguns moradores do Jardim Guapituba aproveitaram a data religiosa para reivindicar asfalto em rua, canalização, limpeza de mato e segurança no bairro. Em Santo André, o judas feito por um comerciante da rua Coronel Fernando Prestes, no Centro, serviu de diversão para uns poucos meninos. Independentemente do motivo, porém, os bonecos tiveram o mesmo fim: foram queimados, para alegria da garotada.

Moradores da rua Cícero de Campos Póvoa, do Jardim Guapituba, escolheram a figura do prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, para malhar pontualmente ao meio-dia de ontem. Em uma das pernas do boneco trazia a palavra IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), repúdio da população pelo aumento de mais de 100% no tributo; e na outra, o nome do chefe do Executivo.

“O prefeito foi malhado hoje (ontem), porque votamos nele e ele nos traiu. Veja a situação que está isto. Virou depósito de defunto”, disse a dona de casa Izilda Biazoto Pires, 49 anos, moradora há 19 anos no bairro, referindo-se ao mau cheiro da continuação da rua Cícero de Campos Póvoa, que não tem pavimentação e rede de esgoto. “Ratos, mato e até gente morta já foi encontrada aqui”, afirmou a estudante Caroline Vieira, 14 anos, que pela primeira vez malhou o judas. “Sei que Judas traiu Jesus, por isso estamos malhando ele (Oswaldo Dias).”

Segundo os moradores, o local – que não é pavimentado – serve diariamente de acesso à estação de trem do Jardim Guapituba para a população do Jardim Camila. “Os carros também trafegam aqui”, disse o aposentado Edvard Veira, 48 anos, morador há 23 anos nas proximidades. Segundo a dona de casa Roseana da Silva, 28, que costuma passar freqüentemente pela viela com seus dois filhos, em dias de chuva o local fica “intransitável”.

Desânimo – Em Santo André, a tradicional malhação do judas no Sábado de Aleluia não chegou a empolgar os mais jovens. O comerciante Wanderley Vicente Ferreira, 47 anos, confeccionou o boneco, como faz há 39 anos, e o pendurou em um poste da rua Coronel Fernando Prestes, no Centro. “A criançada de hoje não quer mais saber da brincadeira. Quando era moleque, a gente se divertia com a malhação”, disse.

Ferreira teve de chamar algumas crianças da vizinhança para malhar o boneco. Por fim, o comerciante reuniu oito crianças, entre vizinhos e outras que circulavam pelo local, e todos se divertiram com a brincadeira – principalmente o autor do boneco. “Nunca tinha malhado judas, mas achei bem legal”, disse o estudante Edílson José Pereira, 15 anos.

Na avenida Prestes Maia, em frente à favela Tamarutaca, o judas ficou esquecido no canteiro central da via. Ninguém se animou a começar a malhação. Os moradores não souberam informar quem havia feito o boneco.