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Associação ensina judô para todas as idades no Jardim Haydee, em Mauá

Família japonesa ministra aulas do esporte durante a semana e também participa de torneios

Por Renato Cunha
Especial para o Diário
28/02/2015 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


A Associação Judô Mauá está localizada na Rua Santa Barbara d’Oeste, 48, Jardim Haydee, há 15 anos, quando foi construída a sede do ginásio do esporte. Os responsáveis por ensinar a arte marcial para a comunidade são os integrantes da família Okada, vindos do Japão no século 20.

O patriarca da associação é o mestre Kaor Okada, 76 anos, que veio do país nipônico nos anos 1940. “Cheguei ao Brasil em 1947. A gente morava em uma colônia japonesa e trabalhava nas fazendas. Tinha 7 anos na época e aprendi judô com um mestre de lá”, recorda.

Okada também comenta sobre as dificuldades que teve com a adaptação à cultura brasileira. “Foi muito difícil. Até os 25 anos, não falava nenhuma palavra em Português. Para me comunicar era impossível, porque a língua é muito diferente.”

As aulas de judô são ministradas pelos filhos do patriarca, Márcio Okada, 33, e Adilson Okada, 32. Márcio explica que o esporte é importante para a formação do cidadão. “O judô foi escolhido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como o esporte que mais ajuda na formação disciplinar da criança. Aqui seguimos os ensinamentos clássicos da arte. Os benefícios são vários. Além da condição física, que melhora bastante, as crianças aprendem respeito, disciplina.”

Márcio relata que a vizinhança, na época da construção da associação, desaprovava a ideia. “Os vizinhos pensavam que a gente iria fazer bagunça ou coisas do tipo. Mas, depois que viram que a ideia era séria, ficou tudo bem. Porém, quando levantamos o primeiro muro, ameaçaram até derrubar. Como disse, depois tudo se resolveu e hoje em dia eles ajudam a cuidar do espaço.”

Cerca de 250 pessoas praticam o esporte no local e as aulas na Associação Judô de Mauá são para crianças a partir de 4 anos, sem limite de idade. A família Okada está no local de segunda, quarta, quinta e sexta-feira, nos três períodos do dia. Para se inscrever, é só comparecer e procurar o professor Márcio Okada.

Bairro tem espaço para deficientes auditivos

O Jardim Haydee abriga na Rua Santo André, 255, a Apasma (Associação de Pais e Amigos dos Surdos de Mauá), que atende cerca de 150 pessoas com a deficiência. O grupo oferece curso de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para surdos e suas famílias, além de fazer trabalhos com a comunidade.

A coordenadora da associação, Benedita Barbosa, explica um pouco sobre o trabalho realizado no espaço. “Fazemos todo o atendimento da pessoa deficiente auditiva, desde o acompanhamento de audiometria até o psicológico e social”, afirma. Benedita descreve a emoção de trabalhar na associação. “O que faço é, acima de tudo, prazeroso. Tenho um filho deficiente e a gente sabe da dificuldade que é. Hoje, vendo tudo isso, tenho certeza que vale a pena. Faria tudo o que fiz de novo.”

A presidente e fundadora da Apasma, Deise Della Santa Pereira, também relata um pouco da história do espaço e o porquê de ter lutado tanto pelo lugar. “Tenho uma filha com deficiência auditiva. Ela teve meningite quando era criança e perdeu a audição. Foi então que percebi que não tinha nenhum local onde eu pudesse levá-la para fazer acompanhamento. Na época, fonoaudiólogo era muito caro, não tinha condições de pagar”, conta.

Deise explica que ajudar as pessoas que têm a deficiência é de extrema importância porque, muitas vezes, elas se sentem deslocados no mundo. “A gente faz o possível para ajudá-los a enxergar o mundo. Eles são como estrangeiros dentro da própria casa. Não conseguem se comunicar com a família e acabam ficando desligados do mundo.”

Segundo a presidente, a associação procura parcerias para melhorar a condição do atendimento. “Buscamos parceiros como empresas da região para que a gente melhore a qualidade do serviço prestado. A gente faz a ponte entre o deficiente e a empresa. Sempre recebemos currículos e repassamos.”

A Apasma realiza hoje, a partir das 9h, a festa do sorvete, a fim de arrecadar dinheiro para a associação. “O evento é aberto para a comunidade e convidamos todos a participar”, comenta Deise.

Para relembrar histórias, bar tem encontro de amigos e samba

O bairro mauaense já abrigou a Associação Esportiva Jardim Haydee, clube de futebol que hoje não existe mais. Um dos fundadores do time, Osni Cardenuto, 57 anos, conhecido como Nequinha, lembra que antigamente tinha muito espaço para praticar o esporte. “Aqui era tudo barro, carro não passava. Então, tinham vários campinhos que a gente fazia quando era moleque e, em 1974, fundamos o time. Mas os colegas foram morrendo e o clube foi junto.”

Além de Nequinha, outros vizinhos se reúnem para fazer samba de raiz em uma padaria do bairro. Um dos músicos, Paulo José dos Santos, 45 anos, o Paulinho, relata que a música acaba sendo uma diversão dos vizinhos. “Funciona como um encontro de amigos. A gente faz uma feijoada e toca um samba de raiz e MPB também. Vem gente de várias cidades aqui do Grande ABC.”

O bairro também contava com uma corrida de rua para crianças, organizada pelos vizinhos e apelidada de São Silvestrinha. Um dos organizadores, Antônio Carlos Guirro, 51, explica que era uma integração importante. “Era muito legal. A gente colocava as crianças para participar, mas acabava correndo também. Infelizmente acabou por falta de patrocínio.” 




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