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'Samwaad' promove encontro de culturas em Santo André
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
12/08/2004 | 02:45
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  Samba e choro compõem com acordes indianos um cenário que remete a 2 mil anos atrás, no qual 55 jovens bailarinos oriundos de sete ONGs que atuam principalmente na periferia de São Paulo dançam usando pinturas tribais africanas. Essa intersecção de culturas se manifesta em música e dança em Samwaad – Rua do Encontro, espetáculo concebido e dirigido pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo que estréia sexta no Sesc Santo André onde fica até setembro, depois de cumprida temporada inicial no Sesc Belenzinho de março até 1º de agosto.

O palco é representado por uma rua com 20 metros de extensão, cenário onde ocorrem esses múltiplos encontros de identidades, linguagens e gestual, de diferentes culturas, mas com canais abertos de comunicação. “O público é pego de surpresa. Esse jovens trabalharam com coisas que não eram de seu conhecimento próprio, oriundo da periferia. Não se vê um corpo indiano, mas um brasileiro. A essência de nossa mistura racial aparece subjacente, na sonoridade e no corpo”, diz Bertazzo.

A música baseada em escrituras sagradas do hinduísmo, que falam de iluminação e de entendimento, se integra ao compasso marcado do samba comandado pelo maestro Rafael Y. Castro, com ritmistas ao vivo. O animal sagrado para os hindus serve seu couro para o tamborim, que vibra junto à cítara indiana, instrumento ritual que a música pop pagã ocidental adotou.

Os ritmistas fazem soar instrumentos pouco convencionais como o vibrafone e o ocean drum, enquanto a cantora e dançarina Sawani Mudgal dança o choro Santa Morena, de Jacob do Bandolim, numa coreografia exclusiva criada por Madhavi Mudgal, uma das principais bailarinas indianas. Um casal de jovens passistas reforça os elos culturais com um toque de brasilidade.

O figurino de Chico Spinosa inspira-se em pinturas tribais africanas e tatuagens indianas, relidas para as “tribos” urbanas. Tecidos rústicos, criados para o projeto, estampas camufladas e com toque de envelhecimento, compõem o visual no palco, que recebe detalhes com elementos orientais do artista plástico Sergio Niculitcheff, e iluminação de Davi de Brito.

A trilha gravada faz a fusão do popular com a tradição indiana clássica. Eram 35 instrumentistas de escolas de samba de São Paulo mais o quarteto indiano Gandharva Mahavidyalaya, dirigido pelo maestro Madhup Mudgal. Benjamim Taubkin, ao piano, e João Taubkin, no contrabaixo, foram os convidados.

Bertazzo encontrou seu elenco entre jovens que jogavam capoeira, dançavam ritmos afros, e faziam dança de rua e hip hop nas comunidades onde vivem. “Como a arte pode transformar um jovem? Na periferia, eles demonstram ter vocabulário limitado, assistem a programas medíocres na TV, ouvem músicas de pouca qualidade. Com esse trabalho, ocorre uma somatória de coisas em suas vidas e eles se envolvem no aprendizado de coisas mais complexas. Basta ter paciência e método de ensino. Não se trata de um trabalho assistencialista. Eles voltam para suas comunidades e devolvem o conhecimento adquirido”, disse Bertazzo.

Nos ensaios tiveram aulas circenses, de origami e de lingüística, além das coreografias. A trajetória do coreógrafo com trabalhos como esse vem de três anos atuando com jovens do Complexo da Maré, no Rio, que resultaram no espetáculo Dança das Marés.

Samwaad – Rua do Encontro – Dança. Concepção e direção Ivaldo Bertazzo. Sexta e sábado, às 20h30. Domingo, às 19h30. De sexta a domingo até 5/9. No Espaço de Eventos do Sesc Santo André – r. Tamarutaca, 302, Santo André. Tel.: 0800-118220, 4469-1250 e 4469-1251. Ingr.: de R$ 5 a R$ 14.




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