O anúncio do prefeito José Auricchio Júnior de que permanecerá no PTB, partido pelo qual se elegeu, não desanimou o PSDB. O vice-coordenador do Conselho Executivo tucano no Grande ABC, Cláudio Demambro, alega que não desistirá de atrair José Auricchio para baixo da asa tucana. Mais ainda, revelou que o esforço não será somente do diretório municipal do PSDB.

“Vamos envolver o partido inteiro no Grande ABC para convidá-lo”, afirma Demambro, que assumiu o DAE (Departamento de Água e Esgoto) há pouco tempo. O tucano já agendou reunião da coordenadoria do PSDB na região para a próxima semana a fim de estabelecer estratégia para fazer o prefeito mudar de partido. Em seguida, será a vez de força-tarefa tucana tentar marcar reunião com José Auricchio. O objetivo é claro: “estamos trabalhando para trazer para o PSDB de São Caetano o homem público mais importante do Grande ABC”, confirma Demambro.

Demambro tem carta branca do presidente do PSDB de São Caetano, Honório do Carmo Neto, para convocar a reunião que estabelecerá estratégias para fazer o prefeito de São Caetano mudar de idéia. “Já tem até alguns convocados”, revela. Mais prudente, o dirigente do PSDB municipal disse respeitar a decisão do dirigente do Palácio da Cerâmica. “Se a posição dele é de ficar no PTB, não tem como, respeitamos”, desconversa. O presidente do PSDB estadual, deputado federal Antônio Carlos Pannunzio, não foi localizado quarta-feira para falar sobre a nova reinvestida sobre José Auricchio. O parlamentar já havia dito que esse tipo de decisão fica a cargo das lideranças regionais do PSDB.

Fico – Na última terça-feira, José Auricchio afirmou que não sairá do PTB. “Estou firme no PTB e tenho total disposição em continuar nos quadros do partido”, garantiu, após reunião com grupo liderado pelo vice-presidente nacional do PTB, o deputado estadual Campos Machado. O parlamentar esteve no gabinete de Auricchio para demovê-lo da decisão de deixar a legenda rumo ao ninho tucano. “A permanência dele no PTB é uma questão de honra para mim e para o partido”, enfatizou o parlamentar, que saiu do Palácio da Cerâmica convencido de que o prefeito não mudará de legenda.

Há mais de um mês, em entrevista ao Diário, o assessor especial do gabinete de José Auricchio, Antônio Dall´Anese, recomendou aos líderes do PSDB que convidassem formalmente o prefeito para participar de reunião no diretório municipal. Considerado um dos articuladores da mudança de José Auricchio para o PSDB, Dall´Anese não participou do encontro de terça-feira entre o prefeito e a força-tarefa petebista. “Fiquei sabendo da decisão dele (de permanecer no PTB) pelo Diário”, disse quarta-feira, ao ser procurado pela reportagem.

Cláudio Demambro afirmou que tanto ele quanto Dall´Anese continuam empregados na administração municipal. “Cada vez mais firmes e fortes,” acrescenta.

Valorizado – “Auricchio é hoje uma estrela do PTB e será assim em 2006, 2008, 2010 e 2012. A história dele vai se confundir com a própria história do PTB”, garantiu Campos Machado. O vice-coordenador do PSDB no Grande ABC, Cláudio Demambro, não se abalou com as declarações originados do encontro entre José Auricchio e os petebistas. “É normal o vai-e-vem de pessoas em um processo como este”, minimiza. O tucano lembra que integra o PSDB desde a fundação da legenda na cidade e que está acostumado com a disputa por nomes fortes pelos partido.

Não por acaso o passe de José Auricchio é cobiçado por diversos partidos. Cidade com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, São Caetano é vitrine e tanto para qualquer legenda. Com a decisão de permanecer no PTB, o prefeito cacifa-se perante a Executiva nacional do partido e influenciará nas eleições de 2006 para deputados federal e estadual. Por isso, e pela atuação no Executivo sulsancaetanense, o dirigente é elogiado pelas duas siglas que hoje o disputam.

“Conheço Auricchio pessoalmente. Ele é o homem público mais importante da região na minha avaliação. Institutos de pesquisa comprovam isso”, elogia o vice-coordenador do PSDB regional, Cláudio Demambro. Para o vice-presidente do PTB nacional, Campos Machado, “Auricchio é um orgulho do PTB e tem os mesmos sonhos e ideais que eu.” Para Machado, o assédio tucano é legítimo. “Mas acontece que São Caetano tem tradição petebista”, apontou.

Negociações – As conversas entre o partido do governador Geraldo Alckmin e o prefeito têm acontecido desde o início do mandato de José Auricchio. Em janeiro, ele recebeu Alckmin e o prefeito de São Paulo, José Serra, durante anúncio da reconstrução da ponte que liga as ruas São Paulo, em São Caetano, e Barbinos, em São Paulo. Extra-oficialmente, Serra já havia comparecido ao estádio Anacleto Campanella para assistir à partida entre o São Caetano e o Palmeiras. Também em janeiro, Auricchio recebeu o vereador da capital José Anibal. “Para nós é satisfatório pode tê-lo como interlocutor no campo administrativo e político”, argumentara Anibal na época.

O prefeito de São Caetano confirma as conversas com tucanos, que ele define como “conversa, no sentido de diálogo”. “É importante estar permanentemente aberto a todos segmentos políticos, sobretudo quem quer construir pela cidade.” Auricchio pondera ainda que tem “obrigação, até como homem público, de conversar com todos os segmentos”.

Sem tutela – O dirigente do Palácio da Cerâmica mostra dia-a-dia sua independência perante o grupo que o ajudou a ser eleito em outubro do ano passado. Logo no início da gestão, em janeiro, fez substituições em vários postos dentro do primeiro escalão. Afastou assessores ligados ao grupo político do prefeito Luiz Tortorello, morto em dezembro de 2004, e os substituiu por servidores e técnicos de carreira. No início de março exonerou Antonio de Pádua Tortorello, irmão do prefeito morto, e também a secretária de Finanças, Maria Carmem Gonzales Reys Campos. As duas demissões serviram de marco para a cisão entre Auricchio e o antigo grupo que comandava o Paço Municipal há mais de 20 anos.